A Páscoa surgiu como uma celebração da primavera no
hemisfério norte. E de acordo com a tradição judaica, foi por ocasião de uma
celebração da Páscoa que um grupo de escravos no Egito (do clã dos hebreus)
sentiu-se chamado por uma energia divina para sair da escravidão e caminhar
para uma terra livre.
Até hoje, em todas
as sinagogas do mundo, a cada ano, as comunidades judaicas comemoram a Páscoa
para recordar a libertação do Êxodo. Ao fazerem isso, elas atualizam a
mensagem de que toda pessoa humana tem a vocação da liberdade e de sempre
caminhar para um mundo novo e mais feliz.
Para as Igrejas cristãs, foi durante uma Páscoa, em
Jerusalém, que Jesus de Nazaré foi morto e Deus lhe deu uma vida nova. Essa vida
nova, Jesus, reparte com todas as pessoas que aceitem segui-lo, na missão de
testemunhar no mundo o projeto divino de paz e justiça.
São esses fatos que, a cada ano, as Igrejas históricas
celebram na Semana Santa. O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios:
“Este é o tempo da graça, hoje é o dia da salvação” (2 Cor 5). Então, todo dia
é dia de graça e toda semana é santa. Mas, as comunidades cristãs gostam de
dedicar uma semana do ano e especificamente um tríduo para atualizar a memória
desses acontecimentos mais centrais da fé.
Durante
muitos séculos e até hoje, em muitas comunidades do interior, as pessoas
simples fazem ritos que recordam a morte e o sepultamento de Jesus. Em alguns
lugares da América Latina, as procissões do Senhor morto reúnem multidões.
Na Igreja Católica, a renovação das celebrações pascais,
iniciada na década anterior, foi completada pelo papa João XXIII, há cinquenta
anos. E o papa Francisco, ao falar da alegria do Evangelho (Evangelii Gaudium),
escreveu que os cristãos não podem ficar em uma Quaresma sem Páscoa. O mais
importante é que mesmo no meio da dor e das lutas da vida, celebremos a
resistência e a esperança da vitória já alcançada, ao menos, como promessa.
Um dos antigos
cristãos dizia que, para quem vive a fé, as celebrações pascais que fazemos
cada ano fazem da vida da gente, mesmo no meio das dores e das lutas, uma
festa permanente. Ao celebrar a ressurreição de Jesus, os cristãos
celebram a vida nova que ele nos dá. Para significar isso, a Igreja batiza
os cristãos adultos na grande celebração pascal. E durante os 50 dias do tempo
pascal, os cristãos antigos oravam de pé, sem nunca se ajoelhar, para sinalizar
a atitude de quem, diante da vida, se coloca altaneiro e resistente.
Todos esses símbolos e crenças pertencem a grupos
cristãos. Atualmente, no plano cultural e religioso, o mundo é diversificado e
pluralista. Uma cultura não deve se impor sobre outra e menos ainda tem sentido
uma religião civil, como se fosse a ideologia religiosa da sociedade
dominante. Não se trata de fazer como alguns países da Europa que, sob
pretexto da laicidade, ocultam racismo contra os muçulmanos e proíbem as
mulheres de usar véu.
Nem é questão, no
Brasil, de vetar o uso de tambores ou de sacrifícios de animais em terreiros
afro. Nesses casos, são sempre grupos minoritários e pobres que são visados.
Trata-se sim de dar a todos os segmentos a mesma liberdade e de ajudar cada
grupo a se abrir aos outros.
Embora em datas diversas, a Páscoa é uma festa comum a
duas religiões (o Judaísmo e o Cristianismo). Entre as Igrejas cristãs, todas
as Igrejas antigas a celebram. Assim mesmo, para que a Páscoa tenha um sentido
para toda a sociedade, é importante que, sem perder o sentido próprio que ela
tem para as Igrejas, juntos com toda a humanidade, os cristãos possam recuperar
a sua dimensão ecológica. Assim, cuidaremos melhor da natureza para celebrar
sua renovação como sinal do amor divino pelo universo. Paulo escreveu aos
gálatas: “O importante é que se manifeste a criação renovada. Essa é a obra de
Deus”.
Marcelo Barros, monge beneditino, é biblista de formação e
atualmente coordenador latino-americano da Associação Ecumênica de Teólogos/as
do Terceiro Mundo (ASETT). É assessor nacional das comunidades eclesiais de
base e de movimentos populares.
zem se dedicado especialmente a estudar o pluralismo
cultural e religioso e particularmente ao contato com as religiões de
matriz afro-descendente. Publicou 44 livros no Brasil, alguns traduzidos em
outros idiomas, além de vários livros coletivos, como a coleção “Pelos muitos
caminhos de Deus”, sobre teologia pluralista da libertação.
Fonte: http://www.diocesedepatospb.org.br/

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