Na quarta-feira (20), começou mais uma
edição do Fórum Econômico de Davos, na Suíça. O fórum já teve mais prestígio e
proeminência. Mas ainda continua sendo um espaço de importância geo-política e
econômica. No dia 19, o jornalista Graeme
Wearden listou no The Guardian oito temas que ele considera chaves para o
encontro deste ano (a lista é dele, os comentários são meus):
É crescente a
automação dos processos de tomada de decisão em bolsas de valores, empresas
financeiras, agências de governo, até mesmo de protocolos hospitalares e outras
áreas da vida econômica e social
2. A crise dos
refugiados e o terrorismo na Europa e no mundo. O tema dos refugiados têm alcance
mundial. O Brasil invocou nesta área, ao definir a criação de categorias como o
"refugiado econômico" e o "refugiado de catástrofes
ambientais".
O tema é
particularmente sensível na Europa, devido à vinculação que políticos de
direita vêm fazendo sistematicamente entre o aumento dos refugiados e o aumento
potencial de ataques terroristas ou de episódios como o arrastão sexual em
Colônia, na Alemanha, durante a noite de Ano Novo.
3. A turbulência das
bolsas e mercados. O ano de 2016 abriu com enormes turbulências nas bolsas do
mundo inteiro. Na China a situação tem níveis dramáticos, indicando fuga de
capitais e provocando reações e efeitos negativos em todas as economias do
mundo, inclusive na brasileira. O preço das commodities despenca. Mas nada de
importante ocorrerá nesta área enquanto não houver a disposição de criar
mecanismos internacionais de controle destes mercados.
As mudanças
climáticas. O mundo atingiu um outro patamar, mais positivo, nesta área com a
celebração do acordo ao final da COP21. Porém, há fatores de risco quanto a
este tema, sendo o principal deles a eleição de algum dos pré-candidatos
republicanos à presidência dos Estados Unidos, já que todos eles prometem jogar
o acordo no lixo, junto com o acordo sobre o programa nuclear do Irã e o
reatamento de relações diplomáticas com Cuba.
Além de que
provavelmente não só reabririam a prisão de Guantánamo (se o presidente Obama
cumprir a promessa de fecha-la até o final do seu mandato), como abririam
outras pelo mundo afora e retomariam a prática das torturas. 5. A sempiterna
crise econômica europeia. O que fazer para dinamizar a combalida economia
europeia?
Bom, enquanto
prevalecer a atual hegemonia neoliberal no continente e na formação de seus
economistas não haverá muito o que fazer. As economias do continente têm muitas
vezes seus dados sobre desemprego parcialmente maquiado pela fuga de emigrantes
para outros países. Como a chegada dos milhões de refugiados incidirá sobre
esta realidade? A ver. 6. A desigualdade social planetária. Trato deste tema ao
final deste artigo.
A produção de vacinas
e remédios. O biênio 2014/2015 trouxe à tona a necessidade de respostas mais
rápidas e organizadas a catástrofes como o surto do vírus Ebola no Ocidente da
África. Mas há outros fenômenos endêmicos, como a malária, a dengue, agora o
zika no Brasil.
Ao lado deles, há a crescente consciência da necessidade de
combater preventivamente cânceres e doenças vasculares. Tudo isto depende do
melhor controle público sobre a produção de remédios e vacinas.
A relação entre
crimes cibernéticos e liberdades civis. A multiplicação dos crimes (até da
guerra) nos espaços virtuais e das violações de direitos civis (como o da
privacidade) demonstrou a necessidade de se abrir o caminho para uma
atualização da legislação internacional a respeito. Com a adoção de seu novo
Marco Regulatório, o Brasil mostrou o caminho. Mas isto não chega. Um Brasil só
não faz verão no mundo. Sobre a
desigualdade:
A Oxfam (sigla para
The Oxford Committee for Famine Relief, uma confederação fundada na Inglaterra
em 1942 e que hoje reune 17 organizações que atuam em 94 países) vai levar seu
relatório anual sobre a desigualdade ao Fórum. O relatório aponta índices dramáticos.
As 62 pessoas mais ricas do mundo detém tanta riqueza quanto metade da
população mundial, cuja estimativa, segundo o The Economist é de 7,4 bilhões de
pessoas. 1% da população detém a mesma riqueza que o restante 99%.
Entre 2010 e 2015 a
desigualdade aumentou vertiginosamente. Os 50% mais pobres do planeta viram
suas posses diminuirem em 41%, apesar do número de habitantes do planeta ser
acrescido em 400 milhões de pessoas. Já aqueles 62 mais ricos acresceram seu
patrimônio em 500 bilhões de dólares, atingindo a marca de 1,76 trilhões de
dólares.
Para comparar, o PIB
brasileiro, em seu auge, algum tempo atrás, passou um pouco dos três trilhões
de dólares anuais, e agora deve andar pelos 2,4 trilhões. Para completar este
quadro devastador, a Oxfam revela que 30% da riqueza africana é mantida
"offshore".
E isto é, fora do continente, o que implica uma evasão
anual de 14 bilhões de dólares em impostos sonegados, cuja aplicação poderia,
entre outros efeitos, garantir escola para todas as crianças do continente.
A propósito: a única
região do globo onde, neste período, a desigualdade diminuiu, foi a América
Latina, Brasil inclusive. Para desespero dos nossos "impichadores". Seria
possível acrescentar mais dois ítens à lista do blogueiro da área econômica do
Guardian:
o combate à fome e a paz mundial - sobretudo, hoje, na Síria e
Iraque, mas também em outras regiões. O primeiro tema está ligado ao do combate
à desigualdade. O segundo também, mas depende da revalorização e reforma de
organismos internacionais, como a ONU.
Estará o Fórum de
Davos à altura de tais desafios? Com seu progressivo esvaziamento, o fórum, que
já era pobre em matéria de criação de vetores de ação, ficou mais pobre ainda,
o que compromete sua eficácia. Seria de esperar uma maior eficácia de outros
fóruns, como o Fórum Social Mundial, ora reunido, sob forma temática, em seu
berço, Porto Alegre.
Mas o FSM também vem
passando por um processo de esvaziamento, com sua transformação em espaço de
intercâmbio de ideias tão somente. Mesmo assim, também não se pode subestimar
sua importância, inclusive como contraponto ao mundo estratificado de Davos.
Fonte: Rede Brasil Atual