Rosany
Bochner coordena o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas
(Sinitox) e é pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica
e Tecnologia em Saúde (Icict).
Ela analisou dados do Sistema de
Informação sobre Mortalidade (SIM) e constatou que há subnotificação e
notificações irregulares sobre mortes provocadas por agrotóxicos. O próprio Ministério da Saúde estima que a subnotificação faz com que, para cada evento de intoxicação por agrotóxico notificado, há outros 50 não comunicados.
Segundo
dados do Sinitox, foram registrados, no período de 2007 a 2011, 26.385 casos de
intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola, 13.922 por agrotóxicos de uso
doméstico, 5.216 por produtos veterinários e 15.191 por raticidas.
Os
agrotóxicos são o terceiro grupo responsável pelas intoxicações, com 11,8% dos
casos. Antecedido pelos medicamentos (28,3%) e animais peçonhentos (23,7%). Os
óbitos causados por agrotóxicos de uso agrícola atingiram 863 pessoas (39,4%),
os de uso doméstico 29 casos (1,3%).
Os
produtos veterinários corresponderam a 22 ocorrências (1,0%) e os raticidas
causaram 138 óbitos (6,3%). Segundo levantamento feito por Rosany Bochner,
desses óbitos, apenas 14 (1,3%) foram registrados como ocupacionais.
Rosany
Bochner analisou 33 mortes registradas no Brasil pelo SIM, no período de 2008 a
2012. Ela considerou o perfil socioeconômico; ano de óbito, estado e local do
acidente, causas associadas aos óbitos decorrentes de intoxicações, dentre
outros pontos. Agricultores são
afetados.
A
exposição a agrotóxicos atinge em especial agricultores, que podem ser afetados
pela manipulação direta ou por meio de armazenamento inadequado,
reaproveitamento de embalagens, roupas contaminadas ou contaminação da água.
Trabalhadores
da agricultura e pecuária, de saúde pública, de firmas desintetizadoras, de
transporte e comércio dos agrotóxicos, de indústrias de formulação de
agrotóxicos são os principais profissionais sujeitos à exposição ocupacional a
agroquímicos.
Segundo
o relatório divulgado pelo Inca - Vigilância do Câncer relacionado ao Trabalho
e ao Ambiente -, a exposição aos agrotóxicos pode ocorrer “pelas vias
digestiva, respiratória, dérmica ou por contato ocular”. Podem determinar quadros de intoxicação aguda (quando os sintomas surgem rapidamente.
Algumas horas após a exposição excessiva e por curto período aos produtos tóxicos).Subaguda (ocorre por exposição moderada ou pequena a esses produtos, e tem surgimento mais lento, com sintomas subjetivos e vagos, tais como dor de cabeça, fraqueza, mal-estar, dor de estômago e sonolência.
Dentre
outros) e crônica (quando o surgimento dos sintomas “é tardio, podendo levar
meses ou anos, acarretando por vezes danos irreversíveis, como distúrbios
neurológicos e câncer”). Caso no
Ceará: Esse é o caso de VMS*, residente na comunidade de Cidade Alta, no município de Limoeiro do Norte, na Chapada do Apodi - Ceará.
Ele trabalhava para uma multinacional na função de trabalhador agrícola.E tendo sido transferido para o almoxarifado químico, onde era auxiliar no preparo da solução de agrotóxicos para borrifo na lavoura de abacaxi.Mesmo utilizando equipamentos de proteção individual (EPI), a partir de 2008 VMS passou a sentir fortes dores de cabeça, febre, falta de apetite.
Os olhos amarelados e inchaço no abdômen. Em agosto desse ano, houve piora em seu quadro clínico, obrigando-o a afastar-se do serviço.Em novembro, faleceu, aos 31 anos. Se para alguns estava clara a intoxicação por agrotóxicos, para a Justiça havia a necessidade de se provar que de fato a intoxicação foi o que levou VMS a morte.
As evidências vieram
dos estudos feitos pela pesquisadora e professora do Departamento de Saúde
Comunitária, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFCE),
Raquel Rigotto. Junto com a sua equipe multidisciplinar, ela comprovou que todos os problemas de saúde do paciente foram ocasionados pela exposição ocupacional aos agrotóxicos.
Em 2013, a Justiça
reconheceu que a morte de VMS foi motivada “pelo ambiente ocupacional”, ou
seja, pelo trabalho com substâncias agrotóxicas. “Segundo o sistema, VMS seria mais uma vítima do agronegócio, que morre sem deixar vestígios da relação causal entre a exposição a agrotóxicos e o agravo à saúde”, disse Rosany Bochner.
Fonte: Brasil de Fato
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