Há 30 anos morria Margarida Maria Alves,
líder sindical assassinada com um tiro no rosto. Quando
os sindicatos eram atrelados a governos, ela apresentou ao país uma nova forma
de fazer sindicalismo. A paraibana Margarida Maria Alves dedicou a vida à
luta pelos direitos dos trabalhadores rurais e acabou revolucionando a atuação
das entidades sindicais brasileiras. Nascida e criada no município de Alagoa
Grande, no Brejo da Paraíba, ela foi a primeira mulher presidente do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais da cidade. O lema dela era: “É melhor morrer na luta
que morrer de fome”. Foi uma guerreira contra a escravidão e por defender
os direitos dos trabalhadores rurais que eram explorados pelos latifundiários. Ela
pagou com a sua vida o preço por batalhar pela justiça social. No dia 12 de
agosto de 1983, um pistoleiro disparou um tiro de escopeta calibre 12 em seu
rosto, quando ela estava na frente de casa, ao lado do marido e do filho. A
vida de Margarida chegou ao fim há 30 anos, mas ela deixou um legado que
resultou em uma série de conquistas para a classe trabalhista rural, como
carteira de trabalho assinada, jornada diária de oito horas, 13º salário,
férias, de modo que as condições de trabalho no campo passaram a se equiparar
ao modelo urbano. Para o professor de Sociologia do Departamento de
Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
Francisco de Assis, a militante, com suas ações, pautou uma nova forma de
sindicalismo porque enfrentou o poder estatal e interesses do latifúndio. AMEAÇAS NÃO FIZERAM A LÍDER SINDICAL
DESISTIR. “Ela era uma líder sindical autêntica. O povo a admirava por
sua atitude e coragem”. É assim que o presidente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Alagoa Nova e coordenador do Polo Sindical da Borborema, Manoel de
Oliveira, define Margarida Maria Alves. Ele conviveu com a militante ruralista
por vários anos e, com ela, esteve à frente de várias campanhas trabalhistas para
garantir justiça social aos homens e mulheres do campo. Manoel conta que quanto
mais as ações contra os latifundiários eram intensificadas, mais eles sofriam
ameaças, chegando a serem vítimas de emboscadas. Mas, conforme frisou o
sindicalista, isso nunca foi motivo para Margarida Maria Alves sequer pensar em
abrir mão dos seus princípios e desistir de defender aqueles que precisavam. “Foi
a partir do embate que Margarida Maria Alves fez que surgiram as campanhas
salariais para a classe trabalhadora do setor canavieiro. Ela tinha
formação política classista e se destacou por essa orientação, se transformando
em um marco para as comunidades que tanto sofreram. Ela teve coragem de
entrar nessa luta em pleno período de ditadura militar e chegou a fundar o
Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural, uma iniciativa que, até
hoje, contribui para o desenvolvimento rural e urbano sustentável, fortalecendo
a agricultura familiar”, ressaltou o professor. CRIME SEM CONDENADOS. As palavras de Margarida Maria Alves no dia
1° de maio de 1983 foram a gota d’água para a fúria de latifundiários contra a
líder sindical. Sua morte foi encomendada e, três meses e 11 dias depois do seu
discurso, quando ela estava na frente da residência, acompanhada do marido e do
filho, um pistoleiro de aluguel chegou em um Opala vermelho e disparou em sua
face um tiro de escopeta calibre 12. Após 30 anos, nenhum dos envolvidos no
crime foi condenado. O caso foi parar na Corte Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH) da Organização das Nações Unidas, a pedido das organizações não
governamentais Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares
(Gajop), o Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional (Cejil), o
Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), a Comissão Pastoral da Terra
(CPT) e a Fundação de Defesa dos Direitos Humanos Margarida Maria Alves
(FDDH-MMA). Para o coordenador executivo do Gajop, Rodrigo Deodato, ainda não
foi feito justiça no caso de Margarida Alves. “Não foi feito o devido
enquadramento dos implicados no processo”, pontuou. Segundo relatório enviado
pelas entidades civis ao CIDH, inicialmente o Ministério Público (MP)
apresentou a denúncia contra as três pessoas identificadas, em 22 de dezembro
de 1983, como envolvidas no assassinato. O crime teria sido cometido a mando de
fazendeiros locais, sendo o intermediário destes Antônio Carlos Regis e
consumado pelos irmãos Amauri José do Rego e, Em 1995, o MP denunciou Aguinaldo
Veloso Borges, Zito Buarque, Betâneo Carneiro e Edgar Paes de Araújo (Mazinho)
pelo assassinato da líder sindical. Dos quatro suspeitos, só um foi levado a
julgamento. O acusado Edgar Paes de Araújo foi assassinado em 1986. Aguinaldo
Veloso Borges faleceu em 1990. No tocante a Betâneo Carneiro, ele foi
beneficiado pela prescrição penal e excluído do processo penal em 1997 e seu
paradeiro permanece desconhecido. Ainda conforme o relatório, o único
processado pela morte de Margarida Alves foi Zito Buarque, que permaneceu preso
por três meses durante a instrução processual. A ordem de prisão foi revogada
sob o argumento, entre outros, de que o acusado tinha emprego fixo e residência
definida. Ele passou a aguardar o julgamento em liberdade. Em 18 de junho de
2001, o acusado foi julgado e absolvido pelo Tribunal do Júri da Comarca de
João Pessoa. (Tatiana Brandão)
Fonte: Jornal da
Paraíba
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