No lugar de facões,
flores. No lugar de reféns, interlocutores. No lugar de gritos, diálogo. No
lugar de “nãos”, “sins”. Essa foi a transformação do cenário registrado no
início da semana com a invasão dos sem-terra no Centro Administrativo para a
audiência de hoje mantida entre líderes do Movimento Sem-Terra e o governador
Ricardo Coutinho (PSB), no Palácio da Redenção. Por mais de quatro horas, o
governador e secretários de Estado, entre eles, Cida Ramos, do Desenvolvimento
Humano, Estela Bezerra, da Comunicação, Marenilson, Agricultura, e Aracilba
Rocha, Finanças, ouviram e falaram sobre a realidade agrária na Paraíba.
Destacaram os investimentos do governo no campo, entre eles em infra-estrutura
em assentamentos e na agricultura familiar, e se comprometeram a avançar em
outras ações nas áreas de saúde e educação. “Neste governo, tivemos mais de R$
8 milhões do Cooperar, que é dinheiro nosso, investido em assentamentos, na
compra de tratores, em arranjos produtivos locais e ao mesmo tempo reconhecemos
que queremos fazer muito mais. Não pensamos frontamente contrários. Pensamos
igual em muitos pontos, mas em outro aspecto temos visões completamente
diferentes”, disse o governador aos quinze representantes de movimentos ligados
aos trabalhadores rurais, que na entrada receberam flores da Polícia Militar. Mesmo
com o clima de cordialidade que prevaleceu no encontro, o governador não deixou
de reprovar os atos que foram registrados quando da invasão do Centro
Administrativo, onde pessoas foram impedidas de sair dos prédios e algumas
tiveram seus veículos depredados. Ele disse que o governo não aceita nem
aceitará mais ações daquele tipo. Os sem-terra não revidaram. Certamente, menos
pela “ameaça” do governador e mais pela própria consciência que perderam a
razão e a opinião pública ao extrapolarem na reivindicação da última segunda.
Se já sofriam certos preconceitos, daquela segunda passaram a ser vistos ainda
mais negativamente. Nos dias que se seguiram após segunda, bastava alguém ver
dois ou mais sem-terra juntos que já gritava: “Corre quem lá vem os
sem-terra!”, como se fossem monstros devoradores. A quinta-feira veio para
redimir um pouco a imagem. Os sem-terra entraram calmos e saíram satisfeitos.
“Foi uma reunião positiva. O governador atendeu nossos pedidos. Chegou o
momento do êxito e temos a agradecer. Nossa pauta de 20 itens foi atendida. Em
parceria com o Incra, as áreas serão desapropriadas. Na área do litoral,
no acampamento Wanderley Caixe será feita uma vistoria em conjunto com o Incra…
o governador atendeu todos os pedidos e vamos esperar que sejam implantados. O
prazo é até março do próximo ano porque há projetos que têm alto custo
financeiro”, declarou um dos líderes do movimento ao final do encontro. Para
Cida Ramos, a verdade e o diálogo prevaleceram. Deveria ser sempre assim. O MST
colheria um conceito melhor junto à opinião pública.
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