Cisternas
do ‘Brasil sem Miséria’ chegam com defeito no sertão
O primeiro lote de cisternas feitas de plástico entregues pelo programa
Água para Todos braço do Brasil sem Miséria, principal iniciativa social do
governo federal tem peças com defeito. A Companhia de Desenvolvimento dos
Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) classificou o problema em duas
peças de “defeitos de fabricação” em nota oficial divulgada na segunda-feira e
já providenciou a troca dos reservatórios de água. A Codevasf faz parte do
Ministério da Integração e é responsável pelo programa. A assessoria do
Ministério da Integração respondeu que, das 3 mil cisternas de plástico
(polietileno) que estão sendo entregues, apenas duas apresentaram problemas.
Elas foram entregues em Cedro, município de Pernambuco que fica no Sertão do
Araripe, a 480 km da capital, e que faz limite com o Estado do Ceará. As cisternas
são fundamentais para quem vive em localidades rurais no semiárido em períodos
de grande estiagem. Elas armazenam a água da chuva coletada por um sistema de
calhas ao redor das casas. Com parte da estrutura enterrada, mantêm a água
potável e fria. Embora o semiárido seja seco na maior parte do ano, em três
meses do ano a chuva é abundante. Os reservatórios de plástico foram entregues
com defeito na sexta-feira e substituídos no mesmo dia, de acordo com a nota
oficial da Codevasf. As peças apresentaram um afundamento na parte superior e
foi devolvida ao fabricante, a empresa mexicana Acqualimp. A Codevasf afirmou
que a origem do defeito está sendo analisada. A Acqualimp foi procurada e não
respondeu as perguntas enviadas. Desde o fim de 2011, o Ministério da
Integração é alvo de denúncias e desconfianças. A principal delas colocaram o
ministro Fernando Bezerra (PSB) sob suspeição por ter beneficiado seu Estado de
origem, Pernambuco, com a maior parcela de recursos oficiais. Ele também foi
acusado de privilegiar o deputado Fernando Filho (PSB), seu filho, no empenho
das emendas parlamentares. As revelações não foram suficientes para promover
modificações no topo do ministério, mas a presidente da Repúbica, Dilma
Rousseff, mexeu no segundo escalão. Ela é apontada como dona da decisão de
mudar todas as diretorias das principais empresas vinculadas à pasta, como a
própria Codevasf e o Departamento de Obras contra as Secas (DNOCS). O último
diretor do DNOCS a sair deixou o ministério antes do Carnaval. O programa Água
para Todos tem como meta entregar 300 mil cisternas de plástico e 450 mil de
placas de cimento. A primeira licitação foi feita no ano passado, e a Acqualimp
foi a vencedora do certame para a fabricação e entrega de 60 mil reservatórios.
O diretor comercial da empresa, Amaury Ramos, disse para a revista Carta
Capital que se interessava muito pelo mercado. “É o maior programa de compra de
sistemas de abastecimento de água no mundo.” A Acqualimp também anunciou a
instalação de novas fábricas em Penedo (AL), Teresina (PI), Montes Claros (MG)
e em Petrolina (PE), a cidade do ministro Fernando Bezerra (PSB), que tem como
pré-candidato a prefeito o deputado Fernando Filho (PSB). A decisão do governo
de investir em reservatório de plástico criou um mal-estar entre as ONGs com
tradição de atendimento de famílias do semiárido, sob a coordenação da
Articulação pelo Semi-Árido (ASA). A principal atividade da ASA é a execução do
Programa 1 milhão de Cisternas, que já entregou 372 mil depósitos de água em
todo o semiárido. A ASA possui uma metodologia que obedece alguns preceitos.
Antes da instalação de uma cisterna sua, a comunidade se reúne e escolhe a casa
que receberá o equipamento. Todos envolvidos são capacitados para a construção,
e são os próprios beneficiados constroem a cisterna. As críticas dos militantes
da ASA vão além da durabilidade da cisterna de plástico, que o Ministério da
Integração afirma ser de 20 anos e a ASA contesta, apontando as primeiras que
deformaram antes mesmo de serem usadas. Eles destacam o custo unitário superior
a R$ 3 mil, enquanto os reservatórios em placas de cimento custam em torno de
R$ 2 mil e têm como subproduto a organização comunitária e a capacitação dos
agricultores na construção da estrutura.
Fonte: http://www.asabrasil.org.br
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