Um grupo de
pequenos agricultores da Paraíba usa sementes
crioulas de variedades tradicionais que consegue resistir à seca. Os
agricultores formam as lavouras com materiais que mais se adaptam às
propriedades. Em uma região onde o clima é tão diverso como no semiárido, os
grãos representam um patrimônio da agricultura local.
Há uma
relação muito forte dos agricultores paraibanos com as sementes
crioulas, chamadas na região de sementes de paixão. “A semente da paixão é uma
semente que as famílias vêm guardando, conservando, selecionando. É uma semente
que respeita o clima, o solo, o ambiente e a cultura das pessoas.
Ela tem esse nome porque nós somos apaixonados
por ela. Ela é quem faz com que a gente tenha vida na agricultura familiar”,
diz Eusébio Albuquerque, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Família que
planta unida, também colhe unida. No município de Queimadas, o agricultor Pedro
de Luna e os dois filhos trabalham na lida com o feijão preto, um dos principais
produtos da propriedade. O grão foi plantado com sementes tradicionais.
A
agricultora Silvia Pereira também planta, colhe e preserva a tradição das
sementes da paixão. Ela divide o trabalho com o pai, que ficou entusiasmado com
o resultado visto no campo. Além do feijão, os agricultores estão multiplicando
uma das últimas novidades introduzidas no roçado: um tipo de sorgo mais
rentável do que estavam acostumados a produzir na propriedade.
Aos poucos
os agricultores vão formando as lavouras com materiais que mais se adaptam às
propriedades. Em uma região onde o clima é tão diverso como no semiárido, as
sementes da paixão representam um patrimônio da agricultura local. Mas não
significa que se determinada variedade vai bem numa área, ela terá um bom
desempenho em outra. São tantos os microclimas que não é raro encontrar
lavouras vistosas quase ao lado de terrenos muito secos.
A
experiência do agricultor que vive na região faz com que ele tenha sabedoria
para esperar a pouca chuva. Muitas vezes, 180 milímetros distribuídos em quatro
meses são suficientes para transformar a paisagem e levar fartura para a
produção.
O trabalho
de preservação conta com o apoio de várias instituições. O agrônomo Emanoel
Dias coordena o Núcleo das Sementes da Paixão na ASPTA, organização
não-governamental que valoriza a agricultura familiar e a agroecologia. “É uma
beleza visualizar a diversificação. Cada um tem um papel. O milho para
alimentação das famílias, para alimentação dos animais. O agricultor se sente
valorizado porque produz, se alimenta e também alimenta a sociedade”, diz.
A ideia de
uma lavoura de sementes da paixão é aproveitar o máximo possível as áreas da
pequena propriedade. No mesmo roçado tem fava de moita e fava de rama que trepa
no pé de milho. As culturas ficam juntas e misturadas. Isso sem contar que até
poucos dias atrás, o feijão também dividia o espaço na propriedade do
agricultor José de Oliveira Luna, no município de Alagoa Nova.
Com tanta variedade na mesma área, a lavoura
fica com a aparência meio tumultuada. A escolha dos grãos que irão servir de
semente para o próximo plantio é feita de maneira criteriosa. Em outra área da
propriedade, o agricultor apostou foi em um consórcio onde o destaque é a
abóbora, conhecida como jerimum na região.
A fartura
que sai do campo é guardada em garrafas pet e em silos. Cerca de 8,2 mil
famílias trabalham com as sementes da paixão em todo o estado da Paraíba.
Algumas famílias reservaram um cômodo da casa para guardar o material inclusive
dos vizinhos. Os chamados bancos comunitários armazenam um tesouro colorido.
Depois de selecionar e secar as sementes, os agricultores deixam a produção
armazenada até o próximo período de chuva.
Nas sementes
que vão para o silo, o agricultor José de Oliveira Luna mistura uma colher de
pimenta do reino para cada dez quilos de feijão para não dar caruncho. Ele
tampa bem o recipiente vedado com sabão de pedra.
Por conta do
resgate das variedades crioulas o estado da Paraíba publicou uma lei que,
somada a uma resolução federal na legislação de sementes e mudas, contribuiu
para o fortalecimento desse trabalho. Para compartilhar a riqueza da produção,
os agricultores da Paraíba promovem encontros para trocar sementes. Passar para
frente, de um vizinho para outro ou de pai para filho, as sementes crioulas se
tornaram uma bandeira de resistência à seca e de afirmação da agricultura
familiar do Nordeste.
O trabalho
com sementes crioulas existe em vários estados do Brasil. Essa diversidade
genética local garante a sobrevivência da agricultura familiar.
Globo Rural mostrou no Domingo 18/05/2014 a preservação das 'sementes da
paixão' na Paraíba. Por serem rústicas, elas sobrevivem melhor aos
períodos de seca. Programa entrevista produtor francês de uvas orgânicas alvo
de polêmica.
O Globo Rural o ultimo domingo
(18) mostrou a história de um grupo de agricultores na Paraíba que trabalha com
a preservação de sementes crioulas, também conhecidas como "sementes da
paixão". O grupo é composto por diferentes plantas, como feijão, milho,
fava, abóbora e até algumas espécies de hortaliças.
A reportagem apresenta o
tipo de material com o qual os agricultores trabalham, mostra como é feito o
armazenamento destas sementes e também como funciona o sistema de troca do
material preservado. O repórter César Dassie conta que as "sementes da paixão"
têm a vantagem de serem rústicas e exigirem pouco investimento em adubo, além
de extremamente capazes de sobreviver aos períodos de seca. No entanto, elas
têm uma produtividade menor que as desenvolvidas em laboratório.
Elas são tão importantes,
especialmente para os pequenos agricultores, que o governo do estado da Paraíba
tem um programa de apoio a quem faz essa preservação. O governo adquire
sementes dos cultivadores e auxilia na realização das feiras de troca, onde os
cultivadores se reúnem para fazer intercâmbio das sementes.
Fonte: http://g1..globo.com
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