Fernando
Henrique já disse que o PT cresceu nos grotões por falta de informação do povo
(UOL, 06/10/2014). Com isso referia-se certamente em grande parte ao Nordeste
brasileiro, principalmente o Semiárido.
Eu
tinha jurado a mim mesmo que não daria uma única palavra sobre eleições nesse
segundo turno, mas uma afirmação como essa é muito mais que um palpite
eleitoral. É na verdade a hedionda visão sudestina sobre o Nordeste.
A
arrogância é sempre má conselheira. Seria bom que todos nos perguntássemos qual
a “agulha” que ele como presidente investiu na região. Em seu tempo foi
realizado um dos melhores estudos sobre o Semiárido, ainda que numa lógica
tecnicista, chamado de ARIDAS.
Entretanto, quedou-se nas gavetas ou nos discos
rígidos dos computadores. Ainda por cima tivemos o apagão energético da CHESF,
quando quase todo sistema faliu por absoluto descuido com o São Francisco e
outras demandas energéticas.
Além do
mais, o Semiárido mudou para melhor. Talvez aqui esteja a verdadeira razão do
crescimento do PT, embora discordemos de tantas obras faraônicas e para
atendimento do capital. Na verdade não foi só o Bolsa Família, ou o aumento do
salário mínimo – que no tempo dele valia 60 dólares em contraste com os 300
dólares atuais -, mas também a expansão do abastecimento de água, além de todo
apoio dos governos petistas à lógica da convivência com o Semiárido.
Assim multiplicaram-se as cisternas para
beber, para produzir, a agricultura ecológica, a criação de animais adaptados,
numa lista quase infinda de iniciativas da sociedade civil que teve apoio
governamental.
Mesmo que não publique – por causa de nossas críticas à
transposição do São Francisco – o governo tem expandido também as adutoras para
muitas cidades do Semiárido. Os desgostos com o PT são muitos e graves, mas não
há como negar que houve preocupação com a região.
Ainda
mais, nunca a região esteve tão bem informada como nos últimos anos.
Expandiu-se a energia elétrica – no tempo dele ainda líamos à luz de vela e
lampião na esmagadora maioria das comunidades rurais – e com ela o uso de
eletrodomésticos, a internet e os celulares.
Num
debate sobre a implantação de uma usina nuclear em Itacuruba, Pernambuco –
outro desgosto do governo Dilma encampado por Eduardo Campos – a juventude
presente num debate citava os acontecimentos de Fukushima e convocava uma
manifestação contrária à obra por torpedos e WhatsApp.
Esses
dias, num momento de formação com a juventude do meio rural de Casa Nova e
Remanso, Bahia, chamava a atenção que todos sabiam ler e escrever, todos tinham
celulares, se comunicavam através das redes sociais, elaboraram um site para
registrar seus avanços. Mesmo morando no meio rural, pelo menos a metade tinha
acesso diário à internet.
Há
poucos tempos atrás seus pais nem sequer sabiam ler. Todas nossas reuniões de
formação eram feitas por técnicas de oralidade, como cordéis e músicas
facilmente aprendíveis. Eles já tinham sim uma leitura de mundo, mas não tinham
a leitura da palavra.
Sim,
nessa última grande estiagem, não houve mortalidade humana, nem mesmo a
infantil. Então, o mundo daqui anda bem informado ultimamente. O povo do
Semiárido tem razões objetivas para fazer suas escolhas. Parece que o único
desinformado é o próprio FHC. Aliás, depois de uma afirmação como esse como
Aécio ainda poderá pedir os votos dos nordestinos?
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