A mais comum entre todas as enfermidades
psiquiátricas pode ser evitada com tratamento e controle do stress.
CHICO
VIGILANTE22 DE OUTUBRO DE 2012 ÀS 05h35min
Quatrocentos milhões de pessoas no
mundo e 13 milhões no Brasil sofrem de depressão. Com causas ainda não
totalmente esclarecidas, o mais assustador a respeito desta doença é que depois
do primeiro episódio a probabilidade de ocorrer outro é de 50%; depois do
segundo o risco sobe para 75%; e após o terceiro período a chance de que ele se
repita pula para 90%. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a depressão
causa 850 mil suicídios por ano em todo o mundo. Tudo parece indicar que algum
mecanismo no cérebro faz com que estes momentos fiquem gravados e tendam a se
repetir com mais freqüência, a cada novo incidente. Como todos nós estamos
passíveis de passar por isso o importante então é prevenir para que não ocorram
períodos de depressão, e, no caso de acontecer, fazer com que tenham a menor
duração possível. A grande pergunta é: como fazer isso? Como nós cidadãos
comuns vamos distinguir a tristeza por uma perda de amigos ou familiares, ou
por uma grande decepção amorosa, daquela tristeza sem fim que toma conta de
algumas pessoas fazendo com que a vida, o sol, ou uma noite estrelada não
represente mais nenhuma beleza? Se você sente isso procure o mais rápido possível
um médico, um psicanalista, um psiquiatra. Eles podem te ajudar. Quadro muito
diferente do entristecer passageiro ligado aos fatos comuns da vida, a
depressão é uma doença potencialmente grave que interfere no sono, no
apetite, na vida sexual, no trabalho. Está associada a altos índices de
mortalidade por complicações clínicas ou suicídio. Necessitamos olhar pra seus
sintomas com atenção e estar sempre atentos a novas pesquisas que iluminam o
assunto. Há quatro décadas acredita-se que a causa da depressão estava ligada a
uma queda da produção de substâncias no cérebro que agem na transmissão de
sinais entre os neurônios, os neurotransmissores, entre os quais a serotonina
exerceria o papel principal. O fato de que medicamento usado para aumentar as
concentrações de serotonina no cérebro beneficiou grande número de pacientes
reforçou esta tese. Nos últimos dez anos, no entanto, a hipótese dos níveis
inadequados de serotonina passou a ser cada vez mais contestada. O principal
argumento Contrário a ela foi o de que nunca foi possível demonstrar
deficiência de serotonina no cérebro de pacientes deprimidos. Uma reportagem
sobre o assunto publicada recentemente pela Revista Science me chamou a
atenção. Ela traz uma discussão sobre o conjunto de idéias mais aceitas
atualmente para explicar a depressão: a hipótese do estresse. Segundo essa
teoria, em resposta aos estímulos agressivos do ambiente, o hipotálamo produz
um hormônio (CRF) para convencer a hipófise a mandar ordem para as supra-renais
produzirem cortisol e outros derivados da cortisona. Diversos trabalhos
experimentais mostraram que esses hormônios do estresse (CRF, cortisol e
outros) prejudicam a saúde dos neurônios, porque modificam a composição química
do meio em que essas células exercem suas funções. A persistência do estresse
altera de tal forma a arquitetura dos circuitos neuronais que chega a modificar
a própria anatomia cerebral. Por exemplo, provoca redução das dimensões do
hipocampo, estrutura envolvida na memória, e área fundamental para a ação das
drogas antidepressivas. Pesquisadores da Universidade de Emery, em Atlanta,
demonstraram a existência de períodos críticos na infância em que sofrer
violência física, abuso sexual, ausência de cuidados maternos e outros tipos de
estresse emocional podem conduzir à hipersecreção de CFR no hipotálamo, com
conseqüente liberação de cortisol pelas supra-renais, alterações associadas à
depressão na vida adulta. Os pesquisadores concluíram que muitas das alterações
neurobioquímicas encontradas na depressão do adulto podem ser explicadas pelo
estresse ocorrido em fases precoces da infância. No estudo clínico realizado em
Atlanta, 45% dos adultos com quadros depressivos de pelos menos dois anos de
duração haviam sido abusados, negligenciados ou sofrido perda dos pais na
infância. Outro achado importante para definir o papel dos hormônios do
estresse foi à demonstração recente de que a injeção de CRF diretamente no
cérebro de animais de laboratório induz o aparecimento de quadros típicos de
depressão e de distúrbios de ansiedade, sugerindo que depressão e ansiedade
tenham mecanismos comuns e possam ser induzidas por fatores semelhantes. Talvez
seja essa a justificativa para a maioria das pessoas com depressão na vida
adulta relatar ter tido personalidade hiper-ansiosa na infância e adolescência.
Neurocientistas famosos defendem a teoria de que o mecanismo através do qual o
estresse induziria a depressão estaria ligado ao hipocampo: os hormônios do
estresse suprimiriam o nascimento de novos neurônios nessa estrutura crucial
para o processamento da memória. Tal suspeita ganhou ímpeto especialmente
depois da publicação meses atrás de uma descoberta inesperada: depois de duas
ou três semanas de tratamento com drogas antidepressivas começam a nascerem
novos neurônios no hipocampo (neurogênese). Esse achado explicaria também por
que, apesar dos antidepressivos elevarem imediatamente os níveis cerebrais de
serotonina, sua ação benéfica só se manifesta semanas mais tarde. Estudo do
desenho dos circuitos cerebrais envolvidos na depressão nos últimos dez anos
provocou uma série de ensaios terapêuticos com drogas de ação muito diferentes
das atuais. Devemos estar atentos e torcer para que cada vez mais políticas
públicas se voltem para sistematizar pesquisas e incentivar novos tratamentos
pelo sistema público de saúde que possam revolucionar o tratamento da mais
comum de todas as enfermidades psiquiátricas. “Dep. Chico Vigilante Líder do
Bloco PT”
Fonte: http://www.brasil247.com
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