Como
o senhor define o campo da esquerda hoje? Emir Sade: O
capitalismo assumiu a roupa neoliberal. Veio de um modelo keynesiano, de
bem-estar social, para um modelo liberal de mercado. Essa é a linha divisória.
Ser de esquerda hoje, moderadamente ou radicalmente, é ser antineoliberal. A
luta essencial é entre mercado e direitos. A gente quer tirar do mercado e
colocar na esfera do direito e eles querem mercantilizar. A linha demarcatória
é neoliberalismo e antineoliberalismo. Há movimentos que são gritos
desesperados que não encontram espaço na esfera política. Agora, diferente é o
movimento dos estudantes no Chile, que tem organicidade com os sindicatos,
fazem greve geral e levaram à quebra de legitimidade do governo Piñera. (Seria possível estratégias combinadas entre
movimentos, partidos e governos?) A América Latina teve governos
neoliberais na sua versão mais radical. Na década de 1990 tivemos um período de
resistência contra essa hegemonia que era tão forte. Os movimentos sociais
foram determinantes nessa época. Depois, surgiram governos alternativos. Era a
hora de passar da resistência à disputa de hegemonia. Na época, a hegemonia
dominante no Fórum Social Mundial era a das ONGs, tanto assim que se teorizou e
os movimentos sociais entraram nessa sobre a ‘autonomia dos movimentos
sociais’. Autonomia em relação a quê? A gente falava antes de maneira ampla em
autonomia em relação à burguesia e etc... Agora, autonomia em relação à
política? A ONG sim nasceu como sociedade civil conquistada. Os movimentos
sociais entrarem nessa foi uma loucura. O movimento piquetero acabou na Argentina.
Os zapatistas buscaram emancipar Chiapas, independente da luta política no
México, são contra até o PRD e as soluções moderadas, em nome da ‘autonomia dos
movimentos sociais’. Isso é algo pré-gramsciano. É não disputar a hegemonia.
Então, foi fundamental os movimentos bolivianos se reunirem. Derrubaram cinco
governos na Bolívia, criaram um partido para disputar a presidência, dando um
salto de qualidade. Quem está, mal ou bem, construindo um outro mundo possível
são os governos latino-americanos. O FSM devia ser o lugar onde os governos com
os movimentos sociais sejam os pontos centrais dessa alternativa.
Fonte: Brasil de Fato
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