terça-feira, 23 de setembro de 2014

Agricultoras Experimentadoras, em Sergipe tem sim!

Daniela Bento - comunicadora popular da ASA, Simão Dias | SE; Renilda dos Santos participou do encontro de Agricultoras em Sergipe | Foto: Daniela Bento

Com o vigor de uma menina, mas com o acúmulo de uma senhora, a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), chega aos seus 15 anos. Nesse clima de debutante, tem buscado analisar sua trajetória sobre vários aspectos. 

Nesse sentido, debater o papel da mulher nessa caminhada, seus avanços e desafios têm sido o mote dos encontros estaduais preparatórios para o Encontro Nacional de Agricultoras–Experimentadoras que está sendo realizado em Lagoa Seca–PB.

Com o tema: Celebrando conquistas na trajetória da ASA, esse encontro tem como um dos objetivos valorizar e dar visibilidade ao conhecimento e às capacidades das mulheres agricultoras e suas formas de inserção na organização do trabalho da agricultura familiar, além de construir coletivamente caminhos para superação das situações de desigualdade.

Foi com esse olhar que a ASA Sergipe realizou, no dia 16.09.2014, encontro com um grupo composto por 15 mulheres dos municípios de Gararu, Porto da Folha, Poço Redondo, Poço Verde, Monte Alegre e Simão Dias a fim de revisitar os passos dessa caminhada de mulher dentro da ASA sergipana.

Revisitar esse trajeto foi emocionante; um colher de almas e sentimentos trazidos em um lindo painel colorido com as cores da emoção e traduzido em frases simples de quem sabe a importância desse aconchego. Para Dona Josefa, da comissão municipal de Simão Dias, a ASA foi quem ensinou o povo a falar. “Antes eu era assim encabulada, não tinha coragem de abrir a boca nos cantos. Agora eu chego, eu falo, canto, a ASA foi quem me libertou”, afirma.

Um dos pontos marcantes do encontro foi a exibição do vídeo, Vida de Margarida, produzido pela AS-PTA. O vídeo retrata a história de Margarida e sua filha em total estado de submissão aos homens da casa, o esposo e o filho.

O vídeo propiciou ao grupo refletir questões como a relação entre homens e mulheres, o acesso às políticas públicas e como as desigualdades se reproduzem em seu cotidiano.

No geral, as mulheres não se reconhecem naquela realidade, mesmo considerando que ainda haja alguns pontos que precisem ser melhorados, elas já conseguiram estabelecer certo equilíbrio na execução de tarefas e papeis, assim bem como na gestão dos recursos financeiros da família, seja esse resultado de seus quintais, seja de outras rendas, existe muita combinação entre o casal.

Dona Luzia, da comunidade Colônia Governador Valadares de Simão Dias, trouxe para o grupo a seguinte reflexão. Essa coisa de homem mandar em mulher é coisa que não se alimenta.

“Eu nunca alimentei isso. Tenho 33 anos de casada, e graças a Deus num vivo de briga, e nem ninguém manda em ninguém. Lá em casa, é conversado, combinado as coisas. Mas logo no início do namoro, eu fui vendo que não queria um casamento igual ao das minhas irmãs mais velhas.

 Naquele tempo, as moças, com mais liberdade dos pais, usavam blusa de alcinha, e um dia ele disse que era pra eu não usar blusa de alcinha, fiquei calada, quando ele chegou lá em casa pra me ver eu tava com uma blusa sem alça, dessas tipo tomara que caia. “Eu sempre achei que a gente tem que viver a vida da gente e eu vivemos a minha”.

Cida Silva, da Comunidade de Lagoa da Volta da zona rural de Porto da Folha, traz a seguinte reflexão: “A ASA é um tudo, é ela que traz o desenvolvimento para o semiárido, pra nossas mentes, é ela que liberta a gente, e eu vejo os intercâmbios como uma coisa muita importante para o nosso fortalecimento.

E é bom quando os maridos também vão participar, porque eles sempre voltam mais animados. Se um não vai, mais outro vai, e a gente sempre aprende algo novo. Eu sempre defendo que os maridos têm que ir pros intercâmbios também”.

Outro vídeo trabalhado com o grupo foi Dona Caroba em não troque seu voto por água, o vídeo é parte integrante da campanha, “Não Troque seu Voto por Água. A Água é um Direito Seu” realizada pelo Fórum Cearense Pela Vida no Semiárido (FCVSA). 

Como o vídeo apresenta uma mulher líder comunitária e conhecedora dos seus direitos, o grupo se reconheceu de imediato com Dona Caroba, o que possibilitou a reflexão sobre as formas de combater a politicagem nos municípios nos quais o grupo atua sobre a construção das cisternas de placas.

Para a assessora pedagógica da ASA-SE, Cidinha Amado, o encontro foi muito importante,  pois além de trabalhar temáticas a serem aprofundadas no Encontro Nacional, trouxe a possibilidade de se constituir um grupo permanente de estudos dentro da ASA e assim fortalecer o debate sobre feminismo dentro da ASA, uma vez que mesmo com o GT ainda há um grande esvaziamento desse debate. 

Fonte: http://www.asabrasil.org.br/

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