Educação é prioridade para 80% dos jovens
brasileiros, diz estudo
A juventude ibero-americana de hoje é, em termos
gerais, otimista sobre seu futuro, valoriza a educação, mas confia pouco nas
instituições. Já o jovem brasileiro coloca a qualidade da educação como
prioridade, é mais aberto quando o assunto é controverso e confia mais nas
instituições que os outros jovens ibero-americanos. Os dados foram apresentados
em pesquisas divulgadas nesta semana. Uma delas foi feita pela Organização
Ibero-Americana de Juventude (OIJ), que ouviu mais de 20 mil jovens. O objetivo
do estudo, intitulado `O Futuro já Chegou`, é ampliar o conhecimento sobre os
jovens através das opiniões das mais de 150 milhões de pessoas de entre 15 e 29
anos que vivem em mais de 20 países ibero-americanos, o que representa 26% da
população total. Para Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano
de Desenvolvimento – instituição que também participou da pesquisa –, investir
na juventude é escutá-la e decifrar suas mensagens. “Estamos diante de uma
juventude que não se conforma que pede melhores oportunidades, melhor qualidade
de educação, de saúde, de instituições e oportunidades de emprego e de
empreendimento”, afirmou Moreno durante o lançamento da pesquisa. Para ele, os
recentes protestos que tomaram as ruas do país com grande participação de
jovens revelam que os jovens reconhecem a importância da sua participação para
a construção do futuro. Outro aspecto apontado pela pesquisa é a presença da
violência na vida do jovem. Segundo os dados, os brasileiros são os que mais
reconheceram esse problema no seu ambiente. Apesar disso, o jovem brasileiro se
mostrou mais aberto em relação a questões mais controversas, como aborto,
legalização da maconha e a acolhida de imigrantes. Segundo o estudo da OIJ,
cerca de 40% dos jovens brasileiros têm uma visão oposta à dos pais em relação
a esses temas. Educação melhor; Cerca de 80% dos jovens brasileiros consideram
a educação uma prioridade, resultado 4,75 pontos superior ao registrado entre
os mais velhos, segundo pesquisa da Secretaria de Assuntos Estratégicos da
presidência da República divulgada também nesta semana. O estudo ouviu mais de
11 mil jovens antes da eclosão dos protestos que ocuparam as ruas de várias
cidades do país. Em relação aos jovens de outros países ibero-americanos, o
brasileiro respondeu de forma mais negativa que todas as outras regiões. Cerca
de 40% deles, por exemplo, disseram que o ambiente escolar é violento. Ao mesmo
tempo, pouco menos de 10% afirmaram que o ambiente escolar é exigente
academicamente. Para o secretário-geral da OIJ, Alejo Ramírez, a educação é uma
demanda clara da juventude. “O melhoramento dos processos educativos, tanto no
ensino médio quanto na universidade, é uma demanda clara e precisa dos jovens
ibero-americanos”, disse Ramírez à Deutsche Welle Brasil. “Eles sabem que a
educação é o único jeito de garantir algum sucesso na vida profissional”. Essa
também é a visão de Bruno Vanhoni, assessor internacional da Secretaria
Nacional de Juventude (SNJ) da Presidência da República. Ele disse à DW Brasil
que o modelo do ensino médio brasileiro é pouco atraente para os jovens. “É um
debate que vem se arrastando há alguns anos e tem ganhado força”, disse, ao se
referir às propostas de reformulação do currículo e das metodologias adotadas
hoje no ensino médio. Apesar das críticas ao sistema educacional, a
universidade aparece na pesquisa da OIJ como a instituição mais confiável na
opinião dos jovens. “É um espaço de aspirações porque nem todos vão chegar à
universidade, mas se eles estão falando que a instituição com a melhor imagem é
a universidade, então há uma vinculação entre a educação e o futuro dos
jovens”, explicou Ramírez. Expectativas. Com a pesquisa da OIJ, foi possível
estabelecer um índice de expectativas, que funciona como uma espécie de ranking
que mede o grau de perspectiva positiva ou negativa dos jovens de cada país a
respeito dos próximos cinco anos. O índice – baseado em variáveis subjetivas –
serve para complementar dados objetivos, como o PIB (Produto Interno Bruto),
para fornecer mais subsídios na construção de políticas públicas para a
juventude. Para construir o índice, os jovens atribuíram uma nota de 1 a 10
para itens como corrupção, emprego estável, desigualdade, etc. Segundo o estudo
a OIJ, os jovens de Equador, Costa Rica e Nicarágua são os mais otimistas.
Brasil, Guatemala e Portugal têm a visão mais negativa sobre o futuro. Apesar
das respostas negativas sobre o futuro, o jovem brasileiro é mais engajado,
segundo a pesquisa. “O brasileiro tem um perspectiva não necessariamente
otimista sobre o futuro, mas tem melhor vinculação com as instituições que
outros jovens da América Latina e esses são pontos [que podem servir] para
aprofundar a análise da situação dos jovens brasileiros”, apontam Ramírez. O
índice de confiança que o jovem brasileiro tem em relação às instituições –
incluindo os meios de comunicação, a justiça e a polícia – é maior do que a
média ibero-americana, mas ainda é um índice baixo (entre 20% e 30%), na visão
de Bruno Vanhoni. “Essas reivindicações apontam para reconhecimento do papel das
instituições, eles e estão cobrando dessas instituições que elas cumpram seu
papel.”
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