"Vossa Excelência..." Vocês têm
acompanhado os diálogos entre os nossos parlamentares?
Em setembro de 2005, o deputado
Fernando Gabeira chamou-nos a atenção ao afirmar ao então presidente da Câmara,
Severino Cavalcanti: "... Vossa Excelência na presidência da Câmara é um
desastre para o Brasil. Vossa Excelência, ou se cala, ou vamos iniciar um
movimento para derrubá-lo". Severino, respondeu: "Recolha-se à sua
insignificância".
Em abril de 2009, atônitos, vimos e ouvimos os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, do STF. Mendes: "Vossa Excelência não tem condições de dar lição a ninguém". Barbosa: "E nem Vossa Excelência. Vossa Excelência me respeite... Vossa Excelência está destruindo a Justiça desse país, e vem agora dar lição de moral em mim? Saia à rua, ministro Gilmar".
Já no início de agosto, no Senado Federal, Pedro Simon discursava a favor da renúncia de José Sarney, e cita o ex-presidente Fernando Collor, hoje senador e aliado do presidente da Câmara. Collor sai correndo do seu gabinete, e, no plenário, ataca agressivamente Simon: "Vossa Excelência, são palavras que não aceito. Eu quero que o senhor as engula e as digira como achar conveniente".
Ainda em agosto, no mesmo Senado, Eduardo Suplicy interrompe o discurso de José Sarney que homenageava o centenário do escritor Euclides da Cunha: "Quando Vossa Excelência observou que não cometeu qualquer falta, que não sente culpa de coisa alguma, ora presidente Sarney. Há ocasiões que, se erros cometemos, é importante reconhecermos. Se Vossa Excelência não se deu conta que alguns procedimentos não foram adequados, seria importante ouvir seus companheiros no Senado...". O senador Sarney respondeu: "Vossa Excelência coloca neste momento um gesto que não é de Vossa Excelência. A não ser que tenha sido tomado por paixão política para que tenha desrespeitado as regras da educação e convivência parlamentar".
"Regras de educação", disse a "Sua Excelência" Sarney. Isso faz parte do decoro parlamentar, termo utilizado no Direito para designar um código de ética e conduta em determinadas instituições. No entanto, esquecem as "Suas Excelências" que quando dizemos "Vossa Excelência", devemos entender que, além de reconhecer na pessoa a sua excelência moral, também reconhecemos a grandeza da sua virtude. Pelo que vimos nos exemplos acima, a regra do decoro é uma ironia às verdades que as "Suas Excelências" estão escondendo por detrás da "Vossa Excelência". O uso do pronome não é o problema, mas, sim, a ética das "Suas Excelências".
Certa vez um homem dirigiu-se a Jesus chamando-o de "bom". Ele respondeu: "Por que me chamas bom? Bom há um só, que é Deus". Creio que nossos parlamentares não se contentam em serem tratados por "bom" nem por "muito bom" nem por "excelente". Têm que ser "Vossas Excelências"; eles são "excelentíssimos".
Entendo hoje porque é quase impossível condenar esses ilustres por corrupção. Afinal, se houver uma condenação a um (a) "Sua Excelência", a expressão "Vossa Excelência" é uma mentira. Um "excelentíssimo" jamais é corrupto.
Se o cartão vermelho do Suplicy ao Sarney servisse para todos, será que sobraria alguém que pelo menos pudesse ser chamado de "bom" entre as "Suas Excelências"?
Em abril de 2009, atônitos, vimos e ouvimos os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, do STF. Mendes: "Vossa Excelência não tem condições de dar lição a ninguém". Barbosa: "E nem Vossa Excelência. Vossa Excelência me respeite... Vossa Excelência está destruindo a Justiça desse país, e vem agora dar lição de moral em mim? Saia à rua, ministro Gilmar".
Já no início de agosto, no Senado Federal, Pedro Simon discursava a favor da renúncia de José Sarney, e cita o ex-presidente Fernando Collor, hoje senador e aliado do presidente da Câmara. Collor sai correndo do seu gabinete, e, no plenário, ataca agressivamente Simon: "Vossa Excelência, são palavras que não aceito. Eu quero que o senhor as engula e as digira como achar conveniente".
Ainda em agosto, no mesmo Senado, Eduardo Suplicy interrompe o discurso de José Sarney que homenageava o centenário do escritor Euclides da Cunha: "Quando Vossa Excelência observou que não cometeu qualquer falta, que não sente culpa de coisa alguma, ora presidente Sarney. Há ocasiões que, se erros cometemos, é importante reconhecermos. Se Vossa Excelência não se deu conta que alguns procedimentos não foram adequados, seria importante ouvir seus companheiros no Senado...". O senador Sarney respondeu: "Vossa Excelência coloca neste momento um gesto que não é de Vossa Excelência. A não ser que tenha sido tomado por paixão política para que tenha desrespeitado as regras da educação e convivência parlamentar".
"Regras de educação", disse a "Sua Excelência" Sarney. Isso faz parte do decoro parlamentar, termo utilizado no Direito para designar um código de ética e conduta em determinadas instituições. No entanto, esquecem as "Suas Excelências" que quando dizemos "Vossa Excelência", devemos entender que, além de reconhecer na pessoa a sua excelência moral, também reconhecemos a grandeza da sua virtude. Pelo que vimos nos exemplos acima, a regra do decoro é uma ironia às verdades que as "Suas Excelências" estão escondendo por detrás da "Vossa Excelência". O uso do pronome não é o problema, mas, sim, a ética das "Suas Excelências".
Certa vez um homem dirigiu-se a Jesus chamando-o de "bom". Ele respondeu: "Por que me chamas bom? Bom há um só, que é Deus". Creio que nossos parlamentares não se contentam em serem tratados por "bom" nem por "muito bom" nem por "excelente". Têm que ser "Vossas Excelências"; eles são "excelentíssimos".
Entendo hoje porque é quase impossível condenar esses ilustres por corrupção. Afinal, se houver uma condenação a um (a) "Sua Excelência", a expressão "Vossa Excelência" é uma mentira. Um "excelentíssimo" jamais é corrupto.
Se o cartão vermelho do Suplicy ao Sarney servisse para todos, será que sobraria alguém que pelo menos pudesse ser chamado de "bom" entre as "Suas Excelências"?
Reflexão:
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Fonte: Revista ZN