sábado, 22 de dezembro de 2012

Emir Sade diz como vê o campo da esquerda hoje

Como o senhor define o campo da esquerda hoje?  Emir Sade: O capitalismo assumiu a roupa neoliberal. Veio de um modelo keynesiano, de bem-estar social, para um modelo liberal de mercado. Essa é a linha divisória. Ser de esquerda hoje, moderadamente ou radicalmente, é ser antineoliberal. A luta essencial é entre mercado e direitos. A gente quer tirar do mercado e colocar na esfera do direito e eles querem mercantilizar. A linha demarcatória é neoliberalismo e antineoliberalismo. Há movimentos que são gritos desesperados que não encontram espaço na esfera política. Agora, diferente é o movimento dos estudantes no Chile, que tem organicidade com os sindicatos, fazem greve geral e levaram à quebra de legitimidade do governo Piñera. (Seria possível estratégias combinadas entre movimentos, partidos e governos?) A América Latina teve governos neoliberais na sua versão mais radical. Na década de 1990 tivemos um período de resistência contra essa hegemonia que era tão forte. Os movimentos sociais foram determinantes nessa época. Depois, surgiram governos alternativos. Era a hora de passar da resistência à disputa de hegemonia. Na época, a hegemonia dominante no Fórum Social Mundial era a das ONGs, tanto assim que se teorizou e os movimentos sociais entraram nessa sobre a ‘autonomia dos movimentos sociais’. Autonomia em relação a quê? A gente falava antes de maneira ampla em autonomia em relação à burguesia e etc... Agora, autonomia em relação à política? A ONG sim nasceu como sociedade civil conquistada. Os movimentos sociais entrarem nessa foi uma loucura. O movimento piquetero acabou na Argentina. Os zapatistas buscaram emancipar Chiapas, independente da luta política no México, são contra até o PRD e as soluções moderadas, em nome da ‘autonomia dos movimentos sociais’. Isso é algo pré-gramsciano. É não disputar a hegemonia. Então, foi fundamental os movimentos bolivianos se reunirem. Derrubaram cinco governos na Bolívia, criaram um partido para disputar a presidência, dando um salto de qualidade. Quem está, mal ou bem, construindo um outro mundo possível são os governos latino-americanos. O FSM devia ser o lugar onde os governos com os movimentos sociais sejam os pontos centrais dessa alternativa.

Fonte: Brasil de Fato

Nenhum comentário:

Postar um comentário