Por, Flávio Lúcio, Foi divulgada na última quarta a pesquisa CNT/Sensus com a
avaliação do governo Dilma Rousseff e os novos números da eleição presidencial.
Continuou em queda tanto a avaliação do governo quanto o desempenho eleitoral
da presidenta. Considerando o momento em que a pesquisa foi realizada, ainda
fortemente marcado pelo rescaldo das manifestações de junho, quando Dilma
Rousseff foi o principal, mas não o único, alvo dos protestos, os números
auferidos não são exatamente um desastre. O governo foi rejeitado como ruim e
péssimo apenas por 9,3%$ dos entrevistados. O que aumentou mesmo foram aqueles
que consideram o governo “regular” (37,1%), uma migração natural em razão do
clima de contestação e das críticas que o governo federal recebeu nas últimas
semanas. Já os que consideram o governo ótimo e bom somam quase a metade do
eleitorado (49,2%). Quanto aos
números da eleição presidencial, se Dilma foi atingida por nova queda, o até
então principal candidato da oposição, Aécio Neves, não tem muito o que
comemorar. Pelo contrário. Mesmo realizada numa conjuntura claramente
desfavorável, Dilma obteria 34,4% das intenções de votos no primeiro turno.
Depois de muitas comemorações dos tucanos, deve ter sido decepcionante
constatar o fraco desempenho de Aécio. Marina Silva é quem ocupa o segundo
lugar, com 20,7%. Aécio Neves aparece em terceiro, só com 15,2%. Eduardo Campos
teria 7,4% dos votos. O maior problema de Rousseff reside na rejeição, que hoje
atinge 44,7%. Nesse ponto, Aécio Neves, com 36%, tem índice de rejeição que é
muito superior ao de voto, só superado pelo Eduardo Campos, com 31,9%. Marina
Silva tem 31,5%. Ou seja, quem mais ganhou foi Marina. Hoje, ela é a mais
importante candidata da oposição e, acredito a única capaz de terminar a
hegemonia petista no governo federal. (Lula e Dilma) Quando Dilma Rousseff navegava sem
sobressaltos nas águas tranquilas de um povo longe da política, poucos eram os
que se lembravam de Lula. Até no PT. Hoje, para a preocupação de Dilma, as
comparações entre o seu governo e o do Ex-presidente se tornam cada vez mais
inevitáveis. Na mesma pesquisa CNT-Sensus, 45,4% acham que o governo Dilma é
pior que o de Lula, e só 11,5% acham que é melhor. Até o mês passado, as boas avaliações
dos dois anos e meio de governo Dilma eram, na média, superiores aos números
alcançados por Lula em igual período. A diferença é que o país e o Estado que
Lula herdou, depois de oitos anos de governos tucanos, obrigaram o
Ex-presidente a iniciar um longo percurso, tanto de recuperação econômica
quanto de reorientação das políticas de Estado. (O caminho de Lula para a vitória) Foi só depois de
aumentar o gasto público no país, o que impulsionou a economia depois de 2005,
ao lado das políticas sociais (como o Bolsa Família) e do aumento da
participação dos salários na formação da renda nacional, por conta dos aumentos do
salário mínimo acima da inflação, que Lula consolidou os resultados do seu
governo, estabeleceu um norte, que lhe rendeu a popularidade que lhe deu a
vitória em 2006 e a eleição de sua sucessora em 2010. Foi esse “portfólio” que
Dilma Rousseff herdou quando assumiu o governo em 2011. Dilma deu continuidade
às políticas iniciadas por Lula e, talvez por isso mesmo, manteve e até superou
a boa avaliação que teve Lula, que ao terminar o mandato registrou
impressionantes 83,4% de aprovação. O
problema de Dilma é a gestão da política de seu governo. Rodeada de ministros
de pouca representatividade e experiência política – à exceção é Aloísio
Mercadante, da Educação, – a começar pela Casa Civil e pela Secretaria das
Relações Institucionais, Dilma Rousseff quis dar a seu governo um perfil
“técnico”, provavelmente para fugir das difíceis decisões que a política por
vezes nos impõe. É bom lembrar que – os economistas que o digam – para qualquer
decisão a ser tomada, existem justificativas “técnicas”. Existem justificativas
técnicas, por exemplo, tanto para aqueles que defendem a alta dos juros quanto
para os que defendem a sua queda. Onde está a verdade? Para mim, no interesse
público, no interesse da maioria. Portanto, a “técnica” deve estar subordinada
à política, e não o contrário. (Técnica X Política) É nisso onde reside a principal diferença entre os governos Dilma e
Lula. Enquanto Lula enxergava os objetivos de longo prazo e fazia política para
atingi-los, Dilma acha que conseguirá fazer o mesmo através do voluntarismo
tecnicista que despreza os inconvenientes das negociações e dos compromissos
políticos. Isso é fazer política do mesmo jeito, só que de outro jeito. Por
isso, quando a Presidenta se viu acuada pela pressão das manifestações, assim
como fez o Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ela demorou a perceber que
era a política quem batia a porta do seu governo. A política que irrompia para
além dos limites dos gabinetes e das antessalas do poder, que era a forma de
fazer política que a maioria dos políticos estava comodamente acostumada a
praticar. Dilma começa, talvez por necessidade, a reconhecer essa verdade e o
seu governo parece buscar um novo rumo político e novo ritmo. O difícil será
fazer isso com os mesmo ministros, especialmente os mais próximos e influentes.
Caso consiga, a questão será saber se haverá tempo para que essa mudança gere conseqüências
para melhor no humor do eleitorado.
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