sábado, 23 de março de 2013

A construção da nova civilização no Terceiro Milênio passa por um gesto de extrema coragem. A coragem de fazer caminho onde não há caminho, Já é agora!

 “A construção da nova civilização no Terceiro Milênio passa por um gesto de extrema coragem. A coragem de fazer caminho onde não há caminho. Já e agora. Em momentos cruciais, da prova maior, aonde vamos inspirarnos? De que fundo vamos tirar os materiais para a nova construção? Devemos imbuir-nos da esperança de que o caos atual prenuncia uma nova ordem, mais rica e promissora de vida para todos. Bem versejava Camões (1524-1580): Depois de procelosa tempestade Soturna noite e sibilante vento Trazem a manhã serena claridade Esperança de porto e salvamento”. Mas, para que este salvamento ocorra, precisamos ter bem clara a convicção de que este futuro necessário não se fará a partir dos prin­cípios que organizaram o passado. Foram eles que levaram ao impas­se atual. Quem ainda persiste em neles crer, labora num profundo equívoco. E desta vez não há tempo para ensaios, equívocos e erros. Pois não haverá possivelmente tempo para correções. Em contextos assim devemos recorrer às grandes metáforas, cujo sentido emerge cristalino. Voltamos a contar a história de um educa­dor e líder político da pequena república de Gana, na África Ociden­tal, James Aggrey (f. 1927). Ela foi objeto de nosso primeiro livro A águia e a galinha, uma metáfora da condição humana. Vamos novamente transcrevê-la, dada a sua beleza e sua densidade. “Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/a rai­nha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista: Esse pássaro aí não é galinha. E uma águia. De fato disse o camponês. É águia. Mas eu criei-a como gali­nha. Ela não é mais uma águia. Transformaram se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de envergadura. Não — retrucou o naturalista. Ela é será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às al­turas. Não, não  insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voa­rá como águia. Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:  Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe! A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou:  Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!  Não  tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã. No dia seguinte, o naturalista subia com a águia no telhado da casa. Sussurrou-lhe:  Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe! Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e voltou à carga: Eu lhe havia dito, ela virou galinha! Não  respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:  Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe! A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do Sol, para que seus olhos pudessem encher-se da clari­dade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típi­co kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... Voou... Até confundir-se com o azul do firmamento... E terminou conclamando: — Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à ima­gem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda achamos que somos efe­tivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companhei­ros e companheiras, abramos as asas e voemos. Voemos como as águias. “Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar”. Prf.Dr.Leonardo Boff. (O despertar da águia). (Manoel Neto)

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