As polêmicas envolvendo demarcação de terras indígenas ganharam novo
capítulo. A Fundação Nacional do Índio
(Funai) está com um processo pronto para liberar a homologação de área
de mais de 2 milhões de hectares, na região norte do Pará, no município de Oriximiná, região onde vivem cerca de
3,5 mil índios. A reportagem é de André
Borges e publicada pelo jornal Valor,
02-12-2013. O reconhecimento da terra aguarda, basicamente, a assinatura da
presidência da Funai, para posterior publicação do ato de homologação pelo
Ministério da Justiça. O governo, no entanto, apurou o Valor, decidiu que ainda
não é hora de homologar a demarcação e orientou a diretoria da Funai a reter o
processo. O assunto foi tema de uma reunião no Palácio do Planalto, com
representantes da Secretaria Geral da Presidência, Casa Civil, Funai e
organizações não governamentais. "Tudo caminhava para o reconhecimento da terra indígena Kaxuyana-Tunayana, que
teve seu processo de regularização fundiária iniciado há 13 anos, mas o que
ouvimos do secretário-executivo da Casa Civil [Gilson Bittencourt] é que o relatório não seria publicado até que
fosse travado um diálogo com outros agentes e com o governo do Pará", diz Lúcia Andrade, coordenadora-executiva
da organização Comissão Pró-Índio. Procurada, a Funai confirmou que o processo de demarcação está, de fato,
concluído e que depende apenas da assinatura da presidente da fundação, Maria Augusta Assirati. A Casa Civil,
por sua vez, afirmou que "não está sobrestando os processos de demarcação
das terras no Estado do Pará, mas aguarda que, antes, seja resolvida a questão
da sobreposição de terras indígenas e quilombolas para evitar conflitos
futuros". Desde maio, quando o Ministério da Justiça anunciou que faria
mudanças no rito de demarcação de terras indígenas, envolvendo outros atores no
processo, além da Funai, o governo afirmou que daria andamento regular às
demarcações que já se encontrassem em estágio avançado de estudos. "O que
estamos vendo, na realidade, é que esse e outros processos estão completamente
parados", diz Luis Donisete
Grupioni, coordenador-executivo do Instituto de Pesquisa e Formação
Indígena (Iepé). O caso de Oriximiná
chegou ao Ministério Público Federal (MPF). Na semana passada, o MPF apresentou
ação civil pública contra a Funai. Na ação, o MPF determina que a fundação
publique, no prazo máximo de 20 dias, o "relatório circunstanciado de
identificação e delimitação (RCID)" da terra. A ação estipula multa diária
no valor de R$ 5 mil pelo descumprimento da ordem dada ao diretor responsável
pelo processo. Nesta semana, o Ministério da Justiça deve divulgar as regras
que passarão a valer no processo de demarcação de terras indígenas. Uma minuta
do documento está prevista para ser apresentada hoje a lideranças indígenas que
integram a Comissão Nacional de
Política Indigenista (CNPI). A proposta do governo prevê o fim da
exclusividade da Funai nos
levantamentos de dados que embasam as demarcações, tem a missão de minimizar os
conflitos crescentes entre índios e ruralistas, além de facilitar o caminho
para novos empreendimentos de infraestrutura, como a construção de usinas
hidrelétricas e projeto de mineração. Na região de Oriximiná, onde dezenas de comunidades quilombolas e indígenas convivem
há cerca de 150 anos, existem planos para a construção da hidrelétrica Cachoeira Porteira, no rio Trombetas. A área também é
reconhecida por concentrar uma das maiores reservas de bauxita do país. Recente
declaração do ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, afirmando que o governo vai criar um programa com
recursos do Orçamento da União, para permitir a aquisição de novas terras para
reservas indígenas, ou indenizar proprietários rurais pela expropriação de
áreas demarcadas, causou reação da bancada ruralista. A decisão, segundo a
senadora Kátia Abreu (PMDB-TO),
que preside a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), só deverá
ser aplicada quando houver concordância do produtor, "mediante pagamento
justo e prévio pela terra e benfeitorias". Os produtores cobram a inclusão
da Embrapa e dos ministérios da
Agricultura e do Desenvolvimento Agrário no processo de demarcação.
Fonte: ASA Paraíba
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