Daniela Bento - comunicadora popular
da ASA, Simão Dias | SE; Renilda dos Santos participou do
encontro de Agricultoras em Sergipe | Foto: Daniela Bento
Com o vigor de uma
menina, mas com o acúmulo de uma senhora, a Articulação Semiárido Brasileiro
(ASA Brasil), chega aos seus 15 anos. Nesse clima de debutante, tem buscado
analisar sua trajetória sobre vários aspectos.
Nesse sentido, debater o papel
da mulher nessa caminhada, seus avanços e desafios têm sido o mote dos
encontros estaduais preparatórios para o Encontro Nacional de
Agricultoras–Experimentadoras que está sendo realizado em Lagoa Seca–PB.
Com o tema:
Celebrando conquistas na trajetória da ASA, esse encontro tem como um dos
objetivos valorizar e dar visibilidade ao conhecimento e às capacidades das
mulheres agricultoras e suas formas de inserção na organização do trabalho da
agricultura familiar, além de construir coletivamente caminhos para superação
das situações de desigualdade.
Foi com esse olhar
que a ASA Sergipe realizou, no dia 16.09.2014, encontro com um grupo composto
por 15 mulheres dos municípios de Gararu, Porto da Folha, Poço Redondo, Poço
Verde, Monte Alegre e Simão Dias a fim de revisitar os passos dessa caminhada
de mulher dentro da ASA sergipana.
Revisitar esse
trajeto foi emocionante; um colher de almas e sentimentos trazidos em um lindo
painel colorido com as cores da emoção e traduzido em frases simples de quem
sabe a importância desse aconchego. Para Dona Josefa, da comissão municipal de
Simão Dias, a ASA foi quem ensinou o povo a falar. “Antes eu era assim
encabulada, não tinha coragem de abrir a boca nos cantos. Agora eu chego, eu
falo, canto, a ASA foi quem me libertou”, afirma.
Um dos pontos
marcantes do encontro foi a exibição do vídeo, Vida de Margarida, produzido
pela AS-PTA. O vídeo retrata a história de Margarida e sua filha em total
estado de submissão aos homens da casa, o esposo e o filho.
O vídeo propiciou
ao grupo refletir questões como a relação entre homens e mulheres, o acesso às
políticas públicas e como as desigualdades se reproduzem em seu cotidiano.
No geral, as
mulheres não se reconhecem naquela realidade, mesmo considerando que ainda haja
alguns pontos que precisem ser melhorados, elas já conseguiram estabelecer
certo equilíbrio na execução de tarefas e papeis, assim bem como na gestão dos
recursos financeiros da família, seja esse resultado de seus quintais, seja de
outras rendas, existe muita combinação entre o casal.
Dona Luzia, da
comunidade Colônia Governador Valadares de Simão Dias, trouxe para o grupo a
seguinte reflexão. Essa coisa de homem mandar em mulher é coisa que não se
alimenta.
“Eu nunca alimentei isso. Tenho 33 anos de casada, e graças a Deus
num vivo de briga, e nem ninguém manda em ninguém. Lá em casa, é conversado,
combinado as coisas. Mas logo no início do namoro, eu fui vendo que não queria
um casamento igual ao das minhas irmãs mais velhas.
Naquele tempo, as moças, com mais liberdade dos
pais, usavam blusa de alcinha, e um dia ele disse que era pra eu não usar blusa
de alcinha, fiquei calada, quando ele chegou lá em casa pra me ver eu tava com
uma blusa sem alça, dessas tipo tomara que caia. “Eu sempre achei que a gente
tem que viver a vida da gente e eu vivemos a minha”.
Cida Silva, da
Comunidade de Lagoa da Volta da zona rural de Porto da Folha, traz a seguinte
reflexão: “A ASA é um tudo, é ela que traz o desenvolvimento para o semiárido,
pra nossas mentes, é ela que liberta a gente, e eu vejo os intercâmbios como
uma coisa muita importante para o nosso fortalecimento.
E é bom quando os
maridos também vão participar, porque eles sempre voltam mais animados. Se um
não vai, mais outro vai, e a gente sempre aprende algo novo. Eu sempre defendo
que os maridos têm que ir pros intercâmbios também”.
Outro vídeo
trabalhado com o grupo foi Dona Caroba em não troque seu voto por água, o vídeo
é parte integrante da campanha, “Não Troque seu Voto por Água. A Água é um
Direito Seu” realizada pelo Fórum Cearense Pela Vida no Semiárido (FCVSA).
Como o vídeo
apresenta uma mulher líder comunitária e conhecedora dos seus direitos, o grupo
se reconheceu de imediato com Dona Caroba, o que possibilitou a reflexão sobre
as formas de combater a politicagem nos municípios nos quais o grupo atua sobre
a construção das cisternas de placas.
Para a assessora pedagógica da ASA-SE, Cidinha Amado, o encontro foi muito importante, pois além de trabalhar temáticas a serem aprofundadas no Encontro Nacional, trouxe a possibilidade de se constituir um grupo permanente de estudos dentro da ASA e assim fortalecer o debate sobre feminismo dentro da ASA, uma vez que mesmo com o GT ainda há um grande esvaziamento desse debate.
Fonte: http://www.asabrasil.org.br/
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