Número de encarcerados passa de meio
milhão de pessoas e superlotação do sistema atinge 43%, segundo estudo global
divulgado hoje
São Paulo – A população carcerária do país
cresceu quase 30% nos últimos cinco anos, aponta o Relatório Mundial sobre
Direitos Humanos, divulgado hoje (21) pela organização não governamental Human
Rights Watch (HRW). O número de adultos encarcerados é superior a meio milhão
de pessoas, o que supera em 43% a capacidade do sistema prisional. Além disso,
20 mil adolescentes cumprem medidas socioeducativas com privação de liberdade.
Os dados destacados no documento são do Sistema Integrado de Informações
Penitenciárias (InfoPen), do Ministério da Justiça. Na avaliação da
entidade, os atrasos no sistema de Justiça contribuem para a superlotação.
Quase 200 mil presos aguardam julgamento. O estado do Piauí tem a maior taxa do
Brasil, onde 66% dos presos são provisórios. Além do número excessivo de
encarcerados, a falta de saneamento facilita a propagação de doenças. A HRW
aponta que o acesso dos presos à assistência médica continua inadequado.
A tortura em delegacias e centros de detenção é considerada um problema crônico
pela organização. O documento relembra o caso de agentes de Segurança Pública
do Paraná que foram denunciados criminalmente por espancamento, sufocamento e
aplicação de choques elétricos a quatro homens. Segundo a denúncia, os
policiais queriam forçá-los a confessar o estupro e o assassinato de uma menina
de 14 anos, em julho do ano passado. “Autoridades responsáveis pela
aplicação da lei que cometem abusos contra presos e detentos raramente são
levados à Justiça”, critica a entidade. A condenação de 48 policiais pela morte
de 111 detentos no presídio do Carandiru, em 1992, é uma exceção destacada pela
HRW. O julgamento, no entanto, ocorreu mais de dez anos após as mortes. A entidade considera positiva a criação do Mecanismo Nacional de
Prevenção e Combate à Tortura, em agosto do ano passado. O mecanismo será
formado por 11 peritos com poderes para fazer visitas periódicas a
estabelecimentos civis e militares nos quais pessoas são privadas de liberdade.
O documento destaca ainda a preocupação expressa pelo Grupo de Trabalho da ONU
sobre Detenção Arbitrária, em março de 2013, em relação a longos períodos de
prisão provisória e à falta de assistência jurídica pública para os detentos.
Esta é a 24ª edição do Relatório Mundial sobre Direitos Humanos, que avalia as
práticas adotadas em mais de 90 países. No capítulo que trata do Brasil, além
das condições carcerárias, são analisadas ainda as mortes de policiais, a
violência de gênero, os direitos trabalhistas, a violência no campo, a
liberdade de expressão e informação, além da política externa do país na área
de direitos humanos.
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