Cerca de 8,2 mil famílias
trabalham com esse tipo de semente no estado.
O de
pequenos agricultores da Paraíba usa sementes crioulas de variedades
tradicionais que consegue resistir à seca. Os agricultores formam as
lavouras com materiais que mais se adaptam às propriedades. Em uma região onde
o clima é tão diverso como no semiárido, os grãos representam um patrimônio da
agricultura local.
Há uma
relação muito forte dos agricultores paraibanos com as sementes
crioulas, chamadas na região de sementes de paixão. “A semente da paixão é uma
semente que as famílias vêm guardando, conservando, selecionando. É uma semente
que respeita o clima, o solo, o ambiente e a cultura das pessoas. Ela tem esse
nome porque nós somos apaixonados por ela. Ela é quem faz com que a gente tenha
vida na agricultura familiar”, diz Eusébio Albuquerque, presidente do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais.
Família que
planta unida, também colhe unida. No município de Queimadas, o agricultor Pedro
de Luna e os dois filhos trabalham na lida com o feijão preto, um dos
principais produtos da propriedade. O grão foi plantado com sementes
tradicionais.
A agricultora
Silvia Pereira também planta, colhe e preserva a tradição das sementes da
paixão. Ela divide o trabalho com o pai, que ficou entusiasmado com o resultado
visto no campo. Além do feijão, os agricultores estão multiplicando uma das
últimas novidades introduzidas no roçado: um tipo de sorgo mais rentável do que
estavam acostumados a produzir na propriedade.
Aos poucos
os agricultores vão formando as lavouras com materiais que mais se adaptam às
propriedades. Em uma região onde o clima é tão diverso como no semiárido, as
sementes da paixão representam um patrimônio da agricultura local. Mas não
significa que se determinada variedade vai bem numa área, ela terá um bom
desempenho em outra. São tantos os microclimas que não é raro encontrar
lavouras vistosas quase ao lado de terrenos muito secos.
A
experiência do agricultor que vive na região faz com que ele tenha sabedoria
para esperar a pouca chuva. Muitas vezes, 180 milímetros distribuídos em quatro
meses são suficientes para transformar a paisagem e levar fartura para a
produção.
O trabalho
de preservação conta com o apoio de várias instituições. O agrônomo Emanoel
Dias coordena o Núcleo das Sementes da Paixão na ASPTA, organização
não-governamental que valoriza a agricultura familiar e a agroecologia. “É uma
beleza visualizar a diversificação. Cada um tem um papel. O milho para
alimentação das famílias, para alimentação dos animais. O agricultor se sente
valorizado porque produz, se alimenta e também alimenta a sociedade”, diz.
A ideia de
uma lavoura de sementes da paixão é aproveitar o máximo possível as áreas da
pequena propriedade. No mesmo roçado tem fava de moita e fava de rama que trepa
no pé de milho. As culturas ficam juntas e misturadas. Isso sem contar que até
poucos dias atrás, o feijão também dividia o espaço na propriedade do
agricultor José de Oliveira Luna, no município de Alagoa Nova.
Com tanta
variedade na mesma área, a lavoura fica com a aparência meio tumultuada. A
escolha dos grãos que irão servir de semente para o próximo plantio é feita de
maneira criteriosa. Em outra área da propriedade, o agricultor apostou foi em
um consórcio onde o destaque é a abóbora, conhecida como jerimum na região.
A fartura
que sai do campo é guardada em garrafas pet e em silos. Cerca de 8,2 mil
famílias trabalham com as sementes da paixão em todo o estado da Paraíba.
Algumas famílias reservaram um cômodo da casa para guardar o material inclusive
dos vizinhos. Os chamados bancos comunitários armazenam um tesouro colorido.
Depois de selecionar e secar as sementes, os agricultores deixam a produção
armazenada até o próximo período de chuva.
Nas sementes
que vão para o silo, o agricultor José de Oliveira Luna mistura uma colher de
pimenta do reino para cada dez quilos de feijão para não dar caruncho. Ele
tampa bem o recipiente vedado com sabão de pedra.
Por conta do
resgate das variedades crioulas o estado da Paraíba publicou uma lei que,
somada a uma resolução federal na legislação de sementes e mudas, contribuiu
para o fortalecimento desse trabalho. Para compartilhar a riqueza da produção,
os agricultores da Paraíba promovem encontros para trocar sementes. Passar para
frente, de um vizinho para outro ou de pai para filho, as sementes crioulas se
tornaram uma bandeira de resistência à seca e de afirmação da agricultura
familiar do Nordeste.
O trabalho
com sementes crioulas existe em vários estados do Brasil. Essa diversidade
genética local garante a sobrevivência da agricultura familiar.
Globo Rural mostra a preservação das 'sementes da paixão' na
Paraíba. Por serem rústicas, elas sobrevivem melhor aos períodos de seca.
Programa entrevista produtor francês de uvas orgânicas alvo de polêmica.
http://g1..globo.com/
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