1 - Supremo Tapetão
Federal - Ricardo Melo (Folha de S. Paulo) 2 - Prisões, por Luis Fernando
Veríssimo (O GLOBO) 3 - Quando março chegar - Janio de Freitas (Folha de
S. Paulo) 1 - Supremo Tapetão Federal - Ricardo Melo (Folha de S. Paulo) O
casuísmo da moda, o domínio do fato, caiu como uma luva. A critério de juízes,
por intermédio dele é possível provar tudo, ou provar nada. O recurso é também
o abrigo dos covardes. No caso do mensalão, serviu para condenar José Dirceu,
embora não houvesse uma única evidência material quanto à sua participação
cabal em delitos. A base da acusação: como um chefe da Casa Civil desconhecia o
que estava acontecendo? A pergunta seguinte atesta a covardia do processo: por que então não
incluir Lula no rol dos acusados? Qualquer pessoa letrada percebe ser
impossível um presidente da República ignorar um esquema como teria sido o
mensalão. Mas mexer com Lula, pera aí! Vai que o presidente decide mobilizar o
povo. Pior ainda quando todos sabem que um outro presidente, o tucano Fernando
Henrique Cardoso, assistiu à compra de votos a céu aberto para garantir a
reeleição e nada lhe aconteceu. Por mais não fosse, que se mantivessem as
aparências. Estabeleceu-se então que o domínio do fato vale para todos, à
exceção, por exemplo, de chefes de governo e tucanos encrencados com licitações
trapaceadas. A saída foi tentar abater os petistas pelas bordas. E aí foi o
espetáculo que se viu. Políticos são acusados de comprar votos que já estavam
garantidos. Ora o processo tinha que ser fatiado, ora tinha que ser examinado
em conjunto; situações iguais resultaram em punições diferentes, e vice-versa. Os
debates? Quantos momentos edificantes. Joaquim Barbosa, estrela da companhia,
exibiu desenvoltura midiática inversamente proporcional à capacidade de lembrar
datas, fixar penas coerentes e respeitar o contraditório. Paladino da Justiça,
não pensou duas vezes para mandar um jornalista chafurdar no lixo e tentar desempregar
a mulher do mesmo desafeto. Belo exemplo. O que virá pela frente é uma
incógnita. Para o PT, ficam algumas lições. Faça o que quiser, apareça em foto
com quem quer que seja, elogie algozes do passado, do presente ou do futuro --o
fato é que o partido nunca será assimilado pelo status quo enquanto tiver suas
raízes identificadas com o povo. Perto dos valores dos escândalos que pululam
por aí, o mensalão não passa de gorjeta e mal daria para comprar um vagão
superfaturado de metrô. Mas como foi obra do PT, cadeia neles. É a velha
história: se uma empregada pega escondida uma peça de lingerie da patroa para
ir a uma festa pobre, certamente será demitida, quando não encarcerada --mesmo
que a tenha devolvido. Agora, se a amiga da mesma madame levar "por
engano" um colar milionário após um regabofe nos Jardins, certamente será
perdoada pelo esquecimento e presenteada com o mimo. Nunca morri de admiração
por militantes como José Dirceu, José Genoino e outros tantos. Ao contrário:
invariavelmente tivemos posições diferentes em debates sobre os rumos da luta
por transformações sociais. Penso até que muitas das dificuldades do PT
resultam de decisões equivocadas por eles defendidas. Mas num país onde Paulo
Maluf e Brilhante Ustra estão soltos, enquanto Dirceu e Genoino dormem na
cadeia, até um cego percebe que as coisas estão fora de lugar. 2 - Quando março
chegar - Janio de Freitas (Folha de S. Paulo) Na conturbada sessão do
Supremo Tribunal Federal de quarta passada, quando decididas as prisões do
mensalão sem esperar pelo fim dos recursos de defesa, um dos vários incidentes
surgiu e repicou insistentemente sem sequer indício de algo que o explicasse. A
ocorrência das prisões no 15 de novembro não só o explicou, como explicou muito
mais. E com mais importância. Já a antecipação das prisões entrava em
discussão. Ricardo Lewandowski ponderou que, tendo o procurador-geral da
República entrado com novo documento no processo, do qual o ministro recebera
cópia e notara o despacho "Junte-se" assinado por Joaquim Barbosa,
cabia à defesa pronunciar-se a respeito. Marco Aurélio Mello endossou de pronto
a ponderação, pronunciamento de uma parte chama o da outra. O documento
propunha as prisões imediatas. Joaquim Barbosa desfechou, com raiva, um ataque
súbito ao procurador-geral Rodrigo Janot, sentado à sua direita, por lhe mandar
o documento na véspera, o qual nem ao menos lera antes de despachar. Do seu
teor só tomava conhecimento ali, naquela hora. Não precisaria dizer, aqui, que
Marco Aurélio Mello se esbaldou em gozações ao presidente do tribunal que
confessava assinar e despachar documentos sem os ler. Barbosa repetiu, e
repetiu mais, o ataque à atitude de Janot, no entanto adotada com perfeita
formalidade e no seu direito funcional. Também não precisaria dizer que Joaquim
Barbosa atropelou a ponderação sobre um direito de defesa e um dever de juízo,
e aparentemente foi acompanhado pela maioria (com a intensidade da balbúrdia, o
presidente não conseguiu formular o sentido e a forma da decisão do tribunal;
adiou-a, e não a expôs na sessão seguinte). Mas toda a crítica raivosa, que o
procurador-geral Rodrigo Janot ouviu como um soldado ao tenentinho que
experimenta o seu recente poder de humilhar, ficou explicada no feriado. Já em
meio à exaltação com Marco Aurélio e Janot, aliás, Joaquim Barbosa dissera que
já tinha preparada a medida quando o procurador-geral a pedira. Mas, na sessão,
isso não pareceu importante porque nada levava a prever-se a intenção de
Joaquim Barbosa de determinar as prisões para 15 de novembro. Claro, com seu
pedido, o procurador-geral pôs-se na iminência de se apropriar das prisões e
dos efeitos promocionais decorrentes de providenciá-las. Mesmo não sendo esse o
propósito de Rodrigo Janot, foi até manchete de primeira página com o que
pedia. A intenção marqueteira pulou-lhe na garganta. A ida dos presos de São
Paulo, Belo Horizonte e Goiânia, cidades de suas residências, para cadeias
injustificáveis em Brasília foram, mais do que sem sentido, por isso mesmo sem
amparo legal. Mas proporcionou um espetáculo de marketing político
extraordinário pelo alcance, social e geográfico, e pela concentração precisa
sobre o beneficiário. Se apenas para colher palmas em lugares públicos ou para
mais que isto, saberemos quando março encerrar o prazo especial de inscrições
partidárias-eleitorais. Mas a convicção de que não será preciso esperar até lá,
com as indicações dadas pelo espetáculo fabricado para o 15 de novembro, já
supera as prisões como assunto na política. 3 - Prisões, por Luis Fernando
Veríssimo O GLOBO: “Prevejo duas coisas: uma que quando exumarem esse processo
do mensalão daqui a alguns anos, como agora fazem com os restos mortais do
Jango Goulart, descobrirão traços de veneno, injustiças e descalabros que hoje
não dão na vista ou são ignorados. O que só desgravará alguns dos condenados
quando não adiantar mais nada”. VÍDEO: watch?v=c1emGzMU5bQ
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