Dona Berta é exemplo de
força e alegria da mulher agricultora
Berta Lima da Costa Moura, de 37
anos, mora no sítio Alto II, no município de Pombal, no sertão paraibano.
Esperta, corajosa e espontânea são algumas virtudes que logo se quando
conversamos pela primeira vez com esta agricultora. Ela vive com o esposo, Antônio
Moura dos Santos, de 39 anos, e os seus filhos, Maria Rita (13), José Antônio
(09), além do filho adotivo Francisco Pinheiro dos Santos (13). Dona Berta
está sempre com uma expressão de bom humor estampada no rosto e nas palavras
que fala. As marcas no corpo que registram as dificuldades já vivenciadas não
encobrem o brilho do sorriso, nem apagam a afetuosa alegria que demonstra com
simplicidade e naturalidade. As origens de Berta são da roça,
mas sua aproximação maior com o campo surgiu de um fato bem marcante em sua
vida. Ao gerar o primeiro filho, ela precisou de um documento para encaminhar o
auxílio maternidade ao sindicato. Porém, na época, por estar morando na cidade,
não tinha comprovação do seu estado de agricultora. Berta viu-se limitada diante
do problema e começou a questionar a condição profissional que tinha no
momento. Assim, ela colocou na cabeça que ira comprar um pedaço de terra de
qualquer jeito, para nunca mais passar por um vexame parecido. Empenhada, Berta partiu para a realização do desejo.
Por incrível que pareça, criando e vendendo galinha e porco durante quatro
anos, conseguiu juntar o dinheiro e comprar uma pequena, mas digna propriedade.
“Hoje eu me considero uma mulher rica. Ninguém dava importância ao que estava
empenhada a fazer, até mesmo meu marido achava que era um sonho alto demais. As
pessoas me achavam doida quando falava dessa ideia. Só que isso mudou, e agora
me dão os parabéns, por que viram que conquistei muita coisa. Era um sonho que
eu tinha, lutei, corri atrás e consegui”, relata Berta, cheia de emoção. Com
a utilização da água de um poço amazonas (cacimbão), construído próximo ao
leito de um córrego, a família começou a organizar as plantações. Berta iniciou
o plantio de flores ao arredor da casa. Em seguida, atentou-se para o plantio
de frutíferas, acerola, goiaba e mamão. Daí veio os resultados e colheu os
frutos. O que servia para mesa da casa, num gesto de solidariedade, dava também
para a mesa da vizinhança. No entanto, com o crescimento, viu que poderia
vender e tirar uma renda. Numa semana, chega a ganhar até setenta reais. As
frutas que mais vende é o caju e a acerola. Ela relembra que uma
das maiores dificuldades que passou, bem no começo da chegada, foi não ter
energia elétrica, morando no escuro durante um ano e sete meses, tinha que
colocar água do cacimbão na cabeça. Depois, da instalação da energia elétrica,
Berta comprou um mortozinho para puxar a água do poço e fazer a irrigação por
microaspersão. No entanto, o cacimbão não é tão potente e nem suficiente de
água. A vazão, num período bom de inverno, é somente de três mil litros por
dia. Para melhorar e ajudar como mais uma estrutura hídrica, a família, em
2009, conquistou a cisterna de 16 mil litros, que contribuiu muito para a
estocagem da água de chuva para o consumo humano. O trabalho diário da
agricultora é sempre muito ativo. Ela mesma confessa que não gosta de ficar
parada, por isso, cuida da roça, tira capim, passa na forrageira, leva para o
gado, as ovelhas. Toma de conta de praticamente tudo, enquanto o seu esposo
fica mais empenhado em cuidar de outro pedacinho de terra que arrendou próximo
a casa. “Acho-me uma mulher guerreira, estou sempre achando graça com as
coisas, mas não esqueço de que o trabalho é que me move, por isso, minha
alta-estima é lá encima”, confessa a agricultora. A criação animal e de
plantios é bem diversificada. A propriedade possui galinha, porco, guiné,
caprinos, jerimum, capim, palma, caju, acerola, goiaba, graviola, mamão,
pimentão, pimenta de cheiro, além de plantas medicinais como malva, capim
santo, hortelã, menta, hortelã roxo e hortelã vicque. Na área de baixio
ainda tem três pés de oiticica, árvore nativa onde a família, na época da
florada, cata o fruto e vende para a extração do óleo. Tudo que se tem na
propriedade é uma fonte de renda. Os filhos estão sempre sendo orientados
para ouvir e aprender todos os conhecimentos que a mãe adquiriu ao longo dos
anos e a valorizar toda a vivência no campo. A história da família é um exemplo
do quanto dona Berta se esforçou junto com o esposo para conquistar o que
possuem e perceberem que o que se tem hoje, a agricultora não tinha no seu
tempo de criança. A boa novidade aguardada pela família - e tudo já certo
- é a construção da cisterna-calçadão, através do Programa Uma Terra e Duas
Águas (P1+2), realizado pela Articulação Semiárido (ASA). Com a
implementação, a agricultora pensa em seguir todas as práticas dialogadas no
curso de Sistema simplificado para a Produção de Alimentos (SISMA) e, com a produção
nos plantios dos canteiros econômicos, alimentar a família e vender para o
Programa da Compra Direta. “Eu não quero meu cisternão só pra ficar de enfeite,
só pra dizer que tenho. Quero para trabalhar com ele; para quando amanhecer o
dia eu dizer assim: hoje eu não vou ser empregado não! hoje eu vou ser patrão!
Ou melhor, patroa porque eu sou mulher!”, diz dona Berta, com um belo sorriso
no rosto. Eudes Costa - Comunicador popular da ASA
Fonte: www.asabrasil.org.br
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