Por Emir Sader
A disputa política atual é a disputa em torno dos projetos para o
Brasil. As tentativas sistemáticas e forjadas de desqualificar Lula é pelo que
ele representa como possibilidade de retomada do projeto de desenvolvimento com
distribuição de renda.
O que possibilitou que o Brasil tivesse o melhor momento da sua
história e inviabilizou assim, por um tempo pelo menos, o retorno da direita ao
poder. O objetivo da direita é buscar inviabilizar qualquer candidato que
represente esse projeto. Não adianta ficar buscando outros nomes, porque a
campanha seria similar.
Nem que, hipoteticamente, o candidato fosse Leonardo Boff,
escaparia da campanha forjada para difundir uma imagem diabólica dele. A
direita não fala do seu projeto de país. Podemos deduzir, pelas suas
candidaturas, que se trata de retomar o modelo neoliberal, que fracassou com
FHC e não conseguiu aprovação na consulta democrática das eleições desde 2002.
A restauração neoliberal de Mauricio Macri na Argentina confirma o
projeto da direita para a região: a vingança contra os salários, contra os
direitos dos trabalhadores, contra a proteção dos empregos, contra o
desendividamento do país, contra o povo e a democracia.
Aqui também se trata da disputa de projetos. Tratam de manter a
pauta do denuncismo sem fundamento, do pessimismo econômico de um país sem
saída, para promover que a preocupação maior dos brasileiros seria a corrupção
e que a grande maioria acreditaria que o país não tem jeito.
A esquerda precisa sair do corner do ringue a que a direita busca
mantê-la, para não apenas se defender, mas recolocar os temas centrais do país
como temas centrais do país. Sair da defensiva e dos termos a que a direita
quer que a esquerda se limite - a se defender de acusações.
O que fazemos na internet é uma guerrilha de resistência contra as
campanhas de manipulação da grande mídia monopolista, que funciona como um
exército de ocupação na formação unilateral da opinião pública, impondo sua
agenda ao país. Precisamos de muito mais do que isso.
Do que se trata é de disputar a agenda real do Brasil com todos os
meios. Lula tem que continuar desmascarando as mentiras que diariamente a mídia
– seguindo o preceito de Goebells, segundo o qual se se mente, se mente, se
mente, desesperadamente, sempre alguma suspeita fica – difunde.
Mas Lula tem que comandar o país pelo deslocamento para a agenda
real do Brasil: a disputa de projetos diferentes para o país, porque disso se
trata. Querem desqualificá-lo porque não encontram formas nem argumentos para
rebater o projeto que Lula colocou em prática e pode retomar.
Lula tem que falar ao país, dizer que o que se trata é uma disputa
feroz por projetos diferentes. Que ele, Lula, como forma de impedir que a
direita volte a comandar e desfazer todas as conquistas democráticas se dispõe
a ser candidato e apresentar a via de retomada.
Adaptada às condições de hoje, do modelo de desenvolvimento com
distribuição de renda. Que ele, Lula, seguirá lutando para que o próprio
governo assuma abertamente esse modelo, que permitiu ao Brasil resistir à crise
iniciada em 2008, e que pode permitir reagir ativamente diante das conseqüências
continuadas dessa crise.
Que essa é a única via de superar a crise, recompor a base popular
de apoio ao governo e permitir que ele supere a crise e reconquiste capacidades
plenas de governar o país, reconduzindo-o pelo caminho da retomada do
desenvolvimento com distribuição de renda, via de sucesso do governo desde
2003.
Lula tem que deslocar o debate para os verdadeiros objetivos da
luta política hoje no Brasil: a disputa pelo país que cada força quer. De
alguma forma, responder ao que a direita faz – iniciar hoje a campanha
eleitoral de 2018 -, colocando-a nos seus termos reais.
Disso se trata da disputa de projetos de país. A luta hoje é para
centrar nessa disputa a luta política e de idéias. É a forma de sair da
defensiva, que é caminho de derrota. Discutir abertamente os projetos que estão
em jogo é a via para sair da defensiva.
Centrar o debate nos dilemas reais do Brasil hoje. Esse é o
caminho de retomar a ofensiva, o caminho de recuperar um modelo que fez do
Brasil um país mais democrático, menos desigual, que mostrou que pode dar
certo, um país solidário, justo e soberano.
Fonte: Brasil 247
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