segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Mulherada troca experiências em intercâmbio durante o I Primeiro Encontro Nacional de Agricultoras Experimentadoras

Mayara Albuquerque - comunicadora popular da ASA; Juazeirinho | PB; Dona Maria José explica como funciona o Biodigestor / Foto: Mayara Albuquerque; Dona Maria recebe agricultoras de todo o Semiárido para troca de experiências / Foto: Mayara Albuquerque.

“Onde as mulheres estão nos espaços de trabalho da propriedade?”, essa foi a pergunta que conduziu o debate da oficina “Pequenas Criações”, no I Primeiro Encontro Nacional de Agricultoras Experimentadoras que aconteceu em Lagoa Seca, na Paraíba, entre os dias 23 e 24 de setembro.

É consenso que o “trabalho pesado” é mais destinado aos homens, mas as mulheres não deixam de fazê-lo se o companheiro está ausente. A cerca quebrou, e agora? Alguns vão dizer que o “homem da casa” vai consertá-la, mas bobagem, mulheres também consertam e muito bem.

Sim, a mulher ajuda o homem em todas os espaços da propriedade - de cuidar do roçado até levar água e comida para os animais, ela está presente em todos os processos. Mas, ajudar é a palavra certa mesmo? Claro que não, a palavra certa é trabalho.

Ela não ajuda o seu companheiro, ela trabalha junto com ele. “Ali também tem o trabalho dela, ela tem que defender. A maioria das nossas mulheres baixa a cabeça, tem medo”, afirma a técnica Gilvânia Freitas. 

Infelizmente a divisão de tarefas ainda é desigual e a mulher trabalha bem mais que o homem, como bem disse a comunicadora popular Kátia Gonçalves, “a mulher é a última que dorme e a primeira que acorda”.

Na comunidade Riacho do Meio, em Juazeirinho, Maria José, paraibana arretada, tem o apoio do companheiro em todas as atividades. É que Maria não fica calada quando percebe que algo tá errado, na sua casa todos contribuem - marido, filhos e a mãe. Maria é tão danada, que tinha um touro, o Bordado, que só obedecia a ela, daí tiveram que vendê-lo porque o touro quase mata o Carlos, seu marido, por duas vezes. 

Com a seca arrochando, Maria e Carlos, resolveram vender uma parte do gado e investir em pequenas criações. Para Maria, a decisão de voltar a cuidar de ovelhas, cabras e galinhas fortaleceu muito o orçamento familiar porque eles não precisam comprar ovos e carne fora e ainda sabem que o que consomem é saudável e a agricultora ainda produz manteiga e queijo e vende leite.

E a família não precisa comprar milho, maracujá, mamão, feijão, jerimum, quiabo, como também não compram remédios porque as nove variedades de plantas medicinais que estão aos arredores de casa contribuem para cuidar da saúde dos filhos e da mãe.

O que mais encantou a mulherada que participou do intercâmbio na casa de dona Maria José foi a reutilização da água e o biodigestor. É que a família segue fortemente o pensamento do químico Antoine Lavoisier: “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Lá nada é desperdiçado, tudo é (re) aproveitado.

Toda a água é reutilizada, da pia, lavanderia, e sobre o biodigestor, uma vez a agricultora recebeu uma vizinha que vendo a tecnologia perguntou, “você aproveita até a merda do animal?”. Sim, por que não? 

Foi graças às invenções do casal para reutilizar a água que a família conquistou, através do PATAC, um sistema simplificado de manejo da água e o biodigestor.  E conquistará muito mais porque a força da dona Maria é infinita.

Fonte: http://www.asabrasil.org.br/

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