Por, Katiana Ramos, As primeiras ferrovias chegaram à Paraíba em 1880 e
mudaram a economia e os modos culturais dos paraibanos. Todos os dias, os trens
de cargas e de passageiros partiam da Estação Ferroviária de João Pessoa em direção
a municípios do Agreste e também a estados vizinhos, como Pernambuco,
principalmente.
Passados cem anos, em 1980, o uso dos trens entrou em
decadência, devido aos investimentos voltados para a construção de estradas e,
consequentemente, as ferrovias foram desprezadas, segundo os registros
históricos.
Atualmente, é visível a necessidade de melhorias nas
estações da capital e Região Metropolitana, cujos trens ainda estão em
funcionamento. Por outro lado, a malha ferroviária do interior e as poucas estações
que ainda resistem ao tempo estão abandonadas.
Aos 88 anos de idade, o presidente da Associação dos
Ferroviários da Paraíba, Antonio Jorge Sobrinho, vivenciou os bons tempos e a
decadência do transporte ferroviário. Hoje, ele conta que sente um misto de
saudade e vergonha, ao ver o estado em que se encontram os trilhos que o
ajudaram a sustentar a família.
"Naquela época, o Nordeste tinha outra maneira de
ser. Tudo era transportado de trem. Como eu vi a movimentação na estrada de
ferro, com trens de passageiros e de carga, saindo da Paraíba para o Ceará até
três vezes por semana, para o que a gente vê hoje, é uma vergonha",
lamenta.
Mesmo com a má conservação, os trens urbanos que
trafegam pelos trilhos da capital e Região Metropolitana transportam, em média,
9 mil pessoas, todos os dias, e é em João Pessoa que se encontra a maior linha
férrea do Estado, com 30 quilômetros de extensão.
Também é esta malha ferroviária a primeira do Estado e
de onde partiam os trens que seguiam para Recife (PE), Ceará (CE) e Rio Grande
do Norte (RN). Atualmente, essa ferrovia interliga a capital com os municípios
de Bayeux, Santa Rita e Cabedelo. É da estação desta última cidade que parte
todos os dias o vendedor ambulante José Coutinho.
Para ele, se deslocar da cidade portuária em direção a
João Pessoa de trem é vantajoso economicamente e a viagem é considerada
tranquila. “É uma vantagem grande porque de Cabedelo para cá só pago R$0,50. Se
eu quiser descer só em Santa Rita, também pago a mesma coisa. Também não tem
problema com demora, porque os trens sempre passam na hora certa”, disse o
comerciante.
Assim como a rotina de José Coutinho, que faz o
percurso Cabedelo/João Pessoa todos os dias, os trilhos foram trazidos para a
Paraíba para impulsionar as atividades econômicas e também fortalecer alianças
políticas. A explicação é do doutor e pesquisador em História da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG) Gervácio Batista Aranha, que há mais de 20
anos estuda a relação da chegada do trem com a história da Paraíba.
Segundo ele, as estações eram construídas mais
afastadas do perímetro urbano. No entanto, com a movimentação no entorno das
estações, começaram a se formar feiras e pequenos núcleos urbanos. “Quando os
trens começaram a incrementar a economia, a malha urbana começou a se estender
em direção às estações. Em torno desses locais existiam espaços de
sociabilidade.
“A ferrovia trouxe muitas mudanças, porque era uma
espécie de porta de entrada cultural nas cidades”, completa o pesquisador,
acrescentando ainda que as ferrovias revolucionassem as comunicações e
encurtaram distâncias. “As pessoas criavam o hábito de sempre ir às estações
comprar jornais e nos próprios trens tinham os gazeteiros que vendiam jornais
de outros estados”, disse.
Antonio Jorge, que trabalhou como supervisor e visitou
boa parte das ferrovias do Nordeste durante 33 anos, lembra saudoso da época em
que a chegada dos trens nas cidades do interior era motivo de festa. “Nas
estações era uma festa quando o trem ia chegar", recorda.
Fonte: http://www.jornaldaparaiba.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário