Sessão Especial de quarta-feira 10/04, as 15:00 hs na
Assembléia Legislativa da Paraíba.
O Nordeste brasileiro vive a maior e mais devastadora seca
dos últimos 40 anos, uma das mais inclementes de todas as 73 já registradas
desde 1559. Pela primeira vez de 1912 até aqui, há um século, portanto, nada
choveu nos meses seguidos de março, abril, maio e junho. No semi-árido dos
Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,
Sergipe, Bahia e no Norte de Minas, 1.046 municípios estão em estado de
emergência, mais de 20 milhões de nordestinos castigados, cerca de 91% da
população de todo o semi-árido atingida. Desse total, mais de 8 milhões vivem
na zona rural, sofrem sede e o desespero de verem seus rebanhos dizimados. A
despeito de programas emergenciais como o do carro-pipa freqüentemente tem que
comprar até a cuia d’água de sua própria sobrevivência. Registre-se que os
programas de inclusão social do Governo Federal minimizaram a fome das
pessoas, evitando cenas de invasões e saques freqüentes em secas anteriores.
Mas as políticas emergenciais de abastecimento d’água e de suprimento de
alimentação animal foram absolutamente insuficientes. A agricultura sofreu
perdas de cerca de 80% na região. Os rebanhos foram reduzidos à metade,
sobretudo porque, este ano, os produtores já não contaram com a palma
forrageira, praticamente destruída na região pela praga da cochonilha do
carmim. O mandacaru e outros cactos rarearam. A produção do leite caiu 70%. Até
as abelhas sofreram. A apicultura também perdeu cerca de 70% de sua produção.
Nem os poucos perímetros irrigados se livraram dos prejuízos e amar gam perdas
em torno de 50%. O próprio Ministério da Integração calculou prejuízos
superiores a R$ 16 bilhões, mas a completa desestruturação de nossa frágil
economia rural não tem preço mensurável. Os técnicos são unânimes em estimar
prazos mínimos de dez anos para que os rebanhos voltem ao estágio de 2.011,
mantida a atual política de financiamento. O noticiário registra chuvas esparsas
e rápidas em alguns pontos do Nordeste, mas os meteorologistas, reunidos em
Campina Grande em dezembro passado, representando 17 instituições públicas de
pesquisas, controle e gerenciamento de águas, não deixam dúvidas. As chuvas
serão irregulares e abaixo das médias históricas, sobretudo no período de
janeiro a março de 2.013. Mais ainda, não serão suficientes para a recuperação
das reservas hídricas dos açudes da Paraíba nem do Nordeste. Se não há dúvidas
em relação a esse ano de 2.013, menos ainda haverá em relação aos anos subsequentes.
Desde que se começou o registro das secas no Nordeste, no remoto 1.559, a
intercorrência das estiagens na região é de apenas 6,3 anos, ao longo de 425
anos de observações. Outras secas virão, com absoluta certeza. O que mudarão
serão apenas a intensidade e a abrangência de cada uma delas. As secas são
absolutamente inevitáveis, mas a calamidade, o sofrimento, a fome, a sede, a
dizimação de rebanhos e a desorganização da economia rural não são. Em lugar
algum do mundo está escrito que, já na segunda década do século XXI, o
nordestino não tenha sequer uma cuia d’água pra beber. Outras regiões semi-áridas
do mundo são produtivas. Por que a nossa não apenas não o é, como ainda condena
mais de 8 milhões de nordestinos da zona rural à fome, a sede, à dor e ao
desespero? O Brasil dispõe de conhecimento, tecnologia e recursos para preparar
o Nordeste para a convivência com a seca. Somos a sétima economia do mundo.
Ainda agora, o país flexibiliza leis, aloca recursos extraordinários e faz o
que é necessário para que, em tempo recorde, se construam estádios monumentais,
se ampliem e estruturem portos e aeroportos e as cidades se preparem para a
próxima Copa do Mundo. O Brasil também pode preparar o Nordeste para a próxima
seca. Se quiser. E está na hora de querer. O Governo de Vossa Excelência, em
boa hora, reconhece que País rico é um País sem miséria. Permitimo-nos
acrescentar, corroborando e explicitando a visão e a preocupação de Vossa
Excelência. País rico é um país sem miséria e sem regiões excluídas, sem
populações inteiras condenadas à desesperança. Sem vidas secas, sem os órfãos
do sol e dos pais vivos que os deixam, em busca de emprego no Brasil que cresce
se desenvolve e absorve mão de obra. Somos um movimento regional e
suprapartidário, apenas movido pela consciência cidadã de ecoar o clamor surdo
e contido que se eleva dos campos desertos e da caatinga hoje tão cinzenta como
o horizonte de vida de 20 milhões de nordestinos. Somos deputados, senadores e
mandatários populares, bispos, pastores e missionários de muitos credos e de um
único Deus, técnicos e pesquisadores de instituições públicas e privadas, professores,
representantes de entidades de classe, de Federações, de movimentos de
trabalhadores e de agricultores, de representantes do movimento social e, acima
de tudo, cidadãos de todos os Nordestes. Diante do quadro da calamidade social
e econômica que hoje sofre nossa região, por causa da seca, apresentamos a
Vossa Excelência reivindicações de medidas emergenciais que atendam a urgência
dessa estiagem, e de medidas permanentes e duradouras de fortalecimento da
economia rural do Nordeste, de sua infraestrutura hídrica, e das reservas para
alimentação dos rebanhos, de tal forma que jamais se reviva o drama social e
econômico de 2.012, no Nordeste rural. Temos a esperança de que, no Governo de
Vossa Excelência, se possa finalmente vislumbrar o que o Nordeste reivindica há
muitas estiagens: um conjunto de políticas públicas e programas de governo que
nos permitam a convivência com a seca e com o clima, implementadas sem a
pressão da calamidade, em períodos de normalidade climática, como resultaqdo da
determinação política de um País e de um Governo que terão entendido que as
secas são inevitáveis. Mas a calamidade, não. AÇÕES DE FORTALECIMENTO DA
INFRAESTRUTURA HÍDRICA Conclusão, em caráter absolutamente urgente e prioritário,
das obras de transposição do Rio São Francisco para os Estados da Paraíba,
Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará; Implementação, também em caráter
urgente e prioritári obras de esgotamento sanitário dos municípios às margens
dos rios ou canais da transposição,
de tal forma que não se poluam essas águas, essenciais para o abastecimetno
humano; Construção de novas barragens receptoras das águas do São Francisco e
ampliação das regiões beneficiadas com a transposição; Alocação de recursos no
OGU para a construção de adutoras para as cidades e comunidades rurais,
conforme a Lei Brasileira de Recursos Hídricos (Lei 9.433/1997), complementando
os projetos já existentes em todos os Estados nordestinos; Perenização dos rios
intermitentes do semi-árido, através da implantação de barragens subterrâneas,
utilizando as tecnologias simplificadas, de baixo custo e rápida execução, como
a de lona, já bem difundida na região; Garantia de pelo menos um ponto de água
potável (poços ou cisternas de placa ou de calçadão, ou qualquer outra
tecnologia), em cada propriedade rural, de forma a garantir o abastecimento
humano; Integração de bacias dos principais rios intermitentes, nos diversos
Estados, que viabilizem o armazenamento e a distribuição de água, em
complemento e suporte à transposição do São Francisco; Construção de pequenos
açudes, barreiros e aguadas, com vistas a dessedentarão animal e à irrigação de salvação da agricultura familiar. Adoção de políticas
públicas participativamente construídas com os Comitês de Bacias e
representantes das diversas regiões envolvidas, com vistas à segurança hídrica
e a outros temas estratégicos no semiárido brasileiro; Ampliação do Programa
Federal de recuperação e revitalização dos perímetros irrigados com
viabilidade econômica, com aproveitamento mais eficiente do uso da água; Instalação
de medidores elétricos especiais de o Programa Tarifa Verdes nos mananciais com
segurança hídrica e que tenham área com solos aptos para irrigação, com linhas
de crédito subsidiadas para pequenos projetos de irrigação; AÇÕES
DE FORTALECIMENTO DA ECONOMIA RURAL Estímulo e apoio à recuperação dos
rebanhos (bovino, caprino e ovino) e à retomada de atividades agrícolas, com
ênfase em culturas adaptadas e resistentes à seca; Apoio à reorganização da
comercialização de produtos da agricultura familiar, articulando-se o mercado
aberto e os mercados institucionais, a exemplo de hospitais, escolas, creches
e presídios; Solução imediata e definitiva para o endividamento dos produtores
do semiárido do Nordeste, junto às instituições financeiras oficiais, com
subsídios dos juros e correções da dívida, mediante compromissos e metas de
geração de emprego e manutenção dos rebanhos;
Suspensão imediata das execuções de dívidas rurais em todo o Nordeste e das
restrições cadastrais a esses devedores; Disponibilização de novos empréstimos
com juros diferenciados, com vistas à retomada da atividade econômica e à
recomposição dos rebanhos nas áreas atingidas pela seca. Capacitação dos
jovens do meio rural atavés de cursos profissionalizantes que obedeçam e
respeitem as vocações regionais; Execução de programas permanentes de apoio e
incentivo à produção, à silagem, fenagem e oferta de forragens para alimentação
animal, com ênfase para espécies resistentes e subporodutos da indústria
regional, como o bagaço de cana; Retomada do cultivo da palma forrageira
resistente à cochonilha do carmim, através da implantação de bancos de
produção de raquetes para distribuição com os produtores; Fortalecimento das ações da Emater, hoje
praticamente extintas, nas áreas de asssentamento da reforma agrária e de
agricultores familiares tradicionais, para organização da produção e acesso aos
mercados; Continudiade do programa de distribuição de milho e torta de algodão,
com logística que permita segurança pontualidade e assistência efetiva ao produtor,
por parte da Conab. Criação de
fontes permanentes de recursos para estudos e pesquisas do bioma caatinga,
visando sua preservação e exploração econômica racional, respeitando-se a
preservação e a sustentabilidade. Execução
de programas efetivos de geração de renda para que o sertanejo não transforme o
que resta do bioma Caatinga em meio de vida, de subsistência e em carvão; Criação
de um PAC do sema-rido nordestino, voltado para programas de convivência com a
seca; Criação, pelo Governo Federal, de um Fundo Permanente de Convivência com
a Seca.
Fonte: asaparaiba
Nenhum comentário:
Postar um comentário