Vossa Excelência Presidenta Dilma Roussef,
Nós, organizações e movimentos sociais que vivemos no campo, trabalhamos e
produzimos o alimento ao povo brasileiro, fomos convidados para uma reunião com
a presidenta Dilma Rousseff. Aceitamos o convite e esperamos que deste diálogo,
se abra um novo momento para verdadeiras soluções dos problemas que os
trabalhadores e trabalhadoras do campo vêm sofrendo há décadas e que afetam as
cidades. Através desta carta, queremos contar qual será nossa posição na
reunião com a Presidenta. O povo brasileiro está nas ruas, cobrando e reivindicando
solução aos verdadeiros problemas da classe
trabalhadora, exigindo redução nas tarifas, melhorias no transporte,
lutando por melhorias no atendimento da saúde (SUS) e educação
pública, gratuita, de qualidade, e pela democratização dos meios de comunicação, contra a repressão, entre
outros. As lutas exigem mudanças estruturais. As lutas sociais são legítimas e
somente elas podem melhorar as condições de vida de nosso povo. Estamos e
seguiremos juntos nas lutas populares que estão ocorrendo nas cidades e no
campo. Queremos manifestar nosso apoio e solidariedade às lutas e
reivindicações populares da juventude, do povo dos bairros e de todos os
trabalhadores e trabalhadoras que trabalham e vivem nas cidades. No campo, há
uma enorme dívida social e as desigualdades são cada vez maiores. As terras se
concentrando nas mãos dos latifundiários e de empresas
estrangeiras. Os bens da natureza, estratégicos, como terras, águas,
florestas, sementes, minérios, estão sendo privatizados e entregues ao controle
de grandes empresas. Cerca de 8.300 grandes proprietários
de terra, sozinhos, são donos de 83 milhões de hectares, enquanto que
4,3 milhões de famílias de trabalhadores e trabalhadoras da agricultura
familiar e camponesa possuem 70 milhões de hectares. No entanto, somos nós,
responsáveis pela produção de 70% do alimento fornecido ao povo brasileiro. O
veneno agrícola usado pelo agronegócio chega na nossa na mesa causando muitos
problemas de saúde. Os preços dos alimentos são
aumentados pela especulação das empresas. A agricultura brasileira está
dominada pelas grandes empresas transnacionais. Nove grupos empresariais
dominam e agem como cartéis nos alimentos, controlam as sementes, a indústria
de venenos, impõem os transgênicos e o uso de agrotóxicos em toda agricultura.
Desmatam grandes extensões de florestas e manguezais, invadem e perseguem
populações indígenas, pescadores e quilombolas e trabalhadores do campo, impõem
trabalho escravo, criminalizam e perseguem as organizações e aumentam os preços
dos alimentos para as populações das cidades. Este é o modelo de agricultura
chamado de agronegócio, que não paga imposto para exportar, recebe grandes
volumes de dinheiro público e tem sido privilegiado nas políticas de Estado e
de governos. QUEREMOS MUDANÇAS! As ruas pedem mudanças para melhorar a vida dos
trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade. Na agricultura esperamos
que o corram mudanças profundas. É momento dos governos superarem posturas
conservadoras e avançarem no ritmo e profundidade que as lutas populares estão
exigindo. O que queremos do governo: 1. Recuperar a soberania nacional sobre as
terras brasileiras. Propomos que o governo anule as áreas já compradas e
desaproprie todas as terras controladas por empresas estrangeiras. 2. Acelerar
a Reforma Agrária e que sejam assentadas imediatamente os milhares de famílias
acampadas a beira das estradas. 3. Políticas públicas de apoio, incentivo e
crédito para produção de alimentos baratos, saudáveis, sem venenos com o
fortalecimento do campesinato. E adoção de programas estruturais para juventude
e para as mulheres do campo. 4. Garantir os direitos dos povos do campo, com o
reconhecimento e demarcação imediata das terras indígenas, quilombolas e dos
direitos dos atingidos por barragens, territórios pesqueiros e outros. 5. O
imediato banimento dos agrotóxicos já proibidos em outros países do mundo, a
proibição das pulverizações aéreas e políticas de redução do uso de agrotóxicos
no campo. E profunda revisão na política de liberação dos transgênicos e controle
social. 6. Que o governo assuma uma política de controle do desmatamento das
florestas em todo país e apóie a recuperação de áreas degradadas e de
reflorestamento pela agricultura familiar e camponesa. 7. O cancelamento da
privatização dos recursos naturais como água, energia, minérios, florestas,
rios e mares. Propomos a retirar do regime de urgência no congresso nacional,
do projeto de Código de Mineração, e que o governo/congresso faça um amplo
debate nacional com os trabalhadores brasileiros, para produzir um novo código
de acordo com os interesses do povo brasileiro. 8. Implementação imediata de
programas para erradicar o analfabetismo e garantir escolas em todas as
comunidades rurais. 9. Suspensão de todos os leilões de privatização de áreas
de perímetros irrigados no nordeste e destinação imediata para o INCRA realizar
assentamentos para agricultura familiar e camponesa e adoção de políticas
estruturais para democratização da água e para ajudar as famílias a enfrentar
as secas. 10. Fim da lei Kandir, que isenta de impostos as grandes empresas exportadoras de matérias primas
agrícolas, energéticas e minerais. Além disso, apoiamos todas as reivindicações
populares e a necessária reforma política de nosso país, com a convocação
imediata de um plebiscito popular. Para finalizar, queremos, através desta
carta, contar com o apoio de vocês, trabalhadores e trabalhadoras das cidades.
Seguiremos juntos, nos mobilizando e lutando. Contem conosco! Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) Via Campesino – Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragens
(MAB), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento das mulheres
camponesas (MMC), Movimento dos Pescadores e Pescadoras (MPP), Conselho Indigenista
Missionário (CIMI), A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades
Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Federação dos Estudantes de Agronomia do
Brasil (FEAB), Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal
(ABEEF), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Entidzade Nacional de Estudantes de
Biologia (ENEBIO), Articulação dos Empregados Rurais do Estado de Minas Gerais
(ADERE), Movimento dos Atingidos pela Mineração (MAM), Articulação dos Povos
Indígenas do Brasil (APIB), Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e
Desenvolvimento Agropecuário (SINPAF) Federação dos Trabalhadores na
Agricultura Familiar (FETRAF), Movimento Camponês Popular (MCP), Associação
Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), Articulação Nacional de Agroecologia
(ANA), Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA)
Fonte: www.pjr.org.br
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