Ubirajara Machado/MDS
Até junho, mais de 120 mil tecnologias sociais foram
entregues para que famílias captem água da chuva e utilizem na produção de
alimentos nos períodos de estiagem, garantindo renda e segurança alimentar para
agricultores familiares do Semiárido
Brasília, 24 – José Nivaldo dos Santos, 49 anos, e
Maria Aparecida dos Santos, 44 anos, criaram quatro filhos na zona rural de
Areial (PB), debaixo de muito sol e com muito trabalho. Localizado a 170
quilômetros da capital paraibana, no sertão do estado, o município tem solo
arenoso. Lá a chuva é esparsa, como em todo Semiárido.
“Hoje, eu sou feliz porque meus filhos não passaram
fome como eu passei”, lembra dona Cida. Além da fome, a sede também castigava.
Em 1998, eles construíram por conta própria uma cisterna para armazenar a água
da chuva que caía pelo telhado da casa. Antes, eles tinham que caminhar até 12
quilômetros para ter água para beber. “Tinha vez que eu saía às 4 horas da
manhã e retornava perto do meio dia.”
O sofrimento do passado é apenas uma recordação. O
sorriso brota feliz no rosto do casal, da mesma forma que as hortaliças, frutas
e legumes agroecológicos surgem, mesmo em meio ao solo pobre em nutrientes e
que, por isto, precisa de muita água. “Hoje, só dou risada”, brinca Seu Niva.
Em junho de 2013, o casal recebeu a cisterna calçadão –
um dos modelos de tecnologia social para captação de água para produção –,
resultado da parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS) e a Articulação Semiárido Brasileiro (Asa).
Seu Niva fez questão de
registrar a data no cimento da tecnologia. “Antes das cisternas, o pobre só
plantava o coentro para temperar o feijão. Agora, a gente come salada, coisas
que a gente não comia antes, como berinjela, repolho...”
A cisterna calçadão ganhou esse nome porque ela capta a
água da chuva a partir de um calçadão de 200 m², o que equivale à metade de uma
quadra de futebol de salão. Cercada por um meio fio, a construção é feita em
declive.
A água é conduzida para uma caixa de decantação e daí para o
reservatório, no mesmo formato das cisternas de água para consumo, que têm
capacidade para armazenar 52 mil litros de água. Coberta e fechada, a
tecnologia é protegida da evaporação e das contaminações causadas por animais.
A melhoria da produção abriu outras possibilidades de
geração de renda para o casal. Em 2014, primeiro ano após a construção, eles
receberam R$ 10 mil com as vendas que fizeram para o Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) e para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
Em
2015, já conseguiram receber R$ 2 mil, no período entre janeiro e junho. “É o
mesmo que antigamente conseguíamos ganhar em um ano todo. Os atravessadores
diminuíam muito o preço das nossas coisas”, compara Dona Cida.
A renda ajuda também a apagar as marcas que a fome
deixou. “Hoje eu como carne todos os dias. Antes, o pobre só comia carne no
domingo”, lembra Seu Niva. Na propriedade, eles têm 24 tipos de produtos
agrícolas, além de criar gansos, perus, galinhas e porcos. A família também tem
um banco de sementes crioulas – sem modificação genética – que garante
autonomia na hora de produzir.
Nivaldo conta que a felicidade da família é ali na zona
rural de Areial. “Se me tirarem daqui, eu sou capaz de morrer logo. A minha
vida é aqui”, conta. O filho Adevam Firmino dos Santos, de 20 anos, faz curso
técnico em Agropecuária para ajudar o pai na plantação.
“Não tinha onde guardar
água” – A cisterna calçadão também mudou a vida de Clóvis Galdino de Souto, 66
anos, e Maria José Barros de Souto, 62 anos, que prefere ser chamada de Dona
Dé. Aposentados, eles vivem desde 1978 na zona rural de Cubati (PB), onde
criaram cinco filhos.
A seca também os maltratou. Como o marido tinha que
trabalhar fora para garantir o sustento, Dona Dé caminhava até seis quilômetros
para poder pegar água. “Eu saía às três horas da madrugada, com os meninos
todos pequenos, para ir pegar água.
Não tinha água por aqui perto não.” Hoje,
com as cisternas de água para beber e para ajudar na produção, a vida está
diferente. “Antigamente chovia, mas não tinha onde a gente guardar a água”,
afirma Clóvis. “A vida está boa demais em vista do sofrimento que a gente vivia
aqui.”
A produção de alimentos, gradualmente, começa a
ultrapassar as fronteiras da propriedade e da mesa da família. Por mês, mesmo
com a seca, eles comercializam cerca de R$ 150, que ajuda a completar a feira.
Para dona Dé, no entanto, a melhor conquista é uma alimentação mais saudável.
“Antigamente era só o coentro pra colocar no feijão, agora eu tenho uma
variedade muito grande.”
Fonte: http://www.mds.gov.br
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