A conferência Fome, Nutrição e Justiça
Climática começaram nesta segunda-feira (15) em Dublin, na Irlanda,
reunindo 350 delegados de 60 países e o cenário apresentado pelos primeiros
estudos e discursos é preocupante. “A relação entre fome, má nutrição e
mudanças climáticas fica evidente quando ouvimos as experiências dos mais
pobres e vulneráveis; pessoas que batalham contra os padrões incertos do clima
diariamente para alimentar suas famílias”, afirmou Mary Robinson, ex-presidente
da Irlanda e presidente da Fundação Mary Robinson de Justiça Climática. Segundo
um dos estudos divulgados na abertura do evento, de autoria do Grupo
Consultivo de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR), milhões de
pessoas na Ásia e na África ficarão sem acesso aos alimentos mais básicos
devido ao aumento nos preços causado por temperaturas extremas, enchentes e
secas. “A produção de alimentos precisa crescer 60% até 2050 apenas para
atender a demanda de uma população mundial de nove bilhões de pessoas. As
mudanças climáticas podem impedir esse crescimento. Mas o que mais nos preocupa
não é tanto a produtividade agrícola, mas a situação de vulnerabilidade de um
bilhão de pessoas que já têm dificuldade para encontrar alimentos e que serão
as mais atingidas pelas mudanças climáticas. Elas não têm a capacidade de se
adaptar”, declarou Frank Rijsberman, chefe do centro de pesquisa de culturas
agrícolas do CGIAR. Cerca de 100 agricultores da África, Ásia e América Central
estão na Irlanda para dar seu testemunho sobre a situação atual em que vivem e
o que esperam para o futuro. “Geralmente, quando as pessoas estão em posições
de poder e influência, a coisa mais importante a se fazer é escutar aqueles que
precisam de ajuda. Esta conferência dará voz aos mais vulneráveis, criando uma
oportunidade para que os legisladores e governantes ouçam, aprendam e, assim,
cumpram seu papel de liderar”, disse Mary Robinson. Outro estudo apresentado
foi a Avaliação Climática Nacional, documento
produzido pelo Programa de Pesquisas sobre
Mudanças Globais do governo dos Estados Unidos. A Avaliação afirma que o
aquecimento do planeta e o aumento da frequência e intensidade dos eventos
climáticos extremos, como a seca que afetou mais da metade do território dos
EUA no ano passado, terão consequências desastrosas para a agricultura do país.
A indústria do vinho da Califórnia, por exemplo, avaliada em US$ 50 bilhões e
que responde por milhares de empregos, deve encolher até 70% nas próximas
quatro décadas. “As mudanças climáticas já estão piorando os eventos extremos.
Estamos registrando muitas noites quentes, poucos dias frios e mais ondas de
calor, tempestades e enchentes. Esses fenômenos, que já impactam na
agricultura, significarão perdas ainda mais significativas no futuro”, explicou
Jerry Hatfield, diretor do Laboratório Nacional para a Agricultura e Meio
Ambiente dos Estados Unidos. A conferência em Dublin prossegue até a
terça-feira.
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