Alguns clichês
insinuam-se sempre, quando se debate – entre a chamada “classe média” – o
cenário da participação política no Brasil. “O país está apático”. “A juventude
não sai às ruas”. “Os movimentos sociais foram cooptados”, afirma-se. Quase
sempre se agregam queixas sobre o “baixo nível do ensino”, atestado pelo mau
desempenho dos estudantes brasileiros em testes que avaliam certas habilidades
consideradas essenciais. Será mesmo verdade? Para a pesquisadora e web ativista
Drica Guzzi, que atua na Escola de Futuro da USP e coordenou projetos como
Acessa Escola, Acessa SP e a rede de formação do Tele centros. BR, quem
sustenta os pontos de vista acima está olhando o mundo com óculos errados; não
compreendeu que, em face de mudanças civilizacionais profundas, também
Política, Comunicação, Cidadania e Educação precisam ser pensadas em outras bases.
(Gostaria que você falasse um
pouco sobre a Escola do Futuro da USP.) A
Escola do Futuro foi fundada em 1989, em um momento em que a tecnologia estava
avançando e os estudos das neurociências também. Ela nasceu como um núcleo de
apoio à pesquisa para pensar o processo de aprendizado e a comunicação, que são
camadas próximas. A Escola tem essa vocação investigativa, formadora de novos
olhares e novas políticas, sempre com esse viés mais público. A internet
começou a ser comercializada no Brasil em 95. A partir de 98 vimos que as novas
tecnologias iriam de fato mudar o modo como a gente aprende, resolve questões,
troca informações. Ficou claro que as leis de mercado são muito imperativas,
que só iria ter acesso quem pudesse pagar que era privilégio para poucos. Os
governos foram percebendo que havia uma demanda, caminhando para o pensamento
de que o acesso à banda larga de qualidade deveria ser um direito do cidadão. O
Brasil avançou nos últimos anos quanto ao aumento de acesso à internet, mas há
muito ainda o que fazer. Praticamente metade da população não tem acesso. Nas
áreas rurais isso é ainda mais preocupante. E obviamente não falo só do acesso,
mas do uso qualificado de todas as possibilidades que estar na rede traz. Desde
então o campo da “inclusão digital”, nome que surgiu só em 2000 ou 2001, vem se
estabelecendo como um campo de reflexão, desenvolvimento, soluções e conceitos,
em relação à apropriação de tecnologia a serviço pessoal, profissional e da
comunidade. Nesse caminho, comecei a trabalhar no Acessa São Paulo, que é a
política pública de inclusão digital do estado de São Paulo, que logo foi se
ampliando para outros projetos de cultura e aprendizagem digital. Fizemos com o
governo federal a Rede de Formação do Tele centros BR, no Brasil todo, com a
Coordenadoria da Juventude de São Paulo um projeto de ativação dos jovens em
rede, entre outros tantos projetos. Normalmente a Escola do Futuro – USP entra
como co-responsável pelo desenho estratégico dos programas desenvolve e programa
a formação dos atores envolvidos (monitores, lideranças, gestores, projetistas,
facilitadores, entre outros), curadoria e produção de conteúdos,
desenvolvimento e acompanhamento dos portais e das redes sociais, pesquisa e
mapeamentos do impacto e usos das tecnologias de informação e de
comunicação bem como processa os indicadores de desenvolvimento e apropriação
da tecnologia. No fundo, o que mais nos interessa não é a tecnologia em si, mas
suas conseqüências e efeitos na sociedade. O conhecimento livre; projetos que
envolvam a ativação de redes – o compartilhamento, a colaboração e a ação
coletiva – são focos de nossas investigações e produções.
Fonte: http://www.reformapolitica.org.br
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