domingo, 15 de junho de 2014

''Aprender mais e passar para as pessoas que não puderam vir''

Mirian Oliveira - Comunicadora popular da ASA, Um dos temas envolvidos na troca de experiências foi apicultura | Foto: Mirian Oliveir.

Há aproximadamente um mês, uma comitiva de agricultores e agricultoras passou a ser chamada de Comitiva Mandacaru. O nome foi escolhido pelos próprios homens e mulheres do grupo, que moram nos municípios baianos de Queimadas, Nordestinas e Cansanção. 

 ideia foi surgindo durante os intercâmbios municipais e estaduais promovidos pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação Semiárido (ASA) e executado pela Associação dos Pequenos Agricultores Familiares (APAEB Serrinha).

O último intercâmbio foi realizado na “Terra do Caju”, Sergipe, local em os agricultores e agricultoras batizaram a Comitiva Mandacaru. A inspiração vem de uma planta típica da caatinga e que avisa ao sertanejo, através da sua flor, quando a chuva está por vir.

Durante a viagem da Bahia para Sergipe, o intercâmbio já começou no corredor do ônibus. A troca de experiência já era visível. Pois muitos dos agricultores e agricultoras tinham participado de um intercambio municipal. Daí foi aquela troca, aquele questionamento do que cada um já tinha feito em sua propriedade.

Dona Viviane Reis, do município de Queimadas (BA), por exemplo, logo socializou que já tinha feito a cobertura de palma e com capim, a qual tinha aprendido durante a visita na casa do seu Abelmanto, na comunidade de Mucambo, em Riachão do Jacuípe, durante o intercambio municipal.

A viagem era longa, porém este detalhe nem foi percebido. O antídoto para curar o cansaço e o sono foram as cantigas de rodas, cantigas de são João, cantigas de reis, além de adivinhas e piadas. 

Exemplo de uma cantiga de roda cantada durante a viagem: Pedra do amolador, "Olha a pedra do amolar, olha a pedra do amolador, mas quando soube que tu era noivo, eu chorava tanto que fazia dó.

Sete e sete são quatorze, com mais sete vinte um, eu tenho sete amor no mundo mas não amo nenhum. Olha a pedra do amolar, olha a pedra do amolador, mas quando soube que tu era noivo eu chorava tanto que fazia dó"

Nesse ritmo cultural e alegre, o grupo desembarcou em Sergipe repleto de grandes expectativas. Para alguns, não era novidade apenas conhecer novas experiências de lidar com a terra. Para muitos, era a primeira vez que estavam saindo do Estado da Bahia, portanto, todo detalhe era novo, era surpreendente. Tudo fazia os olhos brilharem. 

A unanimidade nas primeiras falas dos agricultores e agricultoras no momento de apresentação era de “aprender mais e repassar os conhecimentos para as pessoas que não puderam ir”. O primeiro encontro da Comitiva Mandacaru aconteceu na Associação de Mulheres – Resgatando Vidas, na Comunidade Lagoa da Volta, no município de Porta da Folha (SE). Lá os agricultores puderam trocar experiências sobre produção de doces, geleias, compotas, cultivo de hortaliças entre outras. 

Enquanto dona Luzinete - carinhosamente conhecida como Netinha – falava, os olhos de algumas agricultoras que já desenvolvem esta atividade brilhavam. Este é o caso das agricultoras dona Ananias e dona Noelia, que fazem parte do grupo de mulheres da comunidade de Deus Dará, do município de Nordestina. 

De repente, um barulho familiar para muitos, mas estranho para alguns, chamou atenção. Todos saíram da Associação para ver um carro de boi que passava no local. Foi uma alegria. Apesar de sido meio de transporte de cargas e de pessoas durante muitos anos, o carro de boi está praticamente extinto em algumas áreas rurais do país. Todos queriam registrar através de fotografias e vídeos para mostrar aos filhos. Foi uma festa só.

Fonte: http://www.asabrasil.org.br/

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