sábado, 27 de junho de 2015

Produção da agricultura familiar potencializa Semiárido como maior produtor de alimentos saudáveis do Brasil


Catarina de Angola e Monyse Ravenna – Asacom; Programa P1+2 da ASA, implementa tecnologias sociais de captação de água da chuva para produção de alimentos | Foto: Acervo Asacom

Nos últimos oito anos, milhares de famílias do Semiárido tiveram acesso a água através da mobilização social e de políticas públicas, acessaram tecnologias sociais de captação de água da chuva para a produção de alimentos, muitas implementadas pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) como resultado da mobilização social. 

Com a possibilidade de guardar a água para continuar produzindo na época da escassez das chuvas, agricultores e agricultoras aumentaram a capacidade de garantir sua segurança alimentar. E, mesmo nos últimos cinco anos de forte seca na região, muitas conseguiram manter uma produção de alimentos para consumo e comercializar o excedente. 

“Mesmo nesse período de seca o número de feiras em muitos municípios da região aumentaram. Essa informação é relatada por diversas organizações da ASA que atuam nos estados”, explica Antonio Barbosa, coordenador do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) e do Programa Sementes do Semiárido, ambos da ASA.

Hoje, a agricultura familiar é responsável por cerca de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros e brasileiras e cerca de 50% dos estabelecimentos da agricultura familiar estão no Semiárido, o que confere a região um grande potencial de produção de alimentos. 

E a ASA, em sua ação, acredita que a região pode se tornar a maior produtora de alimentos saudáveis do país nos próximos quatro anos. “Até o ano que vem, cerca de 150 mil famílias terão acesso a tecnologias de água para a produção de alimentos em toda a região, contabilizando a ação da ASA e dos Estados.

Isso significa que cerca de 10% da população semiárida poderá produzir sua própria alimentação”, explica o coordenador do programa Antonio Barbosa. A perspectiva apontada pela ASA se deve pelo acesso a água, mas também por outros avanços enxergados pela Articulação na região, como:

a preservação do patrimônio genético pelas comunidades, que guardam sementes animais e vegetais; a execução de chamadas públicas de assistência técnica e extensão rural (Ater) realizada pelo governo com foco agroecológico.

E a possibilidade de saída de um período de forte seca com a volta das chuvas. “O Semiárido como maior região produtora de alimentos saudáveis é uma perspectiva de produção de alimentos para consumo das famílias”. 

Claro que pode existir um excedente e isso ser comercializado, mas o nosso incentivo enquanto ASA é na garantia de melhor qualidade dos alimentos e da segurança e soberania alimentar das famílias agricultoras.

“Esse é o debate que o Semiárido levará para a Conferência Nacional de Segurança Alimentar”, explica Barbosa. Na conferência a ASA pautará a perspectiva do Semiárido como maior produtor de alimentos saudáveis do Brasil, a partir do incentivo à produção agroecológica e sua contribuição e esforço na implementação de seus programas, principalmente da ação do P1+2 e o Programa Sementes do Semiárido.

Comida de verdade no campo e na cidade - A 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar, que acontecerá de 03 a 06 de novembro em Brasília (DF) e tem como tema “Comida de Verdade no Campo e na Cidade: 

Por “Direitos e Soberania Alimentar”, é um evento estratégico entre ações e iniciativas para se atingir as metas de erradicação da extrema pobreza no país. 

O objetivo geral é ampliar compromissos políticos para a promoção da soberania alimentar, garantindo o direito humano à alimentação adequada e saudável, a participação social e a gestão intersetorial. 

Werner Fuchs, integrante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), sublinha que a relação Campo e Cidade será uma das tônicas da Conferência, “hoje as pessoas que vivem na cidade não se enxergam apenas como consumidores, mas também começam a se reconhecer como produtores de alimentos”.

Outro tema para o qual a Conferência vai se voltar é o consumo, cada vez maior, de alimentos ultraprocessados. O Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado em 2014 pelo Ministério da Saúde, recomenda que a base da alimentação sejam os alimentos in natura ou minimamente processados. 

Outra iniciativa do Ministério de Saúde é o livro sobre alimentos regionais brasileiros que discute a possibilidade de resgatar e incentivar o consumo de alimentos regionais e sua relação simbólico-cultural.
O objetivo é valorizar os itens alimentares com características regionais, apresentando-os como instrumentos de fomento e proteção do patrimônio material e imaterial.

“Tivemos muitos avanços no campo das políticas públicas de segurança alimentar, mas também houveram alguns refluxos. A Conferência é importante para reafirmarmos que não pode haver recuo no avanço da garantia da segurança alimentar”, afirma o conselheiro.  

Cerca de duas mil pessoas participarão do evento, oriundas de todas as estadas do Brasil e duas terças da delegação serão formada por representantes da sociedade civil. O processo preparatório da Conferência deve envolver de 70 a 100 mil pessoas até novembro. 

“A Conferência vai ser uma síntese desse processo e nós queremos dialogar com toda a sociedade, afirmando a diversidade da cultura alimentar brasileira que se contrapõe a monocultura alimentar imposta pelo agronegócio e pelas grandes redes de supermercados”, completa o conselheiro.

Fonte: http://www.asabrasil.org.br

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