Nonato Guedes nonaguedes@uol.com.br
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O deputado estadual Luciano
Cartago tem enfrentado uma verdadeira via crucis, nos bastidores, para segurar
o seu projeto de candidato a prefeito de João Pessoa pelo Partido dos
Trabalhadores. Sistematicamente sabotado por grupos internos que preferem uma aliança
com o PSB do governador Ricardo Coutinho, Luciano partiu para o confronto no
voto, disputando, abertamente, a preferência da militância petista. Obteve
vitórias repetidas, empolgando com a tese da retomada do protagonismo do PT no
processo político-eleitoral do Estado, principalmente na capital, num esforço
para quebrar a dependência em relação a outras agremiações. Cartaxo estendeu as
mãos ao deputado federal Luiz Couto e já avisou que vai esgotar todas as
possibilidades de diálogo para convencer o parlamentar a encampar sua
aspiração. É uma batalha árdua e, talvez, inglória. A mais recente resolução da
Executiva nacional do PT, avocando a si a deliberação sobre candidaturas
próprias ou alianças, que na Paraíba atinge redutos como a capital e Campina
Grande, foi mais um golpe na luta obstinada de Luciano para ter uma
chance. A resolução da cúpula nacional é ambígua, mas ao mesmo tempo
taxativa quando alerta que qualquer coligação a ser feita em grandes centros
deve atender a diretrizes de tática eleitoral traçadas em Brasília. De acordo
com essas diretrizes, a tática não passa necessariamente pela conquista de
vitórias eleitorais, mas pela garantia da coalizão que dá sustentabilidade
política ao governo da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional. arco da
coalizão é o mais abrangente possível, congregando partidos que se dizem
integrantes da base como o PSB, o PP e o PTB, entre outros menos cotados, já
que o PMDB, raramente citado, tem bancadas fortes na Câmara e no Senado e ainda
por cima conta com o vice-presidente da República, Michel Temer, que só é
chamado pela presidente Dilma para descascar abacaxis e pacificar ânimos dentro
do seu partido, não necessariamente para discutir a partilha de espaços ou o
incremento de influência dentro do governo. OCartaxo tem um bom perfil junto a
segmentos do eleitorado, mas cometeu a “heresia” de descartar a aliança com o
PSB, que atualmente, na Paraíba, comanda o governo do Estado e a prefeitura de
João Pessoa. A partir daí, passou a ser bombardeado por facções petistas que
ora ocupam espaços na administração estadual, ora estão muito bem acomodadas na
administração pessoense. Não há uma semana sem que ocorram movimentos
contestatórios e até ameaças veladas quanto ao processo de fritura da
candidatura própria. A resolução da Executiva nacional deu fôlego aos que não
absorvem Cartaxo e choca-se com testemunhos de emissários da própria direção
que vieram a João Pessoa e a Campina Grande constatar o quadro
pré-estabelecido: na capital, candidatura própria com Luciano, em Campina
aliança em torno de Daniella Ribeiro, do PP, irmã do ministro das Cidades,
Aguinaldo Ribeiro. Cartaxo é uma espécie de “Dom Quixote”, lutando contra os
moinhos de vento dentro da própria legenda.Se tivesse atentado para a
eventualidade de contestação, poderia até mesmo ter se desfiliado do PT e
ingressado em outra legenda para assegurar a candidatura. Ricardo Coutinho fez
isto com o PT no começo do ano 2000, quando detectou reações e alojou-se no
PSB. Hoje, é incensado e cortejado por petistas contrários a Cartaxo. Uma
última cartada de Luciano para se ajustar ao figurino imposto seria o de
aceitar uma aliança na capital, mas com o PMDB, ao invés do PSB. O problema é
que ele se distanciou demais de Maranhão para tentar voltar a conviver com ele.
Suas chances de manter-se candidato estão cada vez mais ameaçadas, o que não
significa que Luciano não tenha cacife para outros embates futuros. Em 2010,
desafiando os céticos, ele saiu como candidato à Assembléia e se elegeu. Tem
espaço, independente dos humores da cúpula e dos sem-votos que tentam
cristianizá-lo, desperdiçando a chance do PT ir para uma luta com chances pela
prefeitura da capit
al.
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