Em entrevista ao Estadão, formulador histórico do PT, amigo e ex-assessor
de Lula diz que o partido trocou “projeto de Brasil” por “projeto de poder”,
escanteou movimentos sociais e abandonou compromissos sociais. Para ele, Dilma
montou “ministério esdrúxulo”
Referência histórica do PT, amigo pessoal do
ex-presidente Lula há três décadas e ex-vizinho da presidenta Dilma em Belo
Horizonte, Frei Betto divulgou um manifesto, durante a campanha eleitoral, com
13 motivos para votar na reeleição da petista.
Três meses após a posse da presidenta reeleita, o
religioso demonstra decepção com Dilma e o PT e diz que as 13 razões não foram
abraçadas pela presidenta, a quem acusa de ter montado um “ministério
esdrúxulo”.
Para ele, o
país assiste ao começo do fim do Partido dos Trabalhadores, que tende a virar
um “arremedo” do PMDB. Em entrevista à coluna de Sônia Racy,
no jornal O Estado de S. Paulo, Frei Betto diz que o PT só tem uma
saída:
ser fiel às
suas origens e buscar a governabilidade pelo estreitamento de seus vínculos com
os movimentos sociais. “Fora disso, tenho a impressão de que estamos começando
a assistir ao começo do fim. Pode até perdurar, mas o PT tende a virar um
arremedo do PMDB”, criticou.
Ex-coordenador
do Fome Zero no início do primeiro governo Lula, o religioso diz que, em 12
anos de governo, o PT não conseguiu tirar do papel nenhuma reforma de estrutura
prometida em seus documentos originais, trocou um “projeto de Brasil” por um
“projeto de poder”, jogou os movimentos sociais para escanteio e ficou refém e
dependente de “alianças espúrias” com o Congresso.
Na avaliação
dele, o atual governo subverte a história do PT e se aproxima do receituário
tucano: “Quem assistiu ao filme Adeus, Lenin! pode fazer o seguinte
paralelo: se um cidadão brasileiro, disposto a votar na reeleição da Dilma,
tivesse entrado em agonia no início de agosto de 2014 e despertasse agora,
neste mês de março, no hospital e visse o noticiário, certamente estaria
convencido de que o Aécio havia vencido a eleição”.
Para Frei
Betto, o atual governo opera em função de um “detalhe”, o ajuste fiscal, e não
de um “projeto histórico”. O religioso diz que, “apesar de todos os pesares –
põe pesares nisso”, o Brasil viveu nos 12 anos de governo do PT os melhores
anos de sua história republicana na área social, com a retirada da miséria de 36
milhões de pessoas.
O problema,
afirma, é que a população, mesmo tendo hoje maior acesso aos bens de consumo,
continua sem ter acesso aos serviços básicos. “Essa família continua no
barraco, sem saneamento, em um emprego precário, sem acesso a saúde, educação,
transporte público e segurança de qualidade.
“O governo
facilitou o acesso dos brasileiros aos bens pessoais, mas não aos bens sociais”,
declarou. Ainda na entrevista, o religioso questiona onde estão os líderes do
PT que visitavam as favelas e periferias, que participavam de assembleia de
sem-teto e se reuniam com Lideranças
indígenas e quilombolas.
Frei Betto dá como certo que Lula será o candidato do
PT à Presidência em 2018, mas diz que nem mesmo a volta do ex-presidente é
capaz de mudar o cenário. “O problema é o rumo que o partido tomou e imprimiu
ao governo do Brasil.”
Fonte http://congressoemfoco.uol.com.br