O pastor Feliciano, desde que eleito para a presidência da
Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, tem aparecido diariamente
em quase todos os veículos de comunicação. Nestes se reproduzem pérolas do seu
pensamento. Ele, em nome de Deus e da religião, não aceita
pensamentos, comportamentos e atitudes diversos ao que ele prega. Deus é que
assim o quer, segundo ele. Toda diversidade, desde a religiosa, passando pela
moral e sexual, tem que ser combatida, pois está em confronto com o que Deus
determinou. No Brasil e no mundo são inúmeros os felicianos. O pastor Feliciano
é ao mesmo tempo refém e promotor da monocultura que erige sua concepção
religiosa, seus costumes, sua ideologia como os únicos verdadeiros. Todos
devem adotá-los, todos a eles se submeter. Mas, o que tem a ver isso com
o agronegócio? Não sei se o pastor tem alguma atividade ligada ao agronegócio,
nem se tem alguma relação com o campo. O que ele e o agronegócio têm em comum é
a monocultura. O agronegócio aonde chega para se estabelecer, o primeiro que
faz é destruir toda a biodiversidade existente. São varridas as mais diferentes
espécies vegetais cujas riquezas e propriedades ainda pouco ou nada se
conhecem. São afugentadas ou exterminadas as espécies animais daquele habitat.
Toda a explosão de variadas formas de vida é substituída por monótonas
paisagens uniformes de plantações de um mesmo produto. Tudo em nome do
mercado, ao qual tudo deve estar subordinado e que não aceita divergências.
Com a destruição da diversidade, destrói-se o equilíbrio natural
existente. Este equilíbrio é substituído pelo uso cada vez maior dos mais
variados venenos para o controle do que se convencionou chamar de “pragas”. A grande
praga, porém, é a monocultura. Toda monocultura é destruidora da diversidade,
seja a agrícola, seja a cultural, religiosa e ou ideológica. A
monocultura agrícola, para dar lugar a vastas plantações de capim, soja, cana,
eucalipto e outras tem que utilizar da violência das motosserras e dos tratores
para destruir a vegetação presente. Por sua vez, a monocultura religiosa,
cultural, ideológica só consegue se impor pela negação dos valores das culturas
diferentes, pela proibição de suas manifestações, e até pela violência física
contra os que teimam em mantê-las. A diversidade não é tolerada, e por isso
suas expressões são proibidas, execradas, excomungadas. A história registra
até destruição de comunidades e povos inteiros em nome dessa
“monocultura”. Todos os impérios, com raríssimas exceções, se estabeleceram com
a destruição das culturas dos povos conquistados. O próprio cristianismo,
“conquistou” o novo mundo com esta prática. Os povos indígenas de nossa América
podem contar os horrores que sofreram por serem diferentes e assim quererem
permanecer. No mundo agrícola, a monocultura só se garante com o uso
intensivo de venenos e agrotóxicos. A monocultura religiosa, cultural,
ideológica, da qual o pastor Feliciano hoje é um símbolo, só é possível com o
uso de venenos os mais diversos que vão do preconceito, passando pela
intolerância, a discriminação, do etnocentrismo à segregação racial, do
patriarcado à homofobia Entre os defensores da monocultura há os que toleram
ilhas de diversidade para poderem dizer que há respeito e aceitação da
diferença. Estas ilhas, porém, não passam de meros mostruários folclóricos.
Fonte: Secretário da
Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra–CPT
Nenhum comentário:
Postar um comentário