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quarta-feira, 12 de março de 2014

Quem abafou o trensalão tucano?

Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

O trensalão envolve dois escândalos que se encaram como um jogo de espelhos. Um é a corrupção propriamente dita de servidores e políticos tucanos. Outro é a operação abafa protagonizada pelos procuradores federais e até mesmo pela Procuradoria-Geral da República.

Será possível que o Brasil vai engolir a história do De Grandis, de que botou o processo “numa gaveta errada”? Será que a luta por mais ética na política não envolverá também uns beliscões para valer nos órgãos de controle, sobretudo no Ministério Público? Será que os movimentos contra a corrução não percebem que a culpa da corrupção no setor público deve ser jogada, com muito peso, nas costas do Ministério Público, pois ele é o responsável pela apuração de todas as mazelas administrativas e detêm uma enorme estrutura para tal?

Toda a fúria que a PGR mostrou na Ação Penal 470, partindo inclusive para o jogo sujo de manipular provas e acusar inocentes, transformou-se em amor quando houve a oportunidade de pegar os acusados do trensalão tucano. Detalhe: o trensalão envolveu valores muitas vezes maiores que o mensalão e movimentou apenas dinheiro público.

Por exemplo, a imprensa divulga hoje que um executivo ligado à cúpula da Alstom francesa, Michel Cabane, acusou diretamente Robson Marinho de ter recebido propina. Esse depoimento foi enviado ao Ministério Público Federal em maio de 2010. Nada foi feito até então, e Marinho continua ocupando o poderoso cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, onde sempre atua como cão de guarda do PSDB.

Robson Marinho foi chefe da Casa Civil no governo Mario Covas, entre 1995 e 1997. Ou seja, era o Dirceu de Covas, o seu braço direito. Não há um editorial, um infográfico, um colunista indignado, ninguém monta campana na porta da casa de Robson Marinho, ninguém quer saber a opinião da cúpula do partido. Os jornais não mandam um mísero repórter à Suíça.

Em post de ontem, no qual reproduzi uma postagem no blog de Fausto Macedo,do Estadão, acho que faltou uma informação sobre a conta na Suíça aberta por Robson Marinho. Essa informação está na Folha de hoje: ela foi aberta em 13 de maio de 1998, menos de um mês após a assinatura do contrato do Eletropaulo e da EPTE com a Alstom que teria originado o pagamento de propina.

Lembrando: essa conta recebeu US$ 1,1 milhão, ou R$ 2,6 milhões em valores atualizados e convertidos. Eu acrescentaria que essa é uma das propinas, pagas no exterior. Quanto às propinas pagas em território nacional, em dinheiro vivo ou não, será mais difícil descobrir.

Na matéria da Folha, há informação de que a Alstom pagou R$ 23,3 milhões de suborno para conseguir um contrato de R$ 181,3 milhões, em valores atualizados, segundo acusação do Ministério Público. Esses pagamentos foram feitos de 1998 a 2003, quando o estado era governado por Mario Covas e Geraldo Alckmin, do PSDB.

Vale recordar que André Botto, ex-diretor comercial da Alstom na França já havia declarado à justiça francesa que a Alstom pagou uma propina equivalente a 15% do valor do contrato com a Eletropaulo. “Tivemos que pagar comissões elevadas, da ordem de 15%”, disse Botto.

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