Teólogo
comenta mudanças sociais promovidas antes da instauração no país da ditadura,
que completa 50 anos em abril. Influência norte-americana impediu reformas
propostas pelo governo João Goulart
São Paulo – O contexto sociopolítico
anterior ao golpe civil-militar que instaurou a ditadura no Brasil em 1º de
abril de 1964 foi o tema do comentário de hoje (17) do teólogo Frei Betto à Rádio Brasil Atual.
Para ele, a turbulência política da Guerra
Fria, com o mundo dividido entre o socialismo da União Soviética e o
capitalismo norte-americano despertou, entre os brasileiros, “o gigante
adormecido em berço esplêndido” para a necessidade de reformas sociais no
governo João Goulart.
No entanto, o teólogo afirma que a
população “não tinha suficiente lucidez para perceber que, desde a renúncia do
presidente Jânio Quadros, em 1961, o ovo da serpente vinha sendo chocado pelas
classes dominantes”.
Este
foi o primeiro comentário de uma série sobre os 50 anos de história brasileira
desde a instauração da ditadura que será feita por Frei Betto ao longo deste
mês e de abril. A efervescência política do governo de Goulart é retratada pelo
teólogo como o surgimento de uma nova conjuntura socioeconômica. “Tudo era
novo: a bossa nova, o cinema novo, a literatura nova, a nova capital,
Brasília”.
O
método de ensino de Paulo Freire, através da alfabetização dos pobres em
Angicos (RN), foi o impulso para a gestação da chamada Pedagogia do Oprimido. A
defesa da reforma agrária pelas ligas camponesas e criação da Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), dirigida por Celso Furtado e aliada ao
governador de Pernambuco à época, Miguel Arraes, foram, na visão do
comentarista, formas de livrar a região do coronelismo arraigado desde a
República Velha.
Entretanto,
Frei Betto afirma que as reformas promovidas por João Goulart eram vistas pelos
Estados Unidos (EUA) como uma demonstração de avanço do comunismo na América
Latina. A desconfiança e o imperialismo norte-americano foram motivos para que
os EUA financiassem o golpe civil-militar no Brasil e depusessem Goulart em
1964.
A
empreitada teve apoio do empresariado brasileiro, que se articulava no
Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e no Instituto de Pesquisas
Econômicas e Sociais (Ipes).
“O
presidente norte-americano Lyndon Johnson, que governou o país de 1963 a 1969,
estava convencido de que o Brasil era tão vulnerável à influência soviética
quanto o Vietnã. Estados Unidos jamais admitiriam que Brasil se tornasse sequer
um país independente das órbitas ianque e soviética”, explica.
O
regime antidemocrático fez com que a população pobre, desejosa por reformas
sociais e econômicas, se tornasse dependente de "migalhas"
norte-americanas, como as cestas básicas distribuídas pelo programa de expansão
do capitalismo na América Latina, Aliança Para o Progresso, como conta Frei
Betto.
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br
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