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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Secretário-geral da CNBB faz corpo a corpo em Brasília


Dom Damasceno sobe em palanque e afirma que igreja precisa ficar mais perto para ajudar problemas observados no país. Passeata contou com deputados, sindicalistas, estudantes e servidores públicos. As pessoas que desciam as escadas rolantes da rodoviária de Brasília para pegar seus ônibus no meio da tarde de quarta-feira (27) não entendiam o que acontecia. Aos poucos, se interessavam e começavam a se aproximar. “É ele mesmo?”, perguntou a doméstica Aparecida Serrano. O personagem que tanto chamou a atenção foi o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno, que ao lado de deputados federais, vereadores e representantes de entidades diversas pegou o microfone e pediu à população para assinar o projeto de reforma política de iniciativa popular que será encaminhado à Câmara. “Já vi o bispo várias vezes e cheguei a ir a Aparecida (santuário nacional, onde Dom Damasceno mora), mas não o esperava aqui, no meio do povo, em plena rodoviária”, comentou a estudante de direito Carla Fagundes, que participou do movimento. Hoje, a coalizão pelas eleições limpas, que engloba 54 entidades organizadas da sociedade civil e tem o apoio de outras 40, realizou o que foi chamado como “dia nacional de assinaturas pelo projeto de iniciativa popular para a reforma política”. A ideia é reunir o número de 1,4 milhão de assinaturas para que o projeto possa ser encaminhado ao Congresso e, dessa forma, passar a tramitar. Carla, a estudante, assim como várias das colegas, passou à tarde no trecho entre o Museu da República e a Rodoviária, em plena área central de Brasília, munida com uma prancheta, conversando com as pessoas e entregando, a todos os que abordava, os papéis para que assinassem. Mas, numa cidade marcada pela realização de passeatas e atos públicos quase diariamente, o que chamou a atenção, mesmo, foi à presença do secretário-geral da CNBB. E, mais que isso, o seu discurso de apoio à reforma e a maneira como a Igreja Católica está vendo e avaliando o momento pelo qual vive o Brasil. “Isso que estamos vendo aqui, hoje, é muito importante. Nossa reforma política, tão planejada, nunca foi concluída. Deveria ter ocorrido na Constituição e, infelizmente, sempre tem sido adiada. Fizeram alguns remendos em relação ao nosso sistema político, mas muito mais mudanças acidentais, de verniz. De modo que esperamos, com esse projeto de lei de iniciativa popular, alcançar o número suficiente de assinaturas para levar ao Congresso Nacional e para que possa resultar na verdadeira reforma que precisamos”, afirmou Dom Damasceno, em entrevista à RBA. O presidente da CNBB citou, ainda, alguns problemas cuja resolução considera fundamental, no atual sistema político e eleitoral. “Precisamos achar pontos convergentes e chegar a um projeto que trate de mudanças no financiamento das nossas campanhas eleitorais e dos problemas de uma consistência maior que envolvem hoje nossos partidos políticos. Muitos partidos não têm programas e isso é ruim, muitas vezes confunde os cidadãos. Também precisamos regulamentar certos mecanismos de participação democrática direta, como é o caso do plebiscito. O importante é encontrarmos pontos de convergência sobre esses temas. E “caberá ao Congresso, a partir destas propostas, analisar e promulgar esta reforma política” destacou. Quando indagado sobre o fato de a CNBB vir a encontrar resistências dentro da própria Igreja Católica ao participar da campanha, por parte de bispos e padres de caráter mais conservador, Dom Damasceno disse que hoje, para a igreja, “é fundamental a sua presença na sociedade e na vida pública do país”. “A igreja tem uma missão própria, religiosa, espiritual, mas ela não é alheia aos problemas da sociedade, por isso tem uma palavra a dizer aos cidadãos para ajudá-los a ter discernimento nesse processo de participação na vida social do país. Os problemas comuns devem ser resolvidos, também, de uma maneira comum pela população. “E a igreja tem uma palavra muito clara a dizer sobre isso, sobretudo do ponto de vista ético”, colocou. Ato para o povo: O ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e coordenador dos trabalhos pela coalizão dentro da Ordem, Cezar Brito, foi um dos mais enfáticos em suas palavras. A passeata, que partiu da frente do Museu da República, contou com a participação de deputados, representantes das várias entidades que formam o movimento “coalizão pelas eleições limpas”, estudantes, sindicalistas, servidores públicos e a presença inesperada de um grupo de vereadores que estão em Brasília e resolveram se unir ao movimento. “Esse tema é de suma importância. Não poderíamos deixar de passar por aqui e participar deste ato, principalmente para pedir pelo fim do financiamento privado de campanha, que todo mundo sabe que é o que mantém a corrupção”, enfatizou o vereador José Wilders de Brito, de Porto Velho (RO). “Precisamos conscientizar a população, e vamos fazer isso em seminários e mobilizações diversas a serem realizadas em todos os estados, para mostrar às pessoas que política é coisa séria e é preciso lutar, juntos, por uma reforma. Temos que fazer as pessoas saberem que empresa não é povo e que financiamento eleitoral não pode ser investimento econômico, como acontece hoje”, frisou. Um dos representantes da União Nacional de Estudantes (UNE), Tiago José Silva, diretor de universidades públicas da entidade, disse também que a campanha pela reforma política passou a ser uma prioridade para a UNE. “Estamos programando palestras e debates sobre o tema, para mostrar a questão à juventude e para conscientizar os jovens sobre a necessidade de serem feitas mudanças nas nossas regras político-partidárias”, afirmou. Ficha limpa: Na prática, o movimento responsável pelo ato de hoje vem trabalhando desde junho passado. A coalizão foi criada pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), o mesmo que coletou assinaturas em modelo semelhante para viabilizar o projeto da ficha limpa, hoje transformado em lei, que proíbe que políticos condenados pela Justiça possam se candidatar em eleições. E já esteve em reunião com parlamentares na Câmara dos Deputados. O juiz que coordenou o movimento e toca essa nova empreitada, Marlon Reis, tem destacado ao longo desse período que “agora, o momento é de deixar o Congresso de lado e de nos voltarmos para as ruas”. Segundo ele, somente depois que a população brasileira assinar em número suficiente é que o MCCE procurará, outra vez, a Câmara e o Senado Federal. A frase de Reis foi usada por várias pessoas e repetida pelo locutor do carro de som que acompanhou a passeata. “Esta manifestação é diferente das outras observadas em Brasília. Não vamos caminhar rumo ao Congresso, mas rumo ao povo, que está na rodoviária. Os deputados que estão aqui são os que estão conosco nesta luta. Desta vez, o foco não é o Congresso, mas a população”, reiterou o locutor. Na frente da passeata, seguiram ao lado dos estudantes parlamentares como Henrique Fontana (PT-RS) e Alessandro Molon (PT-SP), o bispo Joaquim Mol, coordenador da campanha pela CNBB, e Cesar Brito. “Vivemos uma crise de representação política muito séria no país e o dia de hoje é cheio de simbolismos”, afirmou o ex-deputado Aldo Arantes, hoje coordenador da Comissão de Justiça e Paz, em caráter nacional. Segundo a assessoria de imprensa do MCCE, a coleta de assinaturas para o projeto de reforma política, além de estar sendo realizada em todas as cidades, nas igrejas e paróquias, nas seccionais da OAB, em universidades e escolas, bem como locais públicos diversos, também pode ser feita pela internet. Tem homologação automática pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pode ser acessada por meio do seguinte endereço: www.eleicoeslimpas.org.br

Fonte: www.redebrasilatual.com.br

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