Apesar de simples, a iniciativa da escola busca reduzir
estatísticas que preocupam autoridades em saúde. Durante
um dia na semana, a sala de aula vira uma imensa cozinha. Os lápis e cadernos
saem de cena e dão espaço para frutas, potes plásticos, talheres e a
criatividade da professora. De forma lúdica, ela faz uma espécie de teatro e
ensina os alunos a fazerem uma salada, enquanto explica a importância de cada
fruta. A atividade, que termina sempre em brincadeira, faz parte do Projeto
Alimentação Saudável, criado pelo Colégio João XXIII, que funciona no bairro do
Róger, em João Pessoa. Além de despertar o paladar das crianças para o gosto
das frutas, o trabalho também tem a missão de orientar os pais. “Damos
recomendações aos pais sobre os tipos de alimentos que eles enviam para os
lanches dos filhos. Orientamos, por exemplo, que eles escolham biscoitos
integrais, sanduíches naturais, sucos de frutas; e deixem um pouco de lado
aqueles produtos industrializados e muito calóricos”, explica a coordenadora
pedagógica do Colégio, Marta Arcela. Apesar de simples, a iniciativa da escola
busca reduzir estatísticas que preocupam autoridades em saúde e colocam João
Pessoa numa posição desconfortável na área de alimentação estudantil. Segundo a
Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (Pense), realizada pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), a capital paraibana está entre as
localidades nordestinas que apresentaram o maior percentual de estudantes que
não têm hábito de consumir frutas. O estudo, feito por amostragem, entrevistou
3.222 alunos, distribuídos em 97 turmas de 75 escolas diferentes. Foi
constatado que 25,5% dos entrevistados não tinham consumido nenhuma fruta
durante o período de sete dias anteriores à pesquisa. O percentual foi maior
que o encontrado em Natal (25%), Fortaleza (24,8%), Aracaju (24,2%), Teresina
(21,4%) e São Luís (19,3%). Por outro lado, o índice pessoense é menor que
Salvador (26,5%), Recife (28,1%) e Maceió (28,3%). Os pesquisadores também
quiseram saber em que grau ocorre o consumo de guloseimas, como doces, salgados
e frituras. Eles descobriram que 13,8% dos alunos levaram esses produtos para o
lanche escolar durante dois dias, na última semana que antecedeu a pesquisa. Com
relação aos refrigerantes, a situação encontrada foi ainda pior. No período de
uma semana, 16,9% dos alunos tomaram a bebida, no lanche, durante dois dias na
escola, enquanto que outros 29,3% confessaram que consumiram o produto por mais
de cinco dias. Além de não consumir alimentos saudáveis no lanche da escola,
parte dos estudantes pessoenses também é negligente com o café da manhã. No
período de uma semana, apenas 60,1% dos alunos afirmaram que fizeram a primeira
refeição durante mais de cinco dias. Isso sugere que cerca de 40% dos
entrevistados deixam de se alimentar no início da manhã. Para o presidente da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia, regional Paraíba, Ednardo Parente, os
números são motivos de preocupação. O especialista, que atua na área há 33
anos, explica que a falta da alimentação saudável, a longo prazo, vai provocar
a obesidade e uma série de doenças. “Hoje, estamos registrando uma quantidade
maior de obesidade em crianças, em relação a outras épocas, por causa desse
consumo exagerado de guloseimas, de produtos calóricos e pouco nutrientes”,
observa. “Consequentemente, outras doenças que, antes só atingiam os adultos,
também estão aparecendo em crianças, como é o caso da diabetes tipo 2, que é
causada pela obesidade”, completa. Para evitar as complicações, o médico
destaca que é preciso mudar hábitos. “É preciso que tanto a família, quanto a
escola assumam essa função de orientar e educar a criança. A educação alimentar
também é uma obrigação da escola. É inadmissível que a cantina de um colégio
seja recheada por alimento 'fast food', por exemplo,”, afirma. (MP ORIENTA ESCOLAS PARTICULARES) Em
março deste ano, as promotorias de Defesa da Educação, do Consumidor e da
Criança e Adolescente de João Pessoa expediram uma recomendação conjunta aos
diretores das escolas privadas da capital e orientaram que as cantinas desses
estabelecimentos só comercializem alimentos saudáveis A medida foi baseada
na Lei nº 11.947/2009, que obriga colégios a disponibilizarem aos lanches dos
alunos produtos pouco calóricos. Os professores também foram orientados a
ministrar em sala de aula assuntos relativos à obesidade, como forma de
conscientizar os estudantes sobre o assunto. Outra recomendação feita pelos
promotores é que o acondicionamento e fiscalização dos produtos ofertados nas
cantinas fiquem sob a supervisão de um nutricionista. Os colégios também
precisam realizar palestras, campanhas, oficinas e seminários, abordando temas
ligados à alimentação saudável. A recomendação foi assinada pelos
promotores Priscylla Maroja, Fabiana Lobo, Ana Raquel Beltrão, Glauberto
Bezerra e Alley Escorel. Eles tomaram a decisão após verificar que os maus
hábitos alimentares estão causando crescimento de casos de obesidade na
infância e na adolescência. (Nathielle
Ferreira)
Fonte: www.jornaldaparaiba.com.br
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