terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Reflexão “Vossa Excelência”



Artigo de [eduardonribeiro] | 09/09/ 2009 
       
"Vossa Excelência..." Vocês têm acompanhado os diálogos entre os nossos parlamentares?
Em setembro de 2005, o deputado Fernando Gabeira chamou-nos a atenção ao afirmar ao então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti: "... Vossa Excelência na presidência da Câmara é um desastre para o Brasil. Vossa Excelência, ou se cala, ou vamos iniciar um movimento para derrubá-lo". Severino, respondeu: "Recolha-se à sua insignificância".
Em abril de 2009, atônitos, vimos e ouvimos os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, do STF. Mendes: "Vossa Excelência não tem condições de dar lição a ninguém". Barbosa: "E nem Vossa Excelência. Vossa Excelência me respeite... Vossa Excelência está destruindo a Justiça desse país, e vem agora dar lição de moral em mim? Saia à rua, ministro Gilmar".
Já no início de agosto, no Senado Federal, Pedro Simon discursava a favor da renúncia de José Sarney, e cita o ex-presidente Fernando Collor, hoje senador e aliado do presidente da Câmara. Collor sai correndo do seu gabinete, e, no plenário, ataca agressivamente Simon: "Vossa Excelência, são palavras que não aceito. Eu quero que o senhor as engula e as digira como achar conveniente".
Ainda em agosto, no mesmo Senado, Eduardo Suplicy interrompe o discurso de José Sarney que homenageava o centenário do escritor Euclides da Cunha: "Quando Vossa Excelência observou que não cometeu qualquer falta, que não sente culpa de coisa alguma, ora presidente Sarney. Há ocasiões que, se erros cometemos, é importante reconhecermos. Se Vossa Excelência não se deu conta que alguns procedimentos não foram adequados, seria importante ouvir seus companheiros no Senado...". O senador Sarney respondeu: "Vossa Excelência coloca neste momento um gesto que não é de Vossa Excelência. A não ser que tenha sido tomado por paixão política para que tenha desrespeitado as regras da educação e convivência parlamentar".
"Regras de educação", disse a "Sua Excelência" Sarney. Isso faz parte do decoro parlamentar, termo utilizado no Direito para designar um código de ética e conduta em determinadas instituições. No entanto, esquecem as "Suas Excelências" que quando dizemos "Vossa Excelência", devemos entender que, além de reconhecer na pessoa a sua excelência moral, também reconhecemos a grandeza da sua virtude. Pelo que vimos nos exemplos acima, a regra do decoro é uma ironia às verdades que as "Suas Excelências" estão escondendo por detrás da "Vossa Excelência". O uso do pronome não é o problema, mas, sim, a ética das "Suas Excelências".
Certa vez um homem dirigiu-se a Jesus chamando-o de "bom". Ele respondeu: "Por que me chamas bom? Bom há um só, que é Deus". Creio que nossos parlamentares não se contentam em serem tratados por "bom" nem por "muito bom" nem por "excelente". Têm que ser "Vossas Excelências"; eles são "excelentíssimos".
Entendo hoje porque é quase impossível condenar esses ilustres por corrupção. Afinal, se houver uma condenação a um (a) "Sua Excelência", a expressão "Vossa Excelência" é uma mentira. Um "excelentíssimo" jamais é corrupto.
Se o cartão vermelho do Suplicy ao Sarney servisse para todos, será que sobraria alguém que pelo menos pudesse ser chamado de "bom" entre as "Suas Excelências"?
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Reflexão:
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Fonte: Revista ZN 

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