Organização Meteorológica Mundial afirma que a temperatura em 2012 ficou 0,45C acima da média histórica e alerta que o degelo do Ártico é um sinal claro e alarmante das mudanças climáticas
Os representantes
dos 195 países reunidos em Bonn, na Alemanha, para mais uma rodada das
negociações climáticas sob as Nações Unidas receberam na quinta-feira (2) um relatório da
Organização Meteorológica Mundial (OMM) que traça um retrato bastante
preocupante sobre o clima no planeta. Segundo o documento, 2012 foi o nono ano
mais quente desde que as medições começaram, em 1850, e o 27o ano
consecutivo com temperaturas acima da média entre 1961 e 1990, marcando 14,45oC
quando a média é de 14oC. A NASA e a Administração Oceânica e
Atmosférica Nacional (NOAA) já haviam afirmado que
2012 teriam sido um dos dez anos mais quentes. A OMM destacou que nem mesmo
sendo influenciado pelo La Niña, fenômeno nas águas do Pacífico que tem como conseqüência
o resfriamento das temperaturas, 2012 desmentiu a tendência atual de
aquecimento global. Os anos entre 2001 e 2012 estão todos entre os mais quentes
já registrados (veja gráfico). “Apesar de a taxa de aquecimento variar
anualmente conforme fatores naturais, como o ciclo do El Niño e erupções
vulcânicas, o aquecimento sustentado na baixa atmosfera é bastante
preocupante”, afirmou Michel Jarraud, secretário-geral da OMM. O relatório
destaca ainda como o gelo do Ártico está desaparecendo devido a esse aumento
nas temperaturas, com a extensão do gelo marinho tendo alcançado apenas 3,41
milhões de quilômetros quadrados no verão de 2012, um recorde de baixa. “A
perda massiva de gelo marinho no Ártico entre agosto e setembro, 18% a menos do
que o recorde anterior de 4,17 milhões de quilômetros quadrados em 2007, é um
sinal perturbante das mudanças climáticas”, declarou Jarraud. A Groenlândia
também vem sentido os efeitos do aquecimento global; em julho do ano passado
97% da superfície de gelo da região derreteram. Foi à primeira vez em 34 anos
de monitoramento de satélite que um degelo tão grande foi visto. A OMM aponta
que a precipitação em 2012 ficou acima da média entre 1961 e 1990, mas que sua
distribuição foi extremamente desigual. A maior parte dos Estados Unidos,
México, Rússia central e o centro sul australiano experimentaram secas severas.
O Nordeste brasileiro também está nessa lista, e ainda sofre com a falta de
chuvas. (Eventos Extremos) O
relatório destaca que é muito difícil apontar todas as causas por trás de
fenômenos climáticos, mas a OMM reconhece que na teoria um mundo aquecido tende
a sofrer mais eventos extremos. “A variabilidade climática natural sempre
resultou em eventos extremos, mas as características desses fenômenos têm sido
cada vez mais moldadas pelas mudanças climáticas”, apontou Jarraud. Um exemplo
disso foi a super tempestade Sandy, que provavelmente teria sido muito mais
fraca e adotado um trajeto diferente se não fosse pelo aquecimento das águas do
Atlântico. Outro fator que tornou o Sandy tão poderoso para a OMM foi o aumento
do nível do mar. “Como o nível dos oceanos está agora cerca de 20 cm acima do
que era em 1880, tempestades como o Sandy estão resultando em mais inundações
do que no passado”, explicou Jarraud. Entre os eventos extremos marcantes de
2012, a OMM destacou ainda as enchentes na África oriental e no Paquistão, o
tufão Bopha, que matou mais de 600 pessoas nas Filipinas, e as ondas de calor e
de frio intenso que afetaram diversos continentes em períodos diferentes do
ano. A relação entre as mudanças climáticas e os eventos extremos está cada vez
mais evidente. Em fevereiro, o Instituto Potsdam para Pesquisas
de Impacto Climático (PIK) afirmou, depois de analisar 32 anos de
dados, que as alterações nos padrões de fluxos atmosféricos, responsáveis pelas
correntes de ar, ventos e deslocamento de umidade e calor pela Terra, são a
causa comum que pode estar ocasionando esses fenômenos extremos. Também
reforçando essa relação, a Comissão Climática do
governo da Austrália publicou em março o relatório Angry Summer (Verão
Furioso), no qual destaca que as mudanças climáticas são a principal força por
trás de uma série de eventos de secas e enchentes que atingiram grande parte do
país nos últimos meses. “As mudanças climáticas já se transformaram em uma
fonte de incerteza para diversos setores econômicos, como a agricultura e a
energia. É vital que continuemos a investir nas observações e pesquisas que
melhorem nosso conhecimento sobre a variabilidade climática”, concluiu Jarraud.Gráfico:
Ranking dos 50 anos mais quentes desde 1850 / OMM
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