Admirado pelo papa
Francisco, o teólogo Leonardo Boff, um dos pais da "Teologia da
Libertação", concedeu uma entrevista memorável a Eric Nepomuceno, que
merece ser revista; "a fé é uma aposta, que convive com a dúvida",
disse ele, que também defendeu a autonomia e a emancipação dos mais pobres;
leia ainda seu artigo sobre o verdadeiro significado do Natal e a carta escrita
pelo Menino Jesus a todas as crianças do mundo, onde questiona o materialismo
das festas natalinas. Em 2011, o teólogo Leonardo Boff, concedeu uma entrevista
memorável ao programa Sangue Latino, conduzido por Eric Nepomuceno. Nela, falou
que a fé é uma "aposta, que convive com a dúvida." Admirado pelo papa
Francisco, a quem chamou de "papa da ruptura", Boff abordou as
origens da Igreja na América Latina, que sempre esteve vinculada a estruturas
de poder. "Ela pertenceu ao pacto colonial, ao lado do colonizador, sempre
vinha um missionário". No depoimento, falou também sobre a Teologia da
Libertação. "Só o pobre que se organiza e busca a libertação é que se
liberta.”... E leia ainda artigo de Boff sobre o verdadeiro significado do
Natal, onde questiona o materialismo dos dias atuais: O materialismo do Papai Noel e a espiritualidade do Menino Jesus, Leonardo Boff: Um dia, o Filho de
Deus quis saber como andavam as crianças que outrora, quando andou entre
nós,“as tocava e as abençoava” e que dissera: ”deixai vir a mim as criancinhas
porque delas é o Reino de Deus”(Lucas 18, 15-16). À semelhança dos mitos
antigos, montou num raio celeste e chegou à Terra, umas semanas antes do Natal.
Assumiu a forma de um gari que limpava as ruas. Assim podia ver melhor os
passantes, as lojas todas iluminadas e cheias de objetos embrulhados para
presentes e principalmente seus irmãos e irmãs menores que perambulavam por aí,
mal vestidos e muitos com forme, pedindo esmolas. Entristeceu-se sobremaneira,
porque verificou que quase ninguém seguira as palavras que deixaram ditas: ”quem
receber qualquer uma destas crianças em meu nome é a mim que recebe” (Marcos
9,37). E viu também que já ninguém falava do Menino Jesus que vinha escondido,
trazer na noite de Natal, presentes para todas as crianças. O seu lugar foi
ocupado por um velhinho bonachão, vestido de vermelho com um saco às costas e
com longas barbas que toda hora grita bobamente: ”Oh, Oh, Oh… olhem o Papai
Noel aqui”. Sim, pelas ruas e dentro das grandes lojas lá estava ele, abraçando
crianças e tirando do saco presentes que os pais os haviam comprado e colocado
lá dentro. Diz-se que veio de longe, da Finlândia, montado num trenó
puxado por renas. As pessoas haviam se esquecido de outro velhinho, este
verdadeiramente bom: São Nicolau. De família rica, dava pelo Natal presentes às
crianças pobres dizendo que era o Menino Jesus que lhes estava enviando. Disso
tudo ninguém falava. Só se falava do Papai Noel, inventado há mais de cem anos.
Tão triste como ver crianças abandonadas nas ruas, foi perceber como elas eram
enganadas, seduzidas pelas luzes e pelo brilho dos presentes, dos brinquedos e
de mil outros objetos que os pais e as mães costumam comprar como presentes
para serem distribuídos por ocasião da ceia do Natal. Propagandas se gritam em
voz alta, muitas enganosas, suscitando o desejo nas crianças que depois correm
para os pais, suplicando-lhes para que comprem o que viram. O Menino Jesus
travestido de gari, deu-se conta de que aquilo que os anjos cantaram de noite
pelos campos de Belém”eis que vos anuncio uma alegria para todo o povo porque
nasceu-vos hoje um Salvador…glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens
de boa-vontade”(Lucas 2, 10-14) não significava mais nada. O amor tinha sido substituído
pelos objetos e a jovialidade de Deus que se fez criança, tinha desaparecido em
nome do prazer de consumir. Triste, tomou outro raio celeste e antes de voltar
ao céu deixou escrita uma cartinha para as crianças. Foi encontrada debaixo da
porta das casas e especialmente dos casebres dos morros da cidade, chamadas de
favelas. Ai o Menino Jesus escreveu: Meus
queridos irmãozinhos e irmãzinhas, Se vocês olhando o presépio e virem lá o
Menino Jesus e se encherem de fé de que ele é o Filho de Deus Pai que se
fez um menino, menino qual um de nós e que Ele é o Deus-irmão que está sempre
conosco, Se vocês conseguirem ver-nos outros meninos e meninas, especialmente
nos pobrezinhos, a presença escondida do Menino Jesus nascendo dentro deles. Se
vocês fizerem renascer a criança escondida nos seus pais e nas pessoas adultas
para que surja nelas o amor, a ternura, o carinho, o cuidado e a amizade
no lugar de muitos presentes. Se vocês ao olharem para o presépio descobrirem
Jesus pobremente vestido, quase nuzinho e lembrarem-se de tantas crianças
igualmente pobres e mal vestidas e sofrerem no fundo do coração por esta
situação desumana e se decidirem já agora, quando grandes, mudar estas coisas
para que nunca mais haja crianças chorando de fome e de frio, Se vocês
repararem nos três reis magos com os presentes para o Menino Jesus e pensarem
que até os reis, os grandes deste mundo e os sábios reconheceram a grandeza
escondida desse pequeno Menino que choraminga em cima das palhinhas, Se vocês, ao verem no presépio todos aqueles
animais, como as ovelhas, o boi e a vaquinha pensarem que o universo inteiro é
também iluminado pelo Menino Jesus e que todos, galáxias, estrelas, sois, a
Terra e outros seres da natureza e nós mesmos formamos a grande Casa de
Deus, Se vocês olharem para o alto e virem à estrela com sua cauda e recordarem
que sempre há uma Estrela como a de Belém sobre vocês, iluminando-os e
mostrando-lhes os melhores caminhos, Se vocês aguçarem bem os ouvidos e
escutarem a partir dos sentidos interiores, uma música celestial como aquela
dos anjos nos campos de Belém que anunciavam paz na terra, Então saibam que sou
eu, o Menino Jesus, que está chegando de novo e renovando o Natal.
Estarei sempre perto de vocês, caminhando com vocês, chorando com vocês e
brincando com vocês até aquele dia em que chegaremos todos, humanidade e
universo, à Casa do Pai e Mãe de infinita bondade para sermos juntos
eternamente felizes como uma grande família reunida. Belém, 25 de dezembro do
ano 1. Assinado: Menino Jesus
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