ANDREI
NETTO -
O ESTADO DE SÃO PAULO - 19/11/2012 - SÃO PAULO, SP
Depois de 17 anos
afastados do poder, os socialistas da França se preparam para lançar uma das
reformas mais ambiciosas do governo de François Holandês, eleito em maio: a refundição
da escola. Entre as medidas em negociação estão o aumento do número de dias
letivos, sempre com turno integral, e a redução da sobrecarga sobre os alunos.
Mas o choque está nas pequenas revoluções: o fim da nota zero e a revisão dos
métodos de avaliação, o combate à reprovação e o fim das lições de casa, que
passarão a ser feitas na escola - estimulando o lazer nas horas vagas. As linhas
gerais do projeto foram apresentadas no mês passado pelo presidente. Desde
então, as medidas vêm sendo negociadas pelo ministro da Educação, Vincent
Peillon, com pedagogos, professores, sindicatos e pais visando à instauração
das primeiras medidas a partir do próximo ano letivo, que terá início em
setembro de 2013. A proposta de reforma é ampla, mas obedece a uma lógica
simples: aumentar o número de dias letivos do estudante, mas reduzindo o que os
franceses chamam de “ritmo escolar”, ou seja, a carga - por vezes opressiva -
de trabalho que os alunos enfrentam dentro e fora dos muros da escola. Segundo Hollande,
o “ritmo” é o centro do projeto. “A reforma dos ritmos não é a chave de tudo,
mas é a alavanca para o sucesso”, disse ele. O objetivo é fazer com que os
estudantes sejam melhor acompanhados pelos professores em classe, a tal ponto
que realizem os deveres na sala, à tarde, sob acompanhamento. Em casa, só
descanso e lazer. Para tanto, a primeira medida será cumprir uma promessa de
campanha: contratar 40 mil professores nos próximos quatro anos. A medida
causou controvérsia num país que vivia até pouco tempo uma política de redução
do serviço público. Só na gestão do ex-presidente Nicolas Sarkozy (2007-2012),
62,7 mil postos de professores foram extintos. A lógica da dupla Holandesa
Peillon é a de que, com mais professores nas escolas, menores serão as turmas,
mais individualizado será o atendimento a crianças e adolescentes e melhor será
o resultado. Com mais atenção, planeja o governo, se reduzirá em meia hora o
tempo diário de sala de aula - hoje de seis horas -, ampliando os Momentos de
atividades paralelas do aluno, como esportes ou artes. Em contrapartida, o ano
letivo será estendido, reduzindo as férias. Essa equação leva em consideração
uma particularidade da França. O país é o último dos 27 membros da União Européia
em número de dias letivos, 144, contra 180 da média do continente. Por outro lado,
em número de horas de aula - 888 horas de ensino por ano por criança de 7 a 14
anos -, a França está muito à frente da média européia, de 750 horas. Na
Alemanha, por exemplo, são 641 horas por ano. Ou seja: os alunos franceses têm
de responder a uma intensa carga de estudos em menos dias. Daí a constatação de
que é preciso mexer no calendário. Custo Apesar das polêmicas envolvendo
algumas das propostas, não vem de professores nem de sindicatos a maior
resistência às mudanças, e sim das prefeituras de cidades do interior - que de
antemão já calculam em € 600 milhões a mais o custo só para os cofres municipais
da iniciativa. O buraco nas contas está em quem arcará com os salários dos
funcionários que terão de ser contratados para acompanhar os estudantes ao
longo do dia. Com o aumento da semana de estudos de quatro para quatro dias e
meio de aulas - em turno integral -, sem mudança no tempo de trabalho dos
professores, de 24 horas por semana, abre-se uma lacuna: são necessários novos
mestres e, principalmente, “animadores” de atividades lúdicas, esportivas e artísticas. (“Emerson dos Santos Reis”)
Fonte: Universidade do Estado da Bahia – UNEB Tel.:
74-9119-0246
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