quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Feminismo no comando: captação de água da chuva, mobilização e organização popular no semiárido

Camila Paula - comunicadora popular da ASA; Mossoró | RN; O protagonismo das mulheres é a marca de atuação do CF8 | Foto: Arquivo CF8

O Centro Feminista comemora junto às mais de 90 comunidades dos municípios de Itaú, Rodolfo Fernandes, Tabuleiro Grande e Patu, as 320 implementações de tecnologias para captação da água de chuva: Água para produzir alimentos e colher autonomia, soberania alimentar, auto organização, feminismo, agroeocologia... Muitos mais sorrisos e muito mais vida Semiárido adentro.

O programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), com o apoio do BNDES, executado pelo Centro Feminista contou com uma equipe composta por 8 mulheres (sim, não há homens) no comando não só da construção de 145 Cisternas calçadões, 144 Cisternas enxurradas e 31 Barreiros-trincheiras, mas também na mobilização e na organização popular por um Semiárido com mais oportunidade e igualdade para mulheres e homens.

“Como o feminismo pode estar dentro de um trabalho como este?”. A pergunta desafio esteve em todo o desenvolvimento do projeto. Desde priorizar os nomes das mulheres como beneficiárias do programa, à promoção da recreação com as crianças para que as mães pudessem participar das atividades de formação.

À preocupação em trabalhar a questão de gênero e divisão sexual do trabalho em todos os GAPAS e visibilizar o protagonismo das mulheres no semiárido potiguar, desconstruindo tabus, como nas sistematizações de experiências mostrando o trabalho e a luta das cisterneiras, agricultoras, artesãs e também da auto organização das mulheres.

O estímulo à capacitação de cisterneiras com a construção de cisternas por mulheres encontrou “trabalho de homem”, mas foi uma experiência que quebrou muitos preconceitos.

Outros pontos positivos no processo que podem ser elencados foram: a relação de respeito e reconhecimento na conquista dos cisterneiros e cisterneiras, fornecedores e das famílias, o trabalho conjunto com as Comissões Executoras Municipais (CEM).

Os intercâmbios intermunicipais e interestaduais, e a integração com as ações dos movimentos de lutas do território com intercâmbios e debates sobre a disputa do território da Chapada do Apodi potiguar pelo agroengócio, debates sobre outros conflitos nos territórios de trabalho.

Maria de Jesus, do P.A Paraná, Itaú, agricultora beneficiária do programa e integrante da CEM, diz que: “quando a gente passa pelas secas fica impossível de plantar, criar os bichos... Uma dificuldade triste! Mas com essas cisternas a gente pode guardar água e garantir produção e isso é alegria demais pra gente!”.

Participando de uma das últimas atividades, o Encontro Territorial que o Centro Feminista realizou apenas com as mulheres das microrregiões por onde trabalhou, Sandra da Silva, da comunidade Quilombola de Jatobá, afirmou que: 

“esse projeto mexeu com a vida da gente de um jeito... Não só pelas cisternas e barreiros porque agora a gente vai ter água e já tá tendo, mas porque a gente sente que é importante, porque a gente aprendeu muito, viajamos pra outros lugares, conhecemos mais pessoas, mulheres que nem a gente. Queremos continuar o movimento”, sorri.

Lindinalva Martins, animadora de campo, fala com a sensação do dever cumprido: “acredito que a experiência com o p1+2, através do CF8, foi um momento único em minha vida. Com uma equipe composta somente por mulheres, enfrentamos o machismo de todo dia e mostramos o quanto somos capazes.

“Sou grata pela transformação não só na minha vida e de toda a equipe porque saímos fortalecidas assim como também as famílias, as mulheres e a luta por um semiárido de mais oportunidade e igualdade”. Conceição Dantas, da coordenação do Centro Feminista explica que: Esse projeto foi desafiador. Cada instituição tem uma cultura política, o CF8 tem a sua, e mesmo com a adversidade, colocamos singularidades nossas na execução desse projeto.

“O enfrentamento do agronegócio no território, o fortalecimento da agroecologia e as discussões sobre as relações de poder entre homens e mulheres no semiárido foram tarefas constantes”. E continua: “Transformar o Candeeiro em rostos de mulheres, com certeza ajudou numa nova leitura e imagem da mulher do semiárido.

A construção de relações com os cisterneiros e cisterneiras considerando-os como sujeito do processo contribuiu para elevar a consciência crítica desse setor tão importante na execução. A recreação para facilitar a participação das mulheres.

A entrega dos caráteres produtivos às mulheres, considerando-as como legítimas das famílias, tudo isso foi fundamental para que junto com a execução a missão do cf8 se fizesse presente. Com certeza, hoje, nós estamos sorrindo junto com o Semiárido.”.

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