Começou mal a tentativa de Aécio Neves dizer o que quer em 2014. O elogio mais caloroso que Aécio sofreu dentro de seu Partido é o de que lhe falta pegada
Começou mal, muito mal mesmo a tentativa de Aécio Neves dizer o que quer
em 2014. Depois de anunciar com antecedência que lançaria seu programa e daria
uma lição no atual governo, o
virtual candidato fez um ato, ou melhor, um “happening”, dentro do Congresso
Nacional (dia 17), que não conseguiu mobilizar nem os tucanos mais conhecidos.
A desculpa oficial arranjada para as ausências é a de que era preciso
deixar Aécio sozinho para “brilhar”. Resultado: ele sequer foi capaz
de confirmar se é candidato. Os 12 pontos, que devem ter sido inspirados na
lenda dos 12 trabalhos de Hércules, são apenas um rascunho mal acabado do que
pode vir a ser, quem sabe um dia, algo que se pareça com um programa de
governo. O evento não agradou ninguém, nem mesmo os aliados mais próximos.
Foi tão ruim que talvez nem se possa dizer que esse pontapé inicial começou
mal. Simplesmente, nem começou. O pontapé inicial foi uma furada. O elogio mais
caloroso que Aécio sofreu dentro de seu Partido é o de que ainda lhe “falta
pegada”, um eufemismo para a sensação disseminada entre os tucanos de que eles
têm, diante de si, uma pesada mala sem alça para carregar no ano que vem.
Embora o senador mineiro seja a bola da vez, o problema não é isolado. O faro
dos tucanos parece que anda prejudicado ultimamente, pelo menos, para gerar
notícias positivas. As manchetes da velha mídia foram todas frustradas. Aécio
perdeu feio para o ato em Pernambuco que juntou Dilma e Eduardo Campos. Aécio
perdeu até para a notícia de que seu marqueteiro foi afastado. O rascunho
de 12 pontos sem nó esqueceu-se de um detalhe importante em eleições: os
trabalhadores. De última hora, alertado por um irritado Paulinho, da Força
Sindical, o tucano foi obrigado a incluir algo sobre “mercado de trabalho com
maiores salários”. Ainda bem que incluíram no meio de um dos tópicos já
existentes. Do contrário, redundaria nos “13 pontos de Aécio”. O virtual
candidato usou a expressão “tolerância zero” para falar de combate à inflação.
Convenhamos, um ato falho para quem, parado em uma blitz, recusou-se ao teste
do bafômetro. De todo modo, o principal ponto desse rascunho de programa não
está nem nas linhas, nem nas entrelinhas, mas nos encontros que Aécio tem
promovido com o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central
durante o governo FHC, investidor e consultor de grandes investidores e
frequentador da Casa das Garças, templo do neoliberalismo no Brasil que reúne sacerdotes
do Plano Real e banqueiros. Já está divulgado, a quem interesses tiver, que
Fraga seria o ministro da Fazenda caso os tucanos fossem eleitos em 2014. Para
bom entendedor, basta o nome do ministro. O PSDB manteve, durante o governo
FHC, o mesmo padrão de governança econômica criado pela ditadura: a de um czar
da economia que faz e desfaz, e o presidente assina embaixo. O presidente da
República não passa de sua guarda pretoriana, para blindá-lo de pressões
políticas. É isso o que o mundo das altas finanças espera de uma gestão
econômica. O resto é detalhe. Tudo em nome da responsabilidade fiscal, aquela
que, no passado, levava o Brasil a pedir dólar ao Fundo Monetário Internacional
(FMI) e que, mais recentemente, permitiu ao governador Beto Richa (do PSDB do
Paraná) quase não ter dinheiro em caixa para pagar o 13º dos funcionários
públicos de seu Estado, não fosse um empréstimo recebido do Banco Mundial. O
importante é que agora ficou fácil. Quem quiser detalhes da economia em um
eventual governo tucano basta marcar uma conversa com Armínio Fraga. Vamos
conversar? (*) Cientista político
Fonte: http://www.cartamaior.com.br
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