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domingo, 21 de abril de 2013

'Sede de água e de justiça'. A CNBB e a seca no semi-árido

Durante entrevista coletiva na tarde desta terça-feira, 16 de abril, a presidência da CNBB apresentou a sua mensagem sobre a seca no semia-rido que atinge a região do semiá-rido do Brasil. A nota demonstra a solidariedade dos bispos do Brasil pelo sofrimento e a luta pela superação deste fenômeno, secular e cíclico, que ameaça a vida e o desenvolvimento integral da população. O texto foi aprovado durante a 51ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil, que acontece desde o dia 10 de abril em Aparecida (SP). (Eis a íntegra da nota:) “Eu estava com fome, e me destes de comer;estava com sede, e me destes de beber” (Mt 25,35) Nós, bispos do Brasil, reunidos em Aparecida–SP, na 51ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, de 10 a 19 de abril de 2013, expressamos nossa solidariedade aos irmãos e irmãs castigados pela maior seca que atinge a região do semi-árido nos últimos 40 anos. Fazemos nossos seus sofrimentos e suas dores e nos unimos à sua luta pela superação deste fenômeno, secular e cíclico, que ameaça a vida e o desenvolvimento integral da população. Trata-se de mais de 10 milhões de pessoas diretamente atingidas, em 1.326 municípios, segundo dados da Secretaria da Defesa Civil, do Ministério da Integração Nacional (SEDEC/MI). Os bispos do Nordeste, por várias vezes, assinalaram as conseqüências de ordem social, econômica, moral e ética provocadas pela seca tais como: a) Migração forçada com a conseqüente desarticulação e desintegração da família, que fica exposta à máxima penúria; b) tráfico humano, que conduz ao trabalho escravo; c) instrumentalização da extrema vulnerabilidade das pessoas para fins eleitoreiros, em total desrespeito aos valores éticos; d) agravamento da situação econômica relegando milhares de famílias à miséria; e) dizimação da produção agrícola e agropastoril com a morte de rebanhos inteiros, comprometendo o presente e o futuro dos pequenos e médios produtores, além de seu endividamento; f) colapso no abastecimento de água nas áreas urbanas; g) risco de se perderem conquistas econômicas e produtivas fundamentais acumuladas nos últimos dez anos. O clamor do povo do Nordeste, acolhido pela Igreja, ecoa em documentos históricos como o de Campina Grande, em 1956, e o de João Pessoa - “Eu ouvi o clamor do meu povo (Ex 3,7)” - em 1963. Além disso, a Igreja tem realizado diversas campanhas de doações, promovido inúmeras ações solidária de apoio às famílias mais atingidas pelo flagelo da seca e participado na luta pela execução de políticas públicas como a construção de cisternas de consumo e de produção. Apoiamos as “Diretrizes para a convivência com o Semi-árido”, lançadas em recente seminário realizado, em Recife-PE, pela Igreja Católica e vários movimentos sociais e sindicais, exigindo que sociedade e governos não pensem no Nordeste apenas em ocasião de seca. A seca no semi-árido é um fenômeno cíclico que se repete sistematicamente. Entretanto, o ciclo de secas “não pode nos fazer pensar que o semi-árido brasileiro seja apenas um condicionamento climático e, a longa estiagem, sua intempérie. O semi-árido é, antes de tudo, um conjunto de condições próprias de um bioma e, desse modo, exige-nos um novo olhar e a construção de iniciativas diferenciadas” para a convivência nesta região onde vivem 46% da população nordestina e 13% da população brasileira, representando 11% do território nacional. Os 25 milhões de pessoas que aí habitam, aguardam medidas estruturais que facilitem a convivência com esse ecossistema. Reconhecemos que os Governos têm desenvolvido importantes ações neste momento crítico por que passam os atingidos pela seca. São, no entanto, ações mitigadoras e emergenciais que não resolvem o problema, presente em todo o polígono da seca. Somente com decidida vontade política e efetiva solidariedade, será possível estabelecer ações que tornem viável a convivência com o semi-árido, mesmo no período da seca. Como pastores solidários aos nossos irmãos nordestinos, reivindicamos: A definição e a aceleração de políticas públicas e institucionais permanentes que garantam segurança hídrica e alimentar, incentivando o uso de tecnologias adaptadas à realidade climática da região para captação, armazenamento e distribuição das águas das chuvas; Democratização do acesso à água com a construção de sistemas simplificados de abastecimento de água; Ações estruturantes como a revitalização e preservação dos rios, lagoas, ribeiras, riachos e da floresta nativa; construção de cisternas de placas e de cisternas “calçadão”; perfuração e equipamentos de novos poços tubulares; Interligação de bacias hidrográficas e de recursos hídricos; construções de diversos tipos de armazenamento de água, bem como de adutoras e canais, para o consumo humano, animal e a produção de alimentos; Ampliação e universalização da aplicação dos recursos financeiros e técnicos a partir do protagonismo das populações locais e de suas organizações, no campo e na cidade; Conclusão urgente das numerosas obras cuja paralisação tem causado graves prejuízos econômicos e sociais; Que Nossa Senhora Aparecida, cuja casa nos abriga durante a 51ª Assembléia da CNBB, alcance para todos os irmãos e irmãs do Nordeste a força renovadora da esperança, que nasce do coração do Cristo Ressuscitado, vencedor do mal e da morte. Aparecida, 16 de abril de 2013. (Cardeal D. Raymundo Damasceno de Assis) Arcebispo de Aparecida; Presidente da CNBB; (Dom José Belizário da Silva) Arcebispo de São Luís do Maranhão–MA; Vice-presidente da CNBB; (Dom Leonardo Ulrich Steiner) Bispo Auxiliar de Brasília; Secretário Geral da CNBB.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br 

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