sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Para desvendar as novas formas de política


Alguns clichês insinuam-se sempre, quando se debate – entre a chamada “classe média” – o cenário da participação política no Brasil. “O país está apático”. “A juventude não sai às ruas”. “Os movimentos sociais foram cooptados”, afirma-se. Quase sempre se agregam queixas sobre o “baixo nível do ensino”, atestado pelo mau desempenho dos estudantes brasileiros em testes que avaliam certas habilidades consideradas essenciais. Será mesmo verdade? Para a pesquisadora e web ativista Drica Guzzi, que atua na Escola de Futuro da USP e coordenou projetos como Acessa Escola, Acessa SP e a rede de formação do Tele centros. BR, quem sustenta os pontos de vista acima está olhando o mundo com óculos errados; não compreendeu que, em face de mudanças civilizacionais profundas, também Política, Comunicação, Cidadania e Educação precisam ser pensadas em outras bases. (Gostaria que você falasse um pouco sobre a Escola do Futuro da USP.) A Escola do Futuro foi fundada em 1989, em um momento em que a tecnologia estava avançando e os estudos das neurociências também. Ela nasceu como um núcleo de apoio à pesquisa para pensar o processo de aprendizado e a comunicação, que são camadas próximas. A Escola tem essa vocação investigativa, formadora de novos olhares e novas políticas, sempre com esse viés mais público. A internet começou a ser comercializada no Brasil em 95. A partir de 98 vimos que as novas tecnologias iriam de fato mudar o modo como a gente aprende, resolve questões, troca informações. Ficou claro que as leis de mercado são muito imperativas, que só iria ter acesso quem pudesse pagar que era privilégio para poucos. Os governos foram percebendo que havia uma demanda, caminhando para o pensamento de que o acesso à banda larga de qualidade deveria ser um direito do cidadão. O Brasil avançou nos últimos anos quanto ao aumento de acesso à internet, mas há muito ainda o que fazer. Praticamente metade da população não tem acesso. Nas áreas rurais isso é ainda mais preocupante. E obviamente não falo só do acesso, mas do uso qualificado de todas as possibilidades que estar na rede traz. Desde então o campo da “inclusão digital”, nome que surgiu só em 2000 ou 2001, vem se estabelecendo como um campo de reflexão, desenvolvimento, soluções e conceitos, em relação à apropriação de tecnologia a serviço pessoal, profissional e da comunidade. Nesse caminho, comecei a trabalhar no Acessa São Paulo, que é a política pública de inclusão digital do estado de São Paulo, que logo foi se ampliando para outros projetos de cultura e aprendizagem digital. Fizemos com o governo federal a Rede de Formação do Tele centros BR, no Brasil todo, com a Coordenadoria da Juventude de São Paulo um projeto de ativação dos jovens em rede, entre outros tantos projetos. Normalmente a Escola do Futuro – USP entra como co-responsável pelo desenho estratégico dos programas desenvolve e programa a formação dos atores envolvidos (monitores, lideranças, gestores, projetistas, facilitadores, entre outros), curadoria e produção de conteúdos, desenvolvimento e acompanhamento dos portais e das redes sociais, pesquisa e mapeamentos do impacto e  usos das tecnologias de informação e de comunicação bem como processa os indicadores de desenvolvimento e apropriação da tecnologia. No fundo, o que mais nos interessa não é a tecnologia em si, mas suas conseqüências e efeitos na sociedade. O conhecimento livre; projetos que envolvam a ativação de redes – o compartilhamento, a colaboração e a ação coletiva – são focos de nossas investigações e produções.

Fonte: http://www.reformapolitica.org.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário