Dom Damasceno sobe em palanque e afirma que igreja
precisa ficar mais perto para ajudar problemas observados no país. Passeata
contou com deputados, sindicalistas, estudantes e servidores públicos. As
pessoas que desciam as escadas rolantes da rodoviária de Brasília para pegar
seus ônibus no meio da tarde de quarta-feira (27) não entendiam o que
acontecia. Aos poucos, se interessavam e começavam a se aproximar. “É ele
mesmo?”, perguntou a doméstica Aparecida Serrano. O personagem que tanto chamou
a atenção foi o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), dom Raymundo Damasceno, que ao lado de deputados federais, vereadores e
representantes de entidades diversas pegou o microfone e pediu à população para
assinar o projeto de reforma política de iniciativa popular que será
encaminhado à Câmara. “Já vi o bispo várias vezes e cheguei a ir a Aparecida
(santuário nacional, onde Dom Damasceno mora), mas não o esperava aqui, no meio
do povo, em plena rodoviária”, comentou a estudante de direito Carla Fagundes,
que participou do movimento. Hoje, a coalizão pelas eleições limpas, que
engloba 54 entidades organizadas da sociedade civil e tem o apoio de outras 40,
realizou o que foi chamado como “dia nacional de assinaturas pelo projeto de
iniciativa popular para a reforma política”. A ideia é reunir o número de 1,4
milhão de assinaturas para que o projeto possa ser encaminhado ao Congresso e,
dessa forma, passar a tramitar. Carla, a estudante, assim como várias das
colegas, passou à tarde no trecho entre o Museu da República e a Rodoviária, em
plena área central de Brasília, munida com uma prancheta, conversando com as
pessoas e entregando, a todos os que abordava, os papéis para que assinassem.
Mas, numa cidade marcada pela realização de passeatas e atos públicos quase
diariamente, o que chamou a atenção, mesmo, foi à presença do secretário-geral
da CNBB. E, mais que isso, o seu discurso de apoio à reforma e a maneira como a
Igreja Católica está vendo e avaliando o momento pelo qual vive o Brasil. “Isso
que estamos vendo aqui, hoje, é muito importante. Nossa reforma política, tão
planejada, nunca foi concluída. Deveria ter ocorrido na Constituição e,
infelizmente, sempre tem sido adiada. Fizeram alguns remendos em relação ao
nosso sistema político, mas muito mais mudanças acidentais, de verniz. De modo
que esperamos, com esse projeto de lei de iniciativa popular, alcançar o número
suficiente de assinaturas para levar ao Congresso Nacional e para que possa resultar
na verdadeira reforma que precisamos”, afirmou Dom Damasceno, em entrevista à RBA. O presidente da CNBB citou,
ainda, alguns problemas cuja resolução considera fundamental, no atual sistema
político e eleitoral. “Precisamos achar pontos convergentes e chegar a um
projeto que trate de mudanças no financiamento das nossas campanhas eleitorais
e dos problemas de uma consistência maior que envolvem hoje nossos partidos
políticos. Muitos partidos não têm programas e isso é ruim, muitas vezes
confunde os cidadãos. Também precisamos regulamentar certos mecanismos de
participação democrática direta, como é o caso do plebiscito. O importante é
encontrarmos pontos de convergência sobre esses temas. E “caberá ao Congresso,
a partir destas propostas, analisar e promulgar esta reforma política” destacou.
Quando indagado sobre o fato de a CNBB vir a encontrar resistências dentro da
própria Igreja Católica ao participar da campanha, por parte de bispos e padres
de caráter mais conservador, Dom Damasceno disse que hoje, para a igreja, “é
fundamental a sua presença na sociedade e na vida pública do país”. “A igreja
tem uma missão própria, religiosa, espiritual, mas ela não é alheia aos
problemas da sociedade, por isso tem uma palavra a dizer aos cidadãos para
ajudá-los a ter discernimento nesse processo de participação na vida social do
país. Os problemas comuns devem ser resolvidos, também, de uma maneira comum
pela população. “E a igreja tem uma palavra muito clara a dizer sobre isso,
sobretudo do ponto de vista ético”, colocou. Ato para o povo: O ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) e coordenador dos trabalhos pela coalizão dentro da Ordem, Cezar Brito,
foi um dos mais enfáticos em suas palavras. A passeata, que partiu da frente do
Museu da República, contou com a participação de deputados, representantes das
várias entidades que formam o movimento “coalizão pelas eleições limpas”,
estudantes, sindicalistas, servidores públicos e a presença inesperada de um
grupo de vereadores que estão em Brasília e resolveram se unir ao movimento.
“Esse tema é de suma importância. Não poderíamos deixar de passar por aqui e
participar deste ato, principalmente para pedir pelo fim do financiamento
privado de campanha, que todo mundo sabe que é o que mantém a corrupção”, enfatizou
o vereador José Wilders de Brito, de Porto Velho (RO). “Precisamos conscientizar
a população, e vamos fazer isso em seminários e mobilizações diversas a serem
realizadas em todos os estados, para mostrar às pessoas que política é coisa
séria e é preciso lutar, juntos, por uma reforma. Temos que fazer as pessoas
saberem que empresa não é povo e que financiamento eleitoral não pode ser
investimento econômico, como acontece hoje”, frisou. Um dos representantes da
União Nacional de Estudantes (UNE), Tiago José Silva, diretor de universidades
públicas da entidade, disse também que a campanha pela reforma política passou
a ser uma prioridade para a UNE. “Estamos programando palestras e debates sobre
o tema, para mostrar a questão à juventude e para conscientizar os jovens sobre
a necessidade de serem feitas mudanças nas nossas regras político-partidárias”,
afirmou. Ficha limpa: Na
prática, o movimento responsável pelo ato de hoje vem trabalhando desde junho
passado. A coalizão foi criada pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral
(MCCE), o mesmo que coletou assinaturas em modelo semelhante para viabilizar o
projeto da ficha limpa, hoje transformado em lei, que proíbe que políticos
condenados pela Justiça possam se candidatar em eleições. E já esteve em
reunião com parlamentares na Câmara dos Deputados. O juiz que coordenou o
movimento e toca essa nova empreitada, Marlon Reis, tem destacado ao longo
desse período que “agora, o momento é de deixar o Congresso de lado e de nos
voltarmos para as ruas”. Segundo ele, somente depois que a população brasileira
assinar em número suficiente é que o MCCE procurará, outra vez, a Câmara e o
Senado Federal. A frase de Reis foi usada por várias pessoas e repetida pelo
locutor do carro de som que acompanhou a passeata. “Esta manifestação é
diferente das outras observadas em Brasília. Não vamos caminhar rumo ao
Congresso, mas rumo ao povo, que está na rodoviária. Os deputados que estão
aqui são os que estão conosco nesta luta. Desta vez, o foco não é o Congresso,
mas a população”, reiterou o locutor. Na frente da passeata, seguiram ao lado
dos estudantes parlamentares como Henrique Fontana (PT-RS) e Alessandro Molon
(PT-SP), o bispo Joaquim Mol, coordenador da campanha pela CNBB, e Cesar Brito.
“Vivemos uma crise de representação política muito séria no país e o dia de
hoje é cheio de simbolismos”, afirmou o ex-deputado Aldo Arantes, hoje
coordenador da Comissão de Justiça e Paz, em caráter nacional. Segundo a
assessoria de imprensa do MCCE, a coleta de assinaturas para o projeto de
reforma política, além de estar sendo realizada em todas as cidades, nas
igrejas e paróquias, nas seccionais da OAB, em universidades e escolas, bem
como locais públicos diversos, também pode ser feita pela internet. Tem
homologação automática pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pode ser
acessada por meio do seguinte endereço: www.eleicoeslimpas.org.br
Fonte: www.redebrasilatual.com.br
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