Invertendo o senso comum da geração
de nove entre dez analistas políticos que se formaram no passado (anos oitenta,
estertores da ditadura, eleições da UNE e do DCE e conversas em mesa de bar),
numa mistureba intelectual periférica de curso de ciências humanas e movimento
estudantil, vale dizer, entre maquiavelismo de manual e marxismo stalinistas –,
ambas as vertentes simplórias e taticistas –, por incrível que pareça e ao
contrário das aparências, o cínico, o sábio das malvadezas, em política, na
verdade, é sempre o mais ingênuo. Na canção sertaneja, o burro é quem mais
trabalha; em política, o cínico é o mais ingênuo.
Por um motivo simples: o cínico tende
a raciocinar como se a correlação de forças já estivesse de antemão pronta e
nunca mudasse. O tipo ideal mais bem acabado do cínico em política é aquele
sujeito que sempre se vale, para emitir suas opiniões, das pesquisas
eleitorais. Para o cínico, Dilma já ganhou no primeiro turno e a eleição
presidencial vai ser um passeio. Os cínicos são glaciais.
A direção nacional do PT nunca pensou
assim. Até para – quem sabe vai que aconteça? –, vencer no primeiro turno, os
luas-pretas ao estilo de Rui Falcão cogitam a hipótese de eleição em segundo,
mais preciso em termos históricos de eleições nacionais brasileiras, desde os
tempos idos de Collor de Mello.
Por isso, os números frios das
pesquisas, a preço de hoje, deixam transparecem recall, políticas sociais
(Bolsa-Família; Minha Casa, Minha Vida; Mais Médicos), numa situação em que
valem o poder do aparato dos executivos e a sufocante propaganda midiática do
governo - não existe igual, no grau do Brasil, em nenhum país democrático
do mundo, por exemplo, os Estados Unidos. As coligações ainda não estão
montadas e rigorosamente o debate eleitoral circulas apenas entre os agentes
políticos e a chamada “sociedade civil organizada”.
Por que um arremedo de partido como o
PSDB, que sequer é uma legenda de plena inserção nacional, consegue galgar
o feito de ir ao segundo turno contra os candidatos do PT (Lula e Dilma) desde
2002? É fantástico. As razões mais profundas atendem à polarização ideológica
entre esquerda e direita, progressistas e conservadores morais, que não domina
(as pessoas vão, tolerantemente, tocando o dia-a-dia até certo ponto), mas
criva a sociedade brasileira de alto a baixo, e de fato somente tão o tom das
campanhas presidenciais na hora final de definição do voto. Não se enganem o
PSDB, ou mesmo um candidato de outro partido de oposição, mesmo que seja um
poste, tende inevitavelmente a crescer em intenções de votos nas proximidades
de desfecho do primeiro turno.
Como o governo federal do PT tem
dificuldades congênitas de fazer um debate ideológico permanente contra a pauta
conservadora, e o lulismo penetre entre os mais pobres mais pelo carisma e a troca
imediatista do que pelas ideias, as campanhas da situação estão sempre na
dependência da montagem de uma grande coligação de partidos que resultem em
tanta vantagem estrutural que a avalanche ideológica de reta final de campanha
seja minimizada. Aqui localizamos o papel primordial do PMDB, o segundo maior
partido brasileiro e, apesar de decadente, o primeiro nos grotões eleitorais,
além de partido-emblema do jogo congressual do presidencialismo (fisiológico)
de coalizão.
Quando todos os ingredientes de uma
eleição consagradora pareciam à palma da mão, Dilma cometeu uma barbeiragem na
reforma ministerial em curso (até antes, uma rotineira troca de quadros),
tentando afastar o Senador Eunício de Oliveira das eleições no Ceará, em
benefício dos irmãos Cid e Ciro Gomes, e também, em complemento se indispondo
com a bancada de deputados federais do PMDB (leia-se este incrível Eduardo
Cunha). Como se não bastasse, o PT do Rio (nada a ver com Dilma, que no fundo
nem concorda com esta decisão dos cariocas) resolve acabar um matrimônio de
oito anos com Sérgio Cabral e resolve lançar a candidatura de meu dileto
amigo Lindberg Farias a governador no Estado do funk e da bossa nova.
Em suma, a presidente trincou a
relação com o PMDB. E já vai correndo atrás do prejuízo, partindo para uma
política de “redução de danos” receitada pelo comandante Lula, cuja próxima
dosagem será uma reunião dominical de “discussão da relação”, logo cedo, no
Palácio da Alvorada. Aguardemos as decisões, nem que seja delas, a falta.
E agora? Apesar de tudo, dificilmente
o PMDB deixará de marchar numa coligação oficial com o PT. Mas o matrimônio não
será mais consagrado com flores. Trata-se de um casamento já ameaçado de
divórcio, pois, pelas costas e nas alcovas, em vários diretórios estaduais (Rio
de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, etc.) o amante traído parece
ter caído na vida e já foi visto em cenas indecorosas com outros pretendentes
sedutores.
Fonte: http://www.wscom.com.br/
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