Campina Grande | PB; O evento aconteceu entre os dias
25 a 27 de março, em Campina Grande | Foto: Arquivo Aspa
A comunicação
popular como estratégia política para transformação social e a democratização
da comunicação foram os temas centrais do “I Encontro Estadual de Comunicação
da Articulação do Semiárido Paraibano (ASAParaíba)”. O evento foi realizado nos
dias 25, 26 e 27 de março, em Campina Grande (PB).
No primeiro dia do
Encontro, organizações de três territórios integrantes da ASA Paraíba
apresentaram suas experiências no campo da comunicação aos cerca de 40
participantes presentes no evento utilizando a metodologia do carrossel. Foram
partilhadas as experiências do Coletivo das Organizações da Agricultura
Familiar.
que atua em 11 municípios no território do
Cariri, Curimataú e Seridó Paraibanos, do Polo da Borborema, rede de sindicatos
rurais que atua em 14 municípios da região da Borborema e as organizações
Propac (Programa de Promoção e Ação Comunitária).
Camec (Central das
Associações Comunitárias do Município de Cacimbas e Região) e Cepfs (Centro de
Educação Popular e Formação Sindical) que atuam em municípios do Médio Sertão
Paraibano.
As experiências
apresentadas têm em comum diversos pontos, como uma comunicação ascendente,
enraizada nas práticas locais, construída na perspectiva da transformação
social, que é resultado do fluxo de informações entre as famílias e sua
comunidade e as organizações que as representam e a sociedade.
Esse trabalho
promove a socialização do conhecimento, das emoções, experiências e vivências
que são a base do fortalecimento de um modelo de agricultura familiar
agroecológica e mais além, um modelo de sociedade, baseada em princípios como a
solidariedade e a união. Comunicação popular e direito à comunicação:
Ainda no primeiro
dia do Encontro, foi realizada a mesa de debate: “Comunicação Comunitária,
comunicação popular e direito a comunicação”, da qual participaram Glória
Batista, da Coordenação Nacional da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA
Brasil).
Maria de Fátima Pereira da Costa, agricultora da Comunidade Riacho dos
Currais, município de São Bentinho, no Sertão Paraibano e Rosa Sampaio,
jornalista e integrante do Fórum Pernambucano de Comunicação, de Recife.
Glória Batista
iniciou sua fala fazendo um resgate da trajetória da ASA no campo da
comunicação: “A criação da ASA surgiu como uma resposta a uma conjuntura em que
o Semiárido era mostrado como um lugar feio, sem vida, não próspero.
Então nós
desencadeamos o nosso primeiro processo de comunicação, que foi entre as
entidades, um intenso processo no sentido de nos fortalecermos enquanto rede
para dizer que sim, é possível conviver aqui e o Semiárido é diferente de como
é mostrado”, afirmou.
Fátima Pereira dos
Santos afirmou que os programas de mobilização social para convivência com o
semiárido, desenvolvidos pela ASA, representaram uma nova oportunidade para o
desenvolvimento da sua comunidade e expressou a importância de uma comunicação
libertadora.
Que permite a
compartilhamento de saberes e a troca de conhecimento estão imbricada nessa
construção: “A comunicação tem um poder transformador, e a minha comunidade é
fruto dessa transformação.
Foi a partir da
chegada das cisternas, dos momentos de formação, que tivemos acesso ao
conhecimento e passamos a valorizar o local onde vivemos. Construímos nossa
capela, que foi o nosso primeiro espaço para reuniões, um espaço de
comunicação.
Hoje possuímos uma
unidade de extração de mel, um espaço de vivências e uma cozinha comunitária
onde beneficiamos frutas para vender para o PAA e o PNAE, já temos um boletim
comunitário com a nossa experiência e recebemos visitas de outras comunidades e
de escolas”, disse a agricultora.
Rosa Sampaio falou
sobre a necessidade dos movimentos sociais compreenderem a importância de
enxergar a comunicação como um direito e como um serviço público, que precisa
de controle social, de modo que possa servir ao interesse público, como
proposta para isso, citou a campanha de coleta de assinaturas para uma lei de
iniciativa popular que propõe a democratização da mídia:
“Enquanto a gente
não conhecer e não acessar esse direito, vamos continuar tendo muita
dificuldade de nos sentir representados na mídia tradicional que está aí, que
não considera as nossas experiências e que é uma das maiores responsáveis pela
estigmatização da vida no campo e a criminalização das lutas. Nós temos direito
de sermos representados, precisamos lutar por outro modo de visibilidade”.
Após a mesa, houve
um debate sobre o conteúdo das três falas, onde o grupo refletiu sobre o
trabalho de comunicação realizado pelas organizações da ASA Paraíba em seus
territórios e de que forma ele contribui para a construção do projeto de
convivência com o Semiárido defendido pelo conjunto de suas organizações.
O debate abrangeu
ainda uma análise do contexto atual de extrema concentração dos meios de
comunicação, criminalização dos movimentos sociais e como está se construindo
focos de resistência a essa realidade.
No segundo dia de
evento, três oficinas aprofundaram o diálogo em torno dos temas: Rádio,
Ativismo e Mobilização Social e Redes Sociais. Nestes espaços, os participantes
puderam aprofundar as discussões sobre as questões relativas a cada um dos três
temas.
Na oficina de
Instrumentos de Ativismo e Mobilização Social foi feita uma reflexão sobre a
contribuição dos diversos coletivos de agitação e propaganda no processo de
lutas sociais na política desde o período da Revolução Russa até os dias
atuais.
Foi apresentado
como proposta o desencadeamento de um processo participativo para a
reconstrução da logomarca da ASA Paraíba e a produção de um vídeo sobre os 22
anos de história da Articulação no Estado. Além disso, os participantes ainda
produziram um painel ilustrativo com o lema do último Encontro Nacional da ASA
(Enconasa): “É no Semiárido que a vida Pulsa! É no Semiárido que o povo
resiste!”.
A oficina de Rádio
debateu o papel e o lugar da ferramenta na construção do projeto político da
ASA, além de lançar um olhar sobre experiências bem sucedidas no campo das
chamadas “Rádios Livres”, na conhecida e necessária, “Reforma Agrária do Ar”,
numa alusão ao movimento que se contrapõe a criminalização das rádios de
inspiração comunitária e defende a democratização do acesso ao rádio.
O grupo que aprofundou o tema das Redes Sociais, foi além e debateu as novas tecnologias, quais as implicações do seu uso e de que forma podemos estar presentes nas redes, sem deixar de ter um olhar crítico para esta ferramenta, seus desafios e limitações.
O terceiro e último
dia do Encontro foi dedicado aos encaminhamentos e definições práticas para
fazer avançar no estado o processo de construção coletiva de uma política de
comunicação da rede e também para pensar em formas de fazer as discussões do
encontro serem irradiadas para todos os territórios, para um conjunto mais
amplo de pessoas e organizações.
Entre os
encaminhamentos está a elaboração de uma agenda de atividades coletivas, a
construção da fanpage estadual, o mapeamento das organizações do estado e das
rádios comunitárias, a preparação para o encontro regional de comunicação, que
ocorrerá em Mossoró-RN e o fortalecimento da campanha
pela implementação da lei da mídia democrática.
O Encontro Estadual
de Comunicação faz parte de um processo de eventos de formação destinados a
debater o lugar e a importância da comunicação na construção do modelo de
convivência que vem sendo construído pelas organizações da ASA em todo o
Semiárido Brasileiro.
Também faz parte das comemorações dos 15 anos da
Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) e dos 22 anos da ASA Paraíba.
Fonte: http://www.asabrasil.org.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário