Mayara Albuquerque - comunicadora
popular da ASA; Juazeirinho | PB; Dona Maria José
explica como funciona o Biodigestor / Foto: Mayara Albuquerque; Dona
Maria recebe agricultoras de todo o Semiárido para troca de experiências /
Foto: Mayara Albuquerque.
“Onde as mulheres estão nos espaços de trabalho da propriedade?”, essa
foi a pergunta que conduziu o debate da oficina “Pequenas Criações”, no I
Primeiro Encontro Nacional de Agricultoras Experimentadoras que aconteceu em
Lagoa Seca, na Paraíba, entre os dias 23 e 24 de setembro.
É consenso que o “trabalho pesado” é mais destinado aos homens, mas as
mulheres não deixam de fazê-lo se o companheiro está ausente. A cerca quebrou,
e agora? Alguns vão dizer que o “homem da casa” vai consertá-la, mas bobagem,
mulheres também consertam e muito bem.
Sim, a mulher ajuda o homem em todas os espaços da propriedade - de cuidar do roçado até levar água e comida para os animais, ela está presente em todos os processos. Mas, ajudar é a palavra certa mesmo? Claro que não, a palavra certa é trabalho.
Ela não ajuda
o seu companheiro, ela trabalha junto com ele. “Ali também tem o trabalho dela,
ela tem que defender. A maioria das nossas mulheres baixa a cabeça, tem medo”,
afirma a técnica Gilvânia Freitas.
Infelizmente a divisão de tarefas ainda é desigual e a mulher trabalha bem mais que o homem, como bem disse a comunicadora popular Kátia Gonçalves, “a mulher é a última que dorme e a primeira que acorda”.
Na comunidade Riacho do Meio, em Juazeirinho, Maria José, paraibana
arretada, tem o apoio do companheiro em todas as atividades. É que Maria não
fica calada quando percebe que algo tá errado, na sua casa todos contribuem -
marido, filhos e a mãe. Maria é tão danada, que tinha um touro, o Bordado, que
só obedecia a ela, daí tiveram que vendê-lo porque o touro quase mata o Carlos,
seu marido, por duas vezes.
Com a seca arrochando, Maria e Carlos, resolveram vender uma parte do
gado e investir em pequenas criações. Para Maria, a decisão de voltar a cuidar
de ovelhas, cabras e galinhas fortaleceu muito o orçamento familiar porque eles
não precisam comprar ovos e carne fora e ainda sabem que o que consomem é
saudável e a agricultora ainda produz manteiga e queijo e vende leite.
E a família não precisa comprar milho, maracujá, mamão, feijão, jerimum,
quiabo, como também não compram remédios porque as nove variedades de plantas
medicinais que estão aos arredores de casa contribuem para cuidar da saúde dos
filhos e da mãe.
O que mais encantou a mulherada que participou do intercâmbio na casa de
dona Maria José foi a reutilização da água e o biodigestor. É que a família
segue fortemente o pensamento do químico Antoine Lavoisier: “Na Natureza nada
se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Lá nada é desperdiçado, tudo é
(re) aproveitado.
Toda a água é reutilizada, da pia, lavanderia, e sobre o biodigestor, uma vez a agricultora recebeu uma vizinha que vendo a tecnologia perguntou, “você aproveita até a merda do animal?”. Sim, por que não?
Foi graças às invenções do casal para
reutilizar a água que a família conquistou, através do PATAC, um sistema
simplificado de manejo da água e o biodigestor. E conquistará muito mais
porque a força da dona Maria é infinita.
Fonte: http://www.asabrasil.org.br/
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