21
de abril de 2013
|http://aspta.org.br/2013/04/moradores-do-campo-e-da-cidade-se-mobilizam-pelo-fim-da-violencia-em-massaranduba-pb
O dia 19 de abril,
agricultoras e agricultores, professores e estudantes, moradores de Massaranduba-Pb
caminharam pelas ruas da cidade pelo fim da violência. Com cartazes na mão e a
cara pintada, a população do campo e da cidade mostrou-se unida em busca da
paz. A passeata teve seu ponto final no Salão Paroquial onde aconteceu uma
Audiência Pública para debater o tema com a presença do Deputado Estadual Frei
Anastácio (PT-PB), do Comandante do 10º Batalhão da Polícia Militar, Ysmar
Soares, da Prefeita Joana D´arc, da Vice-prefeita Maria Rogério, vereadores,
Igreja Católica, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Pólo da Borborema e
presidentes das associações comunitárias do município. A mobilização e a
audiência nasceram partir da participação do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais, de diversas associações comunitárias e da Igreja Católica no Conselho
Municipal de Desenvolvimento Rural, espaços aonde chegam os relatos e os dados
da situação de violência no campo. Em que pese o crescente aumento das ações de
fortalecimento de uma agricultura familiar agro ecológica no município, a cada
dia o fenômeno da violência rural vem se constituindo uma forte barreira para
sua reprodução. “Temos várias ações no município que vem fortalecendo a
agricultura como a rearborização das propriedades, a construção e a democratização do acesso a água de beber e
de produzir, entre outras. Mas a gente vem sentindo a violência afligindo a
vida do homem e da mulher do campo cada vez mais. São assaltos, violência
física, agricultores que quando vendem seus animais pela manhã, a noite são
vítimas de assaltos. E isso vem tirando as pessoas do campo, as pessoas que tem
uma história lá na comunidade”, explica Maria Leônia Soares, Presidente do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Massaranduba e do Conselho de
Desenvolvimento Rural. Esse fenômeno, contudo, não é exclusiva de Massaranduba,
a interiorização da violência vem se repetindo em vários municípios da região
da Borborema. Remígio, Arara, Alagoa Nova, Lagoa Seca já são conhecidos pelo
elevado índice de criminalidade. E na região, a violência vem se configurando
como um dos principais motivos de migração da população do campo para a cidade.
A violência vem roubando bens materiais das famílias agricultoras, mas vem
roubando também a dignidade, o direito de trabalhar, a oportunidade dos mais
jovens de viver a agricultura. O Pólo da Borborema vem assumindo o tema da
violência como ponto chave para a construção da agro ecologia no território. Antes
um problema urbano, a violência vem chegando de forma avassaladora na zona
rural, sem que o estado tenha uma política para coibir seu avanço. A realização
de Audiências Públicas municipais na região do Pólo da Borborema é um esforço
de chamar as autoridades competentes para a construção conjunta de alternativas
concretas para a superação do problema. “É fato que num passado próximo as
preocupações maiores destinavam-se à zona urbana, os assaltos a banco, à
criminalidade, os seqüestros, mas de uns anos pra cá, a gente vê o crescimento de ocorrências na
zona rural. E o contingente, o efetivo das polícias civil e militar, não
acompanhou essa questão. Mas com esse mapeamento, com essa aproximação do
Comando com as autoridades locais, o sindicato, as comunidades, pode fazer
também com que as pessoas denunciem mais para que possam aparecer os
arrombamentos, os furtos e que a gente através dessa catalogação, possa saber
onde colocar o policiamento”, explica Ysmar Soares, Comandante do 10º Batalhão
da Polícia Militar. “Se a gente paga o direito, a gente tem que ter o direito.
E é isso que estamos fazendo aqui hoje. Vamos fazer tudo para ver se melhora.
As nossas comunidades estão ficando sozinhas lá, jogadas ao relento, diversas
propriedades aí fechadas, casas caindo, e o povo se acumulando nos cantos da
cidade, assombrado, sem ter outro meio de vida. Eu acho que já chegou a hora de
a gente exigir nossos direitos. Mas também quero dizer uma coisa para as
comunidades: nós temos que fazer nossa parte, as comunidades também tem que se
movimentar”, conclamava Juvenal Ferreira, presidente da associação de
Gameleira, em Massaranduba. Fica o desafio estrutural de construir um projeto
de segurança capaz de proteger uma população rural difusa; constituir uma
polícia de inteligência para resolução dos casos; fomentar a formação de
profissionais para tratar com um público culturalmente distinto; constituir com
a sociedade civil um sistema de informação que possa aumentar a eficiência da
polícia e restituir a sensação de segurança da população. Mas por outro lado,
como afirmou o deputado Frei Anastácio durante a audiência: “Essa questão não
se resume em só se fazer tudo para que não haja violência. Para que não haja
violência, nós precisamos construir uma sociedade mais justa, e nós vivemos
numa sociedade injusta”. A violência rural é sem dúvida um fenômeno novo e que
merece novos estudos. O bandido muitas vezes é morador e membro da própria
comunidade. Só com a compreensão dos fatores geradores das anomalias sociais e
a construção de políticas sociais é que podemos enfrentar essa nova realidade. Ao
final da audiência, o deputado estadual Frei Anastácio se comprometeu em levar
até o Secretário Estadual de Segurança, Cláudio Lima, no dia 22 de abril, um
documento sobre a situação da segurança no município. Novas audiências públicas
municipais estão agendadas para Remígio e Alagoa Nova.
Fonte: ASPTA/ ASA PB
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