Escárnio
s.m. 1- o que é feito ou dito com intenção de provocar riso ou hilaridade
acerca de alguém ou algo; caçoada, troça, zombaria 2- atitude ou manifestação
ostensiva de desdém, de menosprezo, por vezes indignada 3- aquilo que é objeto
de desdém, ironia ou sarcasmo (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). A CPI do Cachoeira ameaça, com perdão da
redundância, se transformar em pura cascata... A impressão que se tem é de mero
palanque para políticos em busca de holofotes. A função precípua –
apurar a extensa malha de corrupção envolvendo empresas privadas, empresas de
fachada ("laranjas”) e poder público – não se sobressai como prioridade e
empenho da maioria dos parlamentares responsáveis pelo inquérito. Tudo que se
sabe, até agora, é graças à investigação da Polícia Federal. Felizmente ela
vazou e ficamos a par das conversas telefônicas entabuladas à sombra da
ilegalidade. E de como mandatos senatoriais são monitorados pelo crime
organizado. Ocorre que nem os advogados dos réus se mostram interessados em se
debruçar sobre as peças acusatórias reunidas pela Polícia Federal. É inócua a
sala que guarda, a sete chaves, os documentos. As provas adormecem nos
bastidores, enquanto os parlamentares buscam o brilho dos palcos. Já não se
trata de apurar, e sim de blindar. O silêncio clamoroso de Carlinhos Cachoeira
encontra eco no silêncio cúmplice das bancadas representadas na CPI e
vinculadas a governadores suspeitos. "Se tu descartas o meu, haverei de
livrar o teu”, parece dizer um partido ao outro. Não demora, Cachoeira volta às
ruas. Como tantos corruptores e corruptos cujas façanhas assombraram a nação e,
no entanto, encontraram em nosso falido sistema judiciário, feito para
assegurar imunidade e impunidade à Casa Grande e punir a senzala, brechas para
não pagar por seus crimes, e muito menos devolver aos cofres públicos a
dinheirama surrupiada. Até a Delta, empresa de alcance nacional, logrou
blindagem ao decidir a CPI investigá-la em restrito âmbito regional. Temem os
parlamentares balançar o coqueiro e ter suas cabeças rachadas pelo coco? Os
governadores suspeitos deveriam se adiantar à CPI e se prontificar a depor e
abrir o sigilo de suas contas bancárias e ligações telefônicas. Esta a atitude
que se espera de um estadista que zela por seu nome e reafirma sua postura
ética. A política é a mais pública das atividades humanas e deveria estar
respaldada na transparência de quem se reveste de um mandato concedido pelo
voto popular. A CPI não tem poder para quebrar o silêncio dos depoentes. Todos
haverão de entrar mudos e sair calados. Porém, é-lhe facultado o direito e o
dever de investigar, cruzar informações, analisar processos e quebrar sigilos
telefônicos e bancários. Resta saber se ela está interessada em sanar a vida
pública brasileira de agentes e políticos criminosos ou apenas fingir
investigar o que não convém apurar e a quem não se deve incriminar.[Frei Betto é escritor, autor de "Calendário do poder” (Rocco), entre
outros livros. www.freibetto.org - Twitter:@freibetto. Copyright 2012 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor.
Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato –
MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)].
Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=67397
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